terça-feira, dezembro 30, 2003

Diatribe lacrimosa

Desta janela à minha frente vejo um bambuzal, uma emissora de televisão, alguns pedaços mortos de folha de coqueiro, e uma única flor amarela entra em quadro, balançando como se fosse um relógio para hipnose: agora você chora, Daniela, agora você chora.

Deve ser o único lugar quase a céu aberto onde a temperatura é minimamente civilizada. O dia inteiro entra um cheiro de mato perfumado junto com o vento, o que faz com que eu tenha vontade de parar tudo, fechar os olhos e me deixar abraçar por essa onda verde que chega e limpa o já tão carregado escritório.

Nas paredes vão e voltam os restos de risadas que foram dadas aqui num passado nem tão passado assim. Como o pretérito de uma coisa boa pode ser perfeito, quando acaba de verdade? Deveria ser pretérito imperfeito, uma ação que teve desdobramentos,que não aonteceu uma só vez. Como, aliás, explicar o pretérito perfeito. "É o que foi", e temos dois tempos verbais distintos para designar a mesma coisa, na mesma frase?

Aqui dentro o mundo parece correr num ritmo diferente, o organismo funciona de maneira diversa. Quer entender? Sexta-feira tem cara de sexta-feira, não é? Segunda tem aquele rançozinho de início de semana, e o que explica o cheirinho de sábado de manhã, que de olho fechado e ainda grogue de sono, você sabe certinho que dia é só pela luz?

Em produção não existe dia da semana, existe dia de produção. Quer entender de novo? Terminamos uma maratona de 3 dias gravando, pulando de cidade para cidade, dormindo nada, descansando porra nenhuma. Dia lindo, moldura de foto de família — feliz —, e lá vou eu, me despedindo da entrevistada:

— Obrigada por tudo, desculpa por a gente ocupar sua sexta feira, mas agora você vai poder aproveitar o finalzinho do dia...

Ela sorriu, muito gentilíssima: era quarta-feira.

(Pausa: como um ser humano pendurado por duas lágrimas num abismo, se dá ao luxo de ouvir Travis? Respostas para a Redação, se a Redatora não cortar os pulos antes.)

E aqui não tem dia: é eternamente uma oitava-feira, dia que ainda não sabemos feriado ou útil, ou mágico, ou de fadas, ou whatever. E hoje o dia é uma típica oitava-feira: o sol está morninho, o filho do Mein Direktor está zanzando pela casa com o presente de Natal, estou perigosamente caminhando pela Alameda das Lembranças, e tenho medo que um cachorro da raça Más Recordações venha morder meus calcanhares durante esse passeio.

E aquela flor vagabunda, hibísco amarelo, continua a balançar na minha frente: agora você chora, Daniela, agora você chora.

Acabei ficando.

— Mein Direktor, você não acha que a equipe esta inchada demais para uma coisa dessa dimensão?

Eu e o meu "feeling da puta"... Foi um banzé, e de banzés na minha vida bastam aqueles que eu assino. Uma externa que eu não ia nem levar a fama? Nein, nein... Fiquei na produtora, brincando (?!) de imprimir, recortar e colar etiquetas de fitas, capas de VHS e VCDs.

Coisa que estou fazendo até agora, aliás... Suuuuuuuuper lúdico...

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Pra quem estava vivendo de lucro há mais de dez anos, eu fiquei bem tensa com Dagobila pilotando o bate-lata do Mein Direktor, conduzindo esta que vos fala ao gabinete do Secretário de Comunicaçáo da Prefeitura.

Gente, aquele homem ainda não aprendeu as marchas e já tem carteira de motorista!!!!! Sinal vermelho... Bom, ou ele é daltônico ou ainda não chegou nessa página da cartilha!

E o bacana: quando conseguimos chegar de volta, vivos enfim, ele me abriu um sorriso de orelha a orelha e perguntou se tinha ido bem.

— Foi, Dagobila, foi...
— Puxa, eu estava preocupado de você não me aprovar!


Como é que diz que não passou no exame de rua? Eu nem quero viver pra sempre, mesmo...

segunda-feira, dezembro 29, 2003

Externa de ultima hora, gravar pronunciamento de fim de ano do Governador. Fazendo hora na produtora, cigarro atras de cigarro, e a certeza de que ele vem para passar o Reveillon comigo. Nao, nao uso mais drogas. Limpa de Fanta Uva há quase tres semanas.

Eu so sei que vem. Poderia dizer que a mesma intuicao que me apontou acontecimentos outros esta-me indicando o novo rumo. Poderia dizer que estivemos juntos na noite passada, e ele disse que me amava, que estava de saco cheio de ficar sem mim. Ou até mesmo a verdade: li o horóscopo dele pra hoje, e pra bom entendedor, pingo é letra.

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Uma hipótese

E se ele nao viesse? Que raios eu ia fazer nesta data tao festejada? Viajaria pra onde? Com quem? Fazendo o quê? E voltaria? Quando? Daria "no show" nos dias 7 e 8?

Sim, porque se eu viajar, é para colocar uma pedra definitiva nessa historia toda, e ai nem adianta me esperar na primeira semana de janeiro porque nao tem volta. Triste fim de Policarpo Quaresma.

E se for tomar como base as reviravoltas que a minha vida da nos primeiros 15 dias de janeiro, acho bom ele nao me deixar a toa, esperando os ventos mudarem de rumo. Corre o serio risco de ter-me perdido antes da alvorada do Ano Novo.

domingo, dezembro 28, 2003

Pela altura, o portão da garagem do prédio ao lado um dia vai terminar o seu trajeto em cima de mim.

O que não deixa de ser uma boa idéia...

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A cabeça dói, e não é de ressaca moral. Fiz o meu melhor. Mas, juro, chega uma hora em que dá nos nervos ficar tentando sucesso num assunto que não nos apetece a vitória.

Não, não consegui me apaixonar pelo novo candidato a príncipe.

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Remédio começando a fazer efeito. Dani ficando grogue...

sexta-feira, dezembro 26, 2003

Reedição do côro grego particular. Eu sabia que isso não ia dar certo...

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Daniela, vamos combinar umas regrinhas para o bom viver?

Jamais confunda os nomes das pessoas, jamais fique com um achando que ele é outro (eu volto a falar sobre isso), não compre briga na casa do alheio, não se apaixone pelo seu amigo gay, não dê em cima do outro amigo gay quando o paquera dele estiver por perto, pare na segunda dose de gin tônica, só beba whisky enquanto sua pronúncia do dito cujo ainda for passável: quando virar "visqui", é hora de parar. Se virar "uisgui", vá para casa correndo.

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Não foi uma substituição de afetos, um "qualquer corpo passa a ser o seu". Nananinanão. Fiquei com o ser humano sabendo que ele não era A, C., tampouco P. Fiquei com ele. Mas lá pelas tantas, eu já estava confundindo os nomes, o passado, achando que ele tinha sido casado com uma arquiinimiga...

(entra o côro grego)

— Por que, Daniela, por quê?

Porque, cá entre nós, meus pifões (rá, e há quantos anos você não ouve essa palavra: pifão?) de fim de ano já estão quase institucionalizados. Vale lembrar o do ano passado, que deu no que deu. Ou o do ano retrasado, que foi bacana e compreensível. Coloquemos, pois, as coisas assim: é a catarse de um ano duro, como são todos os anos. É quando eu viro o som da festa, é quando eu instalo um verão particular no recinto. É um rito de passagem para o ano novo, é o expurgo de todas as mazelas, é a celebração da vida.

Pffff, eu nunca vi um porre tão bem justificado!

quarta-feira, dezembro 24, 2003

E sabe qual a pior parte de tudo: é não confiar. Puta que o pariu futebol clube, como dói saber que eu desconfio pelo simples fato de ser uma babaca.

Mais que isso: feio vai ser o meu papel quando todos os is estiverem com pinguinhos, todos os pratos tiverem limpos, e a trouxa de roupa de roupa suja toda lavada.

Pro bem ou pro mal, eu sempre fico com o pior papel quando assumo o lado passional.
Brigamos, Deus e eu. Mais uma vez, acho que a segunda só neste ano, esfreguei meu dedo sujo no nariz celestial, e disse umas verdades pra Ele. Pedi a Deus para acabar com a piada. Chega. Senso de humor tem limite. Humor negro, então, a paciência acaba rapidinho. Acabou. É bom eu não morrer por agora, Deus, que senão você vai se arrepender de me levar para o seu lado direito. Vou passar a eternidade reclamando, você vai ver.

Quis morrer, quis fugir, ameacei comprar passagem de ida pra algum lugar. Só de ida. Nenhuma das músicas que cantarolo para readquirir minha serenidade veio à mente. Usei o ás de espadas da manga sem pudor, prometi o que nunca existiu, dancei e solucei como se fosse sábado. Quis chorar, não tive lágrimas, ouvi conselho que não se dá, joguei tudo pro alto, caiu tudo na minha cabeça, de volta.

Terminei, voltei, terminei, desconfiei, sofri, sofri, doeu, sofri mais um pouco. Marquei passagem aérea para tirar a limpo essa história, desmarquei, dei enter, deletei. Tive insônia, derreti na cama, ouvi a mesma música por mais de duas horas, escrevi longas cartas de amor. Uma, duas, três, e ainda não tinha conseguido concatenar. Fiz lista de itens para a mochila que vai comigo ao encontro dele. Perdi o medo da altura, da instabilidade, do movimento uniformemenete variado. Ou nem tão uniforme assim.

Perdi o chão, flutuei no ar como se fosse pássaro, suei frio, tive febre de verdade, tremi, abstraí e voltei. Coloquei outro no lugar, levei pra festa, apresentei pros amigos. Ouvi a voz do meu valete preferido: "Ele é bobo, né, Dani?", e descartei o novo personagem. Mayday, mayday, dei cheque caução para pagar o telefone, ninguém veio ao meu socorro, estava sozinha de novo, a ilha. Um viajou, o outro ia viajar, o outro é viajandão. Sempre.

Reveillon no Rio cancelado, estou de passagem comprada para outro lugar. Acordei com outra disposição, com outros sinais, com outras frases ditas só pra mim. Volto ao campo de batalha. Quem me conhece sabe que posso ser ré de crimes vários: arrogância, impetuosidade, intempestividade e everything else. Mas para os que estão chegando agora, basta ter em mente que eu nunca, em tempo algum, pude ser acusada de omissão. Nunca desisti de uma boa briga antes de ter um braço, uma perna e o orgulho amputados.

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Anjo da guarda plantonista

E olha só, como a vida é engraçada: a coisa mais carinhosa que chegou em meu auxílio foi o email de um homem que nunca pousou os olhos em mim — eu tampouco nele, embora morra de vontade... —, email que tirou véu por véu dos sete que circundam aquela alma deliciosa. Obrigada, pela segunda vez hoje. Temos, sim, o nosso segredinho. A resposta "valendo" vai por email daqui a pouco.

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A primeira coisa que pensei, quando caiu o mundo, foi: "ainda bem que tomei meu Prozac hoje".

terça-feira, dezembro 23, 2003

Baixei o Cisne Branco!

Se não posso ter o Sino de Bordo, pelo menos o Cisne Branco deslizando num lago azul em noite de lua eu tenho...

Horóscopo para gêmeos

"É claro que todo amor envolve algum risco, mas não há como se defender do que não se conhece ainda..."

Rá, isso não foi escrito para uma geminiana, tenham certeza! Essa defesa é básica: distribuir chutes para todos os lados, acertando alvos móveis e imóveis no caminho, vegetais, animais e minerais. E, voilá!, temos uma geminiana defendida de um amor ataque-surpresa!

Investigando preços de passagens, montando datas, trechos, contas e formas de pagamento: se nada me segurar aqui — e por nada entenda-se tudo — 29 de dezembro estou embarcadno para o Rio.

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Pior que a censura é a auto-censura.

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Johnny, desta vez você é quem disse, num dia, o que eu amarguei e não disse no dia seguinte. Mas queria ter feito, e o texto era quase exatamente o mesmo!

"q ele foi irresponsável em perceber q estava me cativando e fazendo disso um alimento ao seu ego"

A diferença é que eu continuo no páreo, idiota que se apaixona cada dia um pouco mais, cada hora mais intensamente, cada vez mais enredada na teia que eu mesma teci. Culpada eu, que ainda acredito que pode ser. Culpado ele, que me faz acreditar que agora sim.

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Holden, mais forte que a vontade de ir ao seu aniversário foi a exaustão de sair de madrugada do trabalho e saber que no dia seguinte, cedo, eu estaria na ativa de novo. Desculpa, eu estava lá em espírito (de porco).

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— Dani, se você não levantar para comer, eu chamo o rabecão.

Buenas, lá vou eu, escorrendo da cama qual mercúrio, em direção à cozinha, para dar cabo da minha ração de pães de queijo. Alarmista essa minha irmã, só por que dormi da noite de sábado até a manhã de segunda, com uma pausa no domingo para comer, e levei a segunda quase inteira na cama? Isso lá é motivo para tanto alarde?

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Por isso vou crescer frustrada...

— Mãe, deixa eu instalar o Sino de Bordo no computador?
— NÃO!


Pra quem quiser, tem aqui:

"No período compreendido entre os toques de alvorada (06h) e de silêncio (22h), os quartos e seus intervalos são marcados por batidas do Sino de Bordo, feitas ao fim de cada meia hora."

sexta-feira, dezembro 19, 2003

"OOOOOOOOOOH, eu te amo, meu amor!"

E assim eu entro na sala, com o Tudo de Bom Magal cantando a plenos pulmões. Numa pan invertida (para os não-iniciados: mova a cabeça da direita para a esquerda), a cena:

Meu coordenador de produção em pé no arquivo de metal, passando a mão no corpo de maneira lasciva, rebolando como em dança do ventre e com a outra mão apontando para o trenzinho embaixo.

Embaixo: O editor sério, genro da senhora mais fofa da história, homem recatado, rebolando como um drag queen de filme pornô. Logo atrás, a motorista da van que atende à empresa, uma senhora de cabelos cacheados, encaixada no editor, com o braço estendido pro alto. Fechando o trem, a produtora da casa, que havia soltado os cabelos e sacolejava qual uma cigana encarnada. Encabeçando o trem, locomotiva assumida, o meu maquiador preferido, empurrando a pelve para frente e para trás, num simulacro de sexo com o vento.

"O meu sangue ferve por você!"

Acaba a música, desce o coordenador do arquivo, desengata-se o trem, o som é baixado, tudo volta à normalidade.

Everything but me, que levei bem uns cinco minutos rindo. Juro que ontem eu entendi porque desisti do Direito para abraçar a área de comunicação.

quarta-feira, dezembro 17, 2003

Homens são estranhos

Homens somem, depois reaparecem com a conversa mais errada e furada do mundo. Homens nos tratam como se o sol nascesse e morresse atrás de nós, para a seguir nos dar aquele abraço de padeiro — "Obrigada, volte sempre!". Eles pedem beijo e depois recuam como se fossem os nossos melhores amigos.

EU NÃO QUERO MELHORES AMIGOS!

Eu quero a mão na minha, a barba por fazer espetando o meu rosto; eu quero o beijo rude, a declaração angustiada de "eu tentei não gostar de você, velho, mas não deu". Quero a mão da posse na minha perna, o olhar dentro do meu, a cumplicidade velada. Quero outra noite, e outra, e outra, e outro dia...

terça-feira, dezembro 16, 2003

Esse é um dia que responde o meu prazer maior em estar fora de casa do que dentro dela.

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Não foi porque a vida é tediosa que não escrevi esses dias. Pelo contrário. Seria injusto se eu falasse do sábado sem tanger a sexta. O que seria do dia de sábado se não fosse a noite de sexta? Como seria o meu domingo se não fosse a noite de sábado?

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Matt chega dia 30!!!!!!! Finalmente aquele texano turrão resolveu assumir sua brasilidade nagô! Meus dias de intérprete estão só começando!

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Orgulho

Meu amigo querido, companheiro de 30 e tantos dias entre céu e mar, torcedor do Barça. Amigo que roubou uns beijos, uns carinhos, que dividiu comigo a trilha sonora do seu filme recém montado. Trilha doce, doce como foram as horas com ele, como os olhos verdescastanhos, como foi o último abraço.




DELTA, un film d'Orriol Ferrer, foi lançado semana passada. Como estou orgulhosa desse homem, e do David Omedes, seu diretor de fotografia!

E que saudades, que saudades!

sexta-feira, dezembro 12, 2003

Conversa via Messenger

Insomnia diz:
triste, ainda, mas bem.

Lucky (Recuperado) diz:
pq?

Insomnia diz:
jamais saberemos. aquela tristeza que baixou ontem, antes de sair da X, e que acordou comigo. Acho que o cheiro de desistência no ar...

Insomnia diz:
mas convenhamos que ouvir guilherme arantes deve contribuir com esse estado de espirito (de porco)

Lucky (Recuperado) diz:
com certeza

Lucky (Recuperado) diz:
tire esse espirito obsessor do seu aparelho de som

Lucky (Recuperado) diz:
A G O R A

Insomnia diz:
*gargalhadas, muitas!*
Fatos reais, creiam-me!

Diz a lenda que uma pessoa muito próxima minha, que pediu para não se identificar, saiu para ir ao borracheiro agora de manhã. Deixou o pneu furado, fizeram o serviço, enfiaram o pneu no carro, bom, dia!

15 minutos depois este ser humano descobriu que havia esquecido os sapatos... NA RUA EM FRENTE AO BORRACHEIRO!

Na boa, se esse organismo me ligar, eu nego que nos conhecemos.

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O pior não é esquecer: é voltar pra pegar. Que vergonha, meu Jesus, que vergonha.

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Resolvi não incorporar o arquétipo do palhaço. Eu ia tatuar um palhaço nas costelas. De sofrimento estou cansada, e todos sabem que palhaço é um triste que finge a alegria que deveras sente.

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"U cannot quit me so quickly
There's no hope in U for me..."


Matthews
Minha amiga querida, companheira de tintas e produções milagrosas, diretora das melhores, PROFISSIONAL excelente.

Amigos em comum, uma vida inteira de encontros felizes, passamos pelo inferno juntas, e só assim somos fortes. Com ela volto a ser a estagiária de sete anos atrás, falo dos fracassos dos meus regimes, dos meus amores, dos meus sucessos. Muito tempo sem um encontro social, e mesmo assim parece que nos vimos ontem.

Começamos em TV juntas, diferença de um mês ou dois da minha entrada para a dela. Ela foi minha cúmplice, minha companheira de resmungos, minha dupla de direção de externas, cenógrafa, psicologa. Cada uma para um canto, eu viajei, ela ficou e nunca mais trabalhamos juntas.

E foi com ela o meu "jantar" de hoje. Bistrô, Sheu e eu a atazanar os amigos via celular, exibindo pro mundo o polimento que nossa amizade ganhou hoje. Um passeio pela cidade, gargalhadas de engasgar, vamos resgatar o namorado dela da deprê, voltamos os três nos prometendo maior freqüência, maior assiduidade.

A gente nunca precisou disso, minha amiga querida. Se vier, é lucro total. Se não vier, eu sei que você está ao alcance da mão, do telefone, de um berro de socorro. O diabo que amassou o pão que comemos juntas pediu aposentadoria por invalidez provocada pelo excesso de trabalho. Agora é a nossa hora!

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E ela me devolveu os sonhos que esqueci em algum lugar entre novembro e dezembro do ano passado.Voltei levitando pra casa, feliz, indecentemente feliz.

quinta-feira, dezembro 11, 2003

Vida que corre em círculos, todo dia o mesmo dia.

Acordo, e a noite não foi suficiente. Estômago atípico, parece que engoli um homem peludo. Tony Ramos. Ou uma mamona, daquelas que a gente usava para fazer guerrinha contra a facção inimiga da rua de cima.

Sensação estranha, não é paixão. Paixão eu acho que ainda conheço, é um friozinho bom... Azia não é, embora pareça muito com paixão. É como se eu tivesse comido um gato vivo à força: ele cravou as unhas na minha garganta, por dentro, e desceu rasgando.

Marcas por dentro, marcas por fora, marcas da desistência. Pra mim chega. Game Over. Vou faxinar esses relacionamentos empoeirados, jogar fora as figurinhas repetidas, rasgar o álbum velho e comprar um novinho. Chega de reciclagem do amor que está com a data de validade vencida. Faz mal, dá efeito colateral, a gente acaba achando que todos sempre serão a mesma merda amarga e inócua.

Quero acordar para um dia diferente, diferente no sentir, não no agir. Quero acordar e achar o anil uma cor linda, e não ficar torcendo para que o cinza-chumbo venha fazer companhia para essa alma Flicts. Quero parar de procurar, quero ser achada, cortejada, mimada. Chega de ser a dominadora, a que tudo resolve, a que toma a frente, toma um fora, toma vergonha e toma chá-de-sumiço depois. Quero o homem certo batendo na minha porta, me levando ao cinema. Prometo que até pipoca eu como, que choro de verdade se for drama, que escondo o rosto no braço dele com medo do monstro da tela.

Quero telefonemas no meio da reunião chata, para eu poder fazer aquela cara de "é o cliente, desculpem", e sair para fumar um cigarro e dividir o meu tédio com uma alma companheira. Quero colocar o colchão na varanda e ficar olhando o céu e conversando baixinho, abraçada, sem a obrigação do sexo por tabela. Quero dormir abraçada, enroscar as pernas em pernas outras, ver uma gota de lua escorregar costas abaixo.

Velar o sono dele, acordar com beijos, tomar banho junto, café da manhã na cama, jornal de domingo espalhado, cada qual com o seu caderno preferido. Quero rir de piadas secretas, quero ser cúmplice, quero dividir os coqueiros da minha ilha com o homem certo. Quero mostrar o meu mundo, quero rir, quero beijo com sabor conhecido, calmo.

Quero bordar um nome de homem na minha pele, seu rosto na memória; quero gravar a sua voz na minha secretária eletrônica e ouvir todas as vezes que der saudade.

Quero ir. Mas quero, sobretudo, um motivo para voltar.

quarta-feira, dezembro 10, 2003

Retificando

Box "Expediente", 4ª linha de baixo para cima.

Onde lê-se "Tatuada 7 quase 8 vezes", ler-se-á, doravante

TATUADA 8 VEZES!

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Digamos que agora eu tenha a visão além do alcance...

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O que estou fazendo acordada a essa hora? Insônia, filhinho, pura e simples...

segunda-feira, dezembro 08, 2003

Desabafo

De um vivente, colega de trabalho:

— Fulano é tão burro que se colocar um trinco na barriga vira uma porta!

Relato verídico

O pai desta que vos fala trabalha num centro espírita que se chama "Amar". Parou um gringo na porta, viu o letreiro e se empolgou:

— É uma casa de encontros!

O forasteiro abriu a porta, passou os olhos pela tropa de lá e deixou os ombros tombarem, desanimado:

— Mas só tem mulher feia aqui!

Papai chega às lágrimas de riso contando isso.

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Finalmente uma segunda-feira em casa! Aguardando "A Turma do Pato Bill" ansiosamente.

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Comprei as rodinhas dos patins. Erradas. Uma veio com defeito. Mais três anos até tomar vergonha na cara e trocar.

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Droga, não é o Pato Bill, é o Bob Sponja.

sábado, dezembro 06, 2003

Eram mais de duas da manhã. Muito mais. Era pra lá de três, quase quatro. A menina subiu uma rampa e ganhou os céus. Deitou no chão da garagem, perdeu a cabeça nas estrelas.

Crianças pertinentes, adultos nem tanto, e a noite começara bem. Noite que apontara com o dia claro, quase prevendo que a lua faria papel igual ao do sol. Menina boba, apaixonada por um, beijando o outro, sonhando com os três. Ou quatro. Eram pra lá de três. Quase quatro.

Perdeu a cabeça entre as estrelas, alçou vôo, deixou o corpo quietinho, deitado no concreto, olhando uma antena de TV hipnótica. E foi, movida pela felicidade descabida, girando nos braços do vento, fazendo pacto de amor eterno com cada supernova que cruzou o caminho.

Amores efêmeros, meus e os das supernovas, que ao menor sinal de instabilidade, explodem. Como eu, que caminho por cima de uma lâmina fina, rasgando os pés, vendo o sangue tingir o aço polido, vermelho sobre prata. Eu, que arrisco, que jogo, menina que deita no chão e deixa que a alma faça enfim o que o corpo sonhou o dia inteiro.

E entre as lembranças de um beijo, ou dois — pra lá de três, quase quatro — e de vários abraços — desses ela perdeu a conta! — o corpo ficou lá, estendido como roupa quarando. Quarando na lua, lua de São Jorge. Eu estou vestida com as roupas e as armas de Jorge, para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem, tenham mãos e não me toquem, tenham olhos e não me vejam, e que nem em pensamento eles possam me fazer mal.

Engraçado como quarar roupa é ao sol, e que fiquemos moreninhos fazendo a mesma coisa. Hora de voltar, mas estava tão fresquinho aqui em cima... Branqueando a alma embaixo da lua que não vejo, matando as saudades de quem está tão perto e tão longe, saboreando o beijo que nunca vem, o abraço que veio e foi, o afago que chegou com um ano de delay.

É tarde. Tarde para que possamos ser felizes juntos. Cada um na sua, felizes pela metade, two losts souls swimming in a fishbowl, running over the same old ground. É tarde para que possamos realizar aquilo a que fomos destinados. É tarde para que eu seja mãe dos seus filhos, é tarde para que ele durma abraçado comigo.

São mais de quatro. Quase cinco. Vou sozinha espanar a poeira do corpo, sacudir as estrelinhas de chão da saia preta cor-de-universo. Vou trazer o Cosmo de volta para as minhas mãos, ao invés de deixá-lo refletido nos meus olhos apenas. É tarde, e ainda tenho uma boa briga pela frente. E tenho meus quatro, quase cinco, para me embalar no pouco sono que está-me reservado para esta noitedia que vem daqui a pouco.

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Porque hoje é sábado, ele terá seus filhos, eu terei os meus, e talvez ele até esteja presente no bar mitzvah do meu primeiro guri. Ele será sempre meu, e eu serei sempre sua. Sempre será ele o meu companheiro de caminhada, mão amiga que vai segurar a minha esfolada depois da queda, ele que vai secar as lagriminhas que farão trilha limpa na pele suja de criança. No pescoço dele vou esconder o meu rosto e soluçar dores de amores outros. E nossos.

Condeno a vida a correr em torno de nós dois, pelo crime de ter-nos jogado para lados opostos durante todo o tempo.

quinta-feira, dezembro 04, 2003

Alguém podia avisar ao meu corpo que ele podia ter dormido até as três da tarde? Que não tinha a menor necessidade de me fazer levantar às 7?

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O que mais eu podia pedir?

Beijos e abraços em três dos meus cinco fotógrafos preferidos no mesmo dia. Cascata de fogos de artifício que foram encomendados só pra comemorar o primeiro dia do resto da minha vida. Respeito da minha equipe. Um final de trabalho perfeito. Saudade de quem está longe, mas saudade boa. Cerveja gelada. Poeira de estrada. Trabalhar entre homens. Receber uma proposta para ter filhos de olhos azuis. Duas horas entre céu e mar, de gaiata num dream team, depois de o meu trabalho ter acabado. Luz azul de celular, fazendo de HMI a tiracolo. Promessa de um duelo entre um cafezinho e um "chopps".

Do-in na mão, feito pela gerente-rabugenta-ma-non-troppo da empresa que encomendou o documentário. Dor de cabeça que voa, mão que dói, alma que respira enfim. Olhos que soltam estrelas, estrelas que ganham corações. Olhos outros que foram meus, olhos fixos nas estrelas que cascateavam dos meus olhos; olhos outros que se apaixonaram pelos meus.

Dia em que descobri que amo todos os homens da minha vida. Amantes, amigos, pretendentes, profissionais: homens da minha vida, escolhidos a dedo, a quem dedico amores tão diversos quanto eles são entre si. Dia de acontecer tudo, e de nada acontecer que pudesse tornar fosco o brilho do sol que nos abraçou a todos, mantendo juntos os que a vida — e uma ou outra corrente de vento — insiste em manter a uma distância segura.

segunda-feira, dezembro 01, 2003

Pavilhão 8

Jean
Jorge
Dadal
Pedrinho
Bola
Alessandro
Domingos
Daniela

Isso não é uma equipe: é uma quadrilha!

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Almoço

Um desses acima, para a garçonete:

— Eu queria um lombo de peixe!

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O pré-beijo assim vai ficar. No pré. Em definitivo, ele não vale tanto a ponto de me fazer pagar o preço completo por uma noite apenas e nada mais. E eu preciso me apaixonar de verdade. Falando sério, entre nós dois tinha que haver mais sentimento. Ou eu tinha que ter mais sentimento...

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Ou as pessoas me odeiam, ou acreditam demais na força do milagre da Nossa Senhora das Produtoras. Como é que me passam uma pauta bronca dessa, logo eu, recém-saída de um traumático filme? Mas não me queixo em voz alta: está valendo a pena, apesar de tudo.

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Dei de presente para a BR uma locação ABSURDA de linda, hoje. Espero que eles levem isso em conta quando eu for pedir patrocínio para o meu longa...

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E o pior: quando tocou "Estou pensando em você", eu não tinha ninguém razoável em quem pensar.

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Você reparou o razoável, né? Explico: alguém razoável é um cara com potencial para namorado, que preencha todos os itens da minha lista de "Homem Ideal". Sim, porque ainda não aprovei nenhum dos figurantes que mandaram para eu fazer o casting. Queria aprovar uns três ou quatro, mas isso foge dos meus planos de "Daniela 2004: a rosetagem acabou!".

Um, um só, e ser fiel. Essa é a minha meta.

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Fiel, sim, mas não enquanto aquele outro beijar divinamente!

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Puta que os pariu Futebol clube! Como tem gente incompetente nesse mundo!