sexta-feira, outubro 31, 2008

O pulso

Dor de estômago. Labirintite, melancolia, e o que um chute errado com o pé de dedo quebrado não fizer, meu nego, nada mais faz.

Mas o pulso ainda pulsa.

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Algas, você está PROIBIDA de voltar neste blog! Debochada...

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Ouvindo samba para ver se melhor o nível da discussão (aparte: samba, caro Leitor, NÃO É PAGODE como você o conhece), e lá vem a Mart'nália com Res't la Maloya.

Pronto, triste fim de Policarpo Quaresma.

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É isso! Falta praia! Falta praia nesta vidinha ordinária! Vou pegar meu baldinho, minhas pás, meu Sundown Kids e caminhar em direção ao pôr-do-sol!

Opino depois da fotossíntese.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Em tempo

Era disso que eu estava falando:

PEQUENAS EPIFANIAS (Caio Fernando Abreu)

Dois ou três almoços, uns silêncios.
Fragmentos disso que chamamos de “minha vida”.


Há alguns dias, Deus – ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus –, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.
Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer – eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal – não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de “minha vida”. Outros fragmentos, daquela “outra vida”. De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.
Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.
Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector – Tentação – na cabeça estonteada de encanto: “Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível”. Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.
De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou – descuidado, também – em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.
Era isso – aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.

Clarices e Caiices

Virando o Sitemeter do avesso,descobri que chegaram aqui procurando por um trecho do Caio Fernando Abreu. Fui reler, e como ele puxa sempre mais uma crônica, me perdi pelos labirintos daquele coração tortuoso.

Quando consegui colocar parte da cabeça para fora, vi que no afã de respirar, tinha trazido também fragmentos de Clarice Liuspector. Não me leve à mal, Leitor Caríssimo. Não sou daquelas — daquelas, você sabe, que idolatram Lispector —, não sou radical, e nem sempre tenho tempo, paciência, ou ciência, mesmo, para acessar esses mais obscuros reconditos da alma.

Mas isso, além da acurada descrição do CFA, isso da Clarice me abateu:

Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector – Tentação – na cabeça estonteada de encanto: “Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível”. Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.


Note, prezado Visitante, que nem cito Clarice ipsis literis. Cito Caio falando dela. Tenho medo de novamente mergulhar, dessa vez num universo clariciano, e descobrir que, como no mar do Caio, de lá tamém não se volta facilmente — e jamais incólume.

E é isso. Não só o Caio, mas os ruivos basset e menina. Não só o prosaico, mas o amor que não vingou, e também o menino de barba azul e a menina antes ruiva. Não só as palavras que foram escritas, mas também as letras que ficaram suspensas, por dizer, perdidas num tempo menos delicado e pouco gentil.

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Pronto. Abri uma cerveja — raridade, já nunca bebo sozinha —, servi meio copo, coloquei o resto da lata do congelador, e voltei a esticar as pernas sobre a CPU. Ainda tenho alguma dor de cabeça, e dois dias sem remédio fizeram meu labirinto enlouquecer de novo. Azar, quem queria equilibrio, mesmo?

O mesmo remédio mantém dois tipos de equilibrio: emocional e físico. Nem preciso dizer que ambos andam em falta. Talvez por isso eu venha oscilando tanto entre o sétimo e o quinto círculos do inferno.

Chega. Vou deixar o resto da cerveja para amanhã a noite. Agora é hora de banho, Carlos Eduardo Novaes e cama.

Pela atenção, muito obrigada.

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Hoje eu mataria por um cigarro.

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Saco de papel na cabeça! Na minha!


Essa Diana Krall é estúpida de linda.

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No restaurante


A Lourinha se enturmou com "os amiguinhos". E brincam, correm, vão pro parquinho. Lá pelas tantas, vem ela, e pergunta baixinho no meu ouvido:

— Mamãe, posso trazer o amiguinho para sentar aqui na mesa?
— Claro, minha filha!

Volta ela com um molequinho lindo de uns cinco anos, com cara de rapazinho.

— Oi, você não quer sentar?
— Nãaaaaaaaaaao, só vim aqui para conhecer a mãe dela. "Ela" era a minha filha.

Oi, eu sou daniela, tenho 32 anos e tenho um genro.

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Enquanto isso, a filha de 1 ano da minha amiga transbordava charme para cima do guri na mesa ao lado da nossa.

As mães das duas Messalinas? Cochilando por cima de mariscos e bolinhos de queijo.

Decadence sans elegance.

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Nota mental: retocar as raízes do cabelo quando convidada para o Programa (argh) do Jô.

quarta-feira, outubro 29, 2008

Pés no chão

E no dia em que estou anormalmente sensível, enfim ele me acena com as lentes de contato. Me vesti de festa, coloquei a alma para pegar vento, calcei sandalinhas e voei pro consultório dele.

E as lentes não ficaram boas. O lado esquerdo veio completamente fora dos parâmetros, e lá se vão mais três semanas até chegarem as novas. Eu, que não sou de chorar tão fácil assim, quase tiro o dedinho do moleque do dique, e deixo romper a barragem de lagriminhas.

Voltei arrastando uma bola de ferro nos pés, além de uma nuvem na cabeça. Triste, num dia que começou tão, tão bem.

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Teclado em cima da CPU, monitor em cima da cadeira, distante de mim um bom metro. Mouse apoiado na poltrona onde estou sentada.

Toda errada, mas tenho internet em casa.

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Mulherzices

Queria muito que hoje fosse ontem.

Receita de bolo

Se eu tivese verg9onha na cara, já tinha fotogrsfado a casa nova e mandado para o Moço, por exemplo, e para mais uma ou duas almas distantes.

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O sol sempre dissolve as palavras que a noite tão laboriosamente escreve no meu inconsciente. A poesia se esconde sob a primeira pincelada de rosa do dia. O que sobra é a rudeza e o vocabulário escasso.

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Eu, empresária


Tomara que o projeto seja aprovado. Não gostaria de saber que fiquei fritando em cima de um trabalho que não vai render um centavo.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Casa Nova

Parei a busca, e o apartamento quase veio até mim. Mudei segunda-feira. Estou sem internet ainda. Estou feliz.

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Tenho sonhado com um "ele" que não é exatamente o "ele".

É meio obscuro, sim, mas não tenho a menor pretensão de dissecar isso aqui. É só para fins de registro.

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Minha casa é linda.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Dona Nilda Spencer


Lábios que Beijei
(roubada do arquivo de A Tarde)

Eu nunca consegui chamá-la pelo prenome. Para mim, desde o primeiro dia, e até hoje, não o último, mas sim o próximo ato, ela era Dona Nilda. Ela entrou na minha vida com o vigor que os 75 anos não lhe haviam tirado. A voz era segura, sem as variações trêmulas típicas da sua idade cronológica.

O dia era comum; a pauta, idem. Eu era jovem demais para estar ali. Aos 22 anos, todos os dias são verão, e merecem ser vividos na praia. Mas eu ainda acreditava — e talvez isso separe as crianças dos adultos —, e levava muito a sério aquela carreira recém-iniciada.

O teatro era fresquinho, escuro, com um confortante cheirinho de bolor. Acho que só eu associo à proteção o cheiro do bolor dos carpetes de um teatro não muito novo. A missão era simples: um trecho da peça, os atores convidando os telespectadores para o teatro, e fim.

Enquanto conversava, as mãos maquiavam o rosto para criar as nuances do personagem. Eu a vi desaparecer camada por camada, enquanto nascia uma mulher de olhar duro, roupas austeras, com um ar de crueldade. Câmera armada, sentei quietinha, e tive, naqueles dez minutos, o privilégio que pouquíssimos tiveram: Dona Nilda e Wilson Mello atuando para uma platéia de duas. Foi com "Lábios que Beijei" que aprendi que chorar no trabalho só fazia de mim uma pessoa melhor.

Nunca, em tempo algum, esqueci de Wilson olhando para um céu que só ele via, cantarolando uma versão ligeiramente esclerosada de Moonriver, enquanto Dona Nilda endurecia o olhar da personagem. Chorei, chorei muito, e não chorei só: Ana, assessora de imprensa do espetáculo, terminou a gravação com o rosto tão molhado quanto o meu.

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Hoje, a cada vez que escrevi sobre ela — e em algum momento, relembrei o que era escrever à mão com uma fúria que andou perdida —, chorei como em "Lábios que Beijei". Chorei como choro agora. Não, não éramos íntimas, nem próximas, tampouco amigas. Duvido que nesses últimos dez anos ela tenha lembrado de mim, a repórter pirralha, que ainda com o rosto molhado, passou os braços pelo seu ombro e agradeceu por aquela que seria uma das melhores matérias da minha vida.

Não chorei hoje pela sua morte, mesmo porque ando bem convicta de que o espetáculo continua em outros palcos. Choro porque nunca mais ninguém vai ter a oportunidade de levar para vida a lição transformadora que ela me proporcionou.

Nunca mais um repórter guri vai poder aprender que chorar numa matéria nos devolve a humanidade que o jornalismo rouba.

Dona Nilda, merda! Merda pra senhora!

quarta-feira, outubro 01, 2008

Então...

Então eu chutei o pau da barraca, digo, do apartamento, e mandei a corretora agradecer à proprietária. Peguei a documentação de volta, bati palmas e voei. Como praga de puta D*us escuta, até hoje ele está lá, mofando na seção de classificados do jornal, semana a semana, com o preço cada vez mais baixo.

Azar o de quem, mesmo? Uma dica: EU não estou morando embaixo da ponte...

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Então eu ainda sou uma ermitã sem-educação, que some da vida social, da vida dos amigos, da vida. Na mesma semana eu perdi as lentes de contato (Oi? Quinze graus de miopia? Uma doença que piora HORRORES a acuidade?), as estribeiras, a vergonha na cara, e ainda fiz ski-dedo na escadaria da buatchy. Sóbria. De verdade.

O saldo é uma irritação de 8 pontos na escala Richter, um dedo do pé quebrado (passadas três semanas ele ainda é ruim de mexer e dói. Quebrou, né?), um pouco de remorso e auto-exílio.

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Então a saga do apartamento continuará, mas não sei quando. Perdi muito do tesão de ir visitar lugares, bater na parede, puxar descarga, ver se janelas abrem, yadda, yadda, yadda. Cansei um tanto de investir energia demais num assunto, para uma filha da puta ficar me cozinhando por pura conveniência.

Lá de onde eu venho, no meu planeta, as pessoas entendem que o direito de um vai até onde começa o direito do outro. E o melhor: as pessoas lá RESPEITAM isso. Aqui... Bom aqui, o seu direito vai até onde eu quiser que vá, porque o meu é comprido e grosso, e se você falar muito, vou enfiá-lo na sua via de mão única.

*suspiro*

Eu já fui mais educada.

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Então vou ler na cama, que é lugar quente, porque amanhã tem zilhares de coisas a resolver, a fazer e a trabalhar.

Ai, como sou importante... / ironia

Gosto eu discuto, sim

Eu não entendo gente que odeia animais. Sério.

— Eu odeio gato!
— Eu odeio cachorro!
— Eu odeio...


Você pode não ter lá muitas afinidades, pode não ser íntimo, pode não concordar — eu não concordo com pássaros presos em gaiola, acho o fim. Tem asa é pra voar, não pra ficar pulando de poleiro em poleiro.

Eu entendo o medo — eu tenho PA-VOR de bichos de pena, exceção para patos, que adoro, mas eles lá, eu cá; e avestruzes, das quais também uma distância segura (são lindas, as brutas, mas burrinhas...). Eu respeito todas as vertentes, menos o ódio. Odiar um tipo de bicho depõe contra o caráter. Não estou dizendo que amar é a praxe, mas odiar traz uma vibe muito pesada.

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Idem, idem comunidades do orkut: Odeio isso, odeio fulano, odeio... Nojinho! É muita rebeldia sem causa, é muita adolescência concentrada

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Esse era um post para o dia 21 de setembro. Como o blogger me sacaneou — e mais uma vez depois disso —, deixei o que sobrou nos rascunhos, mesmo, sem saco para voltar.

Voltamos, pelo menos hoje, à programação de sempre.