segunda-feira, dezembro 29, 2008

Reminiscências

Eu sou destra, muito míope, com os olhos deformados. Acredito em amor eterno, em Deus, embora eventualmente questione um deles — e nunca o amor eterno. Leio Sidney Sheldon, Stephen King, mas cito Rousseau com uma propriedade insuspeita. Acho que casaria com o Robert Rodriguez, mas como sustentar uma relação em que o amor vem somente da admiração?

Sou tirana, sim. Sou ranheta, mal-humorada eventual, e em falando em hífen, certamente levarei muito tempo para me adaptar à nova ortografia. Tive um ou dois amores, mas o melhor é o que vivo agora. Minha filha é inteligentíssima, mas ainda assim é criança, e sou tradicionalíssima no quesito educação. Passei a gostar de cor-de-rosa depois dela, e hoje metade das minhas coisas são nessa cor.

Sou o cão trabalhando, mulherzinha quando na vida civil. Não sei fazer nada além de televisão, mas acho que seria excelente chef. Ou contadora, embora tenha pouca aptidão para os números. Tinha parado de fumar, voltei, e não me critique, que eu não te dei esse espaço. Gosto e acabou. Queria acampar, mas acho que não tenho mais saco para banhos frios e chãos duros.

Descobri que adoro ser Amélia, e nisso já vão quase nove anos de cozinha para marmanjos — 24 de cozinha para a geral —, além de uma ligeira vibe gueixa. Choro de rir com "Curious George", enquanto "Princesas" me aborrece até as lágrimas. Dependo de óculos escuros, cozinho bem, escrevo melhor quando estou sofrendo (e quem não é assim?), sou chegada numa pornografia. Não, nada light.

Tomei uma lata e meia de Smirnoff ice, estou feliz porque amanhã ele chega, feliz porque saí com a Ká, feliz porque... porque feliz, ora. Feliz.

Cupido insano

Dias estranhos, de reencontros estranhos, de descobertas acachapantes, e ah, se não fosse ele o meu amor... pelo jeito 2008 resolveu me desencalhar mesmo. Mas nem dei muita corda, depois que descobri que a intenção não era só um intercâmbio de informações e sorrisos felizes.

Engraçado que enquanto eu estava contribuindo para o Sindicato das Piriguetes (SindiPiri), ninguém queria me tirar daquela vida. Aí aparece um doido que se apaixona por mim de maneira fulminante — e eu por ele, só que descobri isso dez minutos antes dele —, me transforma numa respeitável namorada, e aí aparece meio mundo que quer andar de mãos dadas comigo no Shopping Barra.

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A noiva estava linda, o noivo era a tradução da felicidade, o vestido da mãe da noiva era deslumbrante, e de modo geral, tudo funcionou bem. Muita gente feliz espalhada pelo salão, e festa boa é aquela em que os noivos aproveitam cada minuto.

Foi bonito de se ver, de contemplar um início tão cheio de bons augúrios, e os dois são tão lindinhos, tão do bem, que a única coisa que a gente consegue desejar é que eles tenham 70 anos de casamento exatamente do jeito que ele começou.

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Falta tão pouco pra ele voltar, e ao mesmo tempo, parece que ainda falta um ano. Tenho zilhares de coisas pra fazer nesses dois dias, para poder tirar uma folga a partir de terça a noite. Foram dias pavorosos sem ele, com toda a instabilidade da rede telefônica, com as raras informações sobre fatos, e não sobre sentimentos.

Não, Leitor, não sou uma neurótica que pede detalhes do talher do jantar de Natal, mas pera lá: uma ou outra informaçãozinha mais detalhada, um carinhozinho telefônico, isso cai mal? Está sendo horrível namorar meu telefone, só, e ainda assim não saber as agruras pelas quais ele está passando lá. Minha bola de cristal está rachada, e não consigo adivinhar as coisas.

Mas tudo se resolve, tudo se resolveu, e daqui a pouco mais de 24 horas, ele volta a pisar os pés em solo da soterópolis, para felicidade geral da Nação. Mesmo que seja só a nação do meu território, o povo do país de 85 metros quadrados onde habito.

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Ando com idéinhas novas de conhecer leitoras. Ana e Lua, vocês já são parte do blog, pô! O que pensam da idéia? Alguém se habilita?

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Por que raios o Spa Salute me manda emails de Feliz Ano Novo? Esse povo surta, né?

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quinta-feira, dezembro 25, 2008

Diatribe

O que é essa blusa da Rita Lee no Especial do Roberto Carlos?

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Não é solidão. É estar sozinha. Meia garrafa de vinho, duas latas de cerveja, dois maços de cigarro e Roberto Carlos.

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Mamãe e eu

— Liga, Dani, que começou Roberto Carlos!
— Eu não, mãe, que vou acabar dando cotoveladas em velhinhas pra ganhar rosas ao fim do show...

Liguei, claro.

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Falando em Leitora querida...
Lua, cadê você?

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Maysa na TV

E eu prevejo um rio de lágrimas. Minhas, claro.

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Estou com comichões para escrever no outro blog. Abandonado, pobrecito, desde a última paixão. Sim, é blog unicamente passional. Deixa o vinho acabar para vir o furor das letras me atropelando, e aí sento e escrevo mais um texto apaixonado, mais uma declaração de amor.

Desta vez, valendo.

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Talvez o meu mau humor seja motivado pelo sol. Não que eu tenha uma vibe vampira, longe de mim. mas enquanto teve sol pendurado no céu, eu estive azeda. Dormi dormi, dormi, sofri e suei, e quando o sol se pôs, me arrumei linda para ir filar bóia na casa da mamãe.

Então o humor já estava melhor, e consegui trocar palavras e carinhos com outros humanos.

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Sou uma ilha de azedume cercada de amor por todos os lados.

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Quanto tempo
Será que demora
Um mês
Pra passar


Porque vou te dizer: parece um mês, viu?

Nos dissemos "boa viagem" vezes demais nos últimos dias.

Loucura

Loucura é fazer as coisas da mesma forma repetidamente e esperar resultados diferentes.

(Einstein)

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O inferno é a repetição.

(S. King)


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De novo.

Eu ia começar o texto de hoje no mais fúnebre clima. Não, não estou exatamente morrendo de felicidade, e não, não tenho nenhum motivo que faça valer a pena essa melancolia desajustada.

Também não faço parte daquela cepa de gente que deprime no natal. Não, não senhor, tenho preguiça de deprimir numa festa de aniversário, seja minha, seja de Jesus.

Estou aborrecida, e só. Bom, não é bem "e só". Estou a cuspir marimbondos, estou a dormir largamente, estou sem dizer uma palavra desde as oito da manhã (e antes disso não as usei muito). Desliguei o celular até agora há pouco, e só liguei de novo porque minha cria loura está na casa do pai — e sabe como é: filho embaixo da asa da gainha, yadda, yadda, yadda...

O comodatário do meu passe está numa aprazível cidade sul-baiana, onde residi por longos quase doze meses. Sua família é de lá, e lá vai ele em direção ao sul dourado. O Moço diria que é uma insensatez (para usar a mais meiga das palavras dele quando se refere a essa cidade) sair de Salvador para lá, mas fazer o quê? Se a minha família fosse de Jequié, eu também... Não, Jequié, não, eu NÃO iria. Bom, minha família é do Rio, e não vou passar Natal lá. Não por falta de vontade. Falta vontade da minha conta em se desfazer de quase mil reais para uma festnha onde come-se demais (menos na minha casa, ceia na medida), ri-se de menos, e sempre forçado, trocam-se presentes não muito úteis (e todos os que ganhei eram perfeitos para mim), e volta-se pra casa sem ter podido ir pra um oba-oba na casa do melhor amigo.

Digressões, digressões de uma criatura que passou a noite na superfície do sono, boiando e eventualmente afundando. Dormi de menos, pensei demais, como não convém. Não prevejo consequencias para o mundo, nem para o Cosmo — o micro e o macro. Talvez uma ou duas cicatrizes no meu relacionamento, mas o que é da vida sem uma ou duas marquinhas para ilustrar histórias?

Então, o meu dia de natal me encontrou assim: uma da tarde, um copo de coca Zero, meio saco de Doritos, cigarros e computador. E silêncio. Não silêncio absoluto, como eu teria pedido de presente, como eu preciso e mereço. Silêncio de vozes. Minha, dele, dela, deles, de todos. E isso é bom. Estou sem música também, e o único som produzido por esta casa é o do teclado. Conforta.

Devo voltar pra cama eventualmente, e descumprir mais uma vez o combinado com amigo querido, de ir até a sua casa para enterrar os ossos da ceia, rir das suas aventuras nos shows da Madonna (sim, ele foi a dois dias) e voltar pra casa flanando. Devo quebrar o silêncio, ligar para amiga querida, que há exato um ano me emprestou a própria família para o almoço de Natal. E devo emitir mais uns dois grunhidos de satisfação como os de agora, depois de me espreguiçar longamente na cadeira do computador.

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Ele não respeita minha rabugice. Estou espumando de alguma coisa mais passiva que raiva (porque nem pra isso tenho ânimo), ele me liga, virado de ontem pra hoje ainda, e diz que "me dedica essa música":

Tanto tempo longe de você
Quero ao menos lhe falar
A distância não vai impedir
Meu amor de lhe encontrar...

Cartas já não adiantam mais
Quero ouvir a sua voz
Vou telefonar dizendo
Que eu estou quase morrendo
De saudades de você...

Eu Te Amo!
Eu Te Amo!
Eu Te Amo!

Eu não sei
Por quanto tempo eu
Tenho ainda que esperar
Quantas vezes eu até chorei
Pois não pude suportar...

Para mim não adianta
Tanta coisa sem você
E então me desespero
Por favor meu bem eu quero
Sem demora lhe falar...

Eu Te Amo!
Eu Te Amo!
Eu Te Amo!...


E eu, sabiamente, me rendo a um sorriso rasgado no meio da cara, e deixo para discutir o ocorrido mais tarde, daqui a menos 28 cervejas, e menos 450 km.

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Ana,

Foram 32 anos para o cupido treinar tiro ao alvo comigo, sempre errando, sempre acertando onde não devia, criando paixões que não podiam, amores que não iam, romances que ficaram. Dessa vez ele me acertou em cheio. Sabe quando falta o ar quando você pousa os olhos pela primeira vez naquele que você tanto quer? quase a sensação de um murro no estômago?

Então... foi assim. Manda o email do seu cupido, que o meu agora vai ser treinador de franco atiradores. Quando você menos esperar, e um dia te conto a história toda, com rio, barcos, encontros e o resto, seu cupido vai ser medalhista de tiro.

Beijo, beijo, feliz natal!


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Agora não quero mais silêncio. Vou botar roupa de festa e voar para o oba-oba na casa do amigo querido.

domingo, dezembro 21, 2008

Verão

Férias de verão, ué? Pela primeira vez na vida senti prazer naquele vento meio morno que bate no meio de um dia de céu indecentemente azul. Acho que é a primeira vez que o verão me chama, e eu tenho que ir pra rua.

Estou viva, feliz, com bronzeado de peão (aquele com camiseta, saca? O meu ainda tem a marca de mochila, mas abstraia), semi-casada com o homem por quem esperei a vida toda, e que me apareceu no lugar errado, acompanhado das pessoas não-certas (alguém entende a sutileza entre errado e não-certo?), na hora mais ingrata que podia acontecer. Mas aconteceu, e foi rápido, matador, certeiro, e palmas para o cupido: medalha de ouro na categoria pontaria.

Assim vamos, assim vou, vivendo um dia depois do outro, meio de férias, meio rezando para as coisas mudarem pra melhor no trabalho, com a família, com meus fantasmas.

E vão. Vão, porque agora sou mais forte.

Um + um não é igual a dois.

É igual a nós, e nós tem um peso maior que 1 + 1.

E estou adorando ser nós com ele.

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Felicidade extra virgem

Porque eu passei cinco dias rodando pela caatinga baiana, e só porque a minha vida mudou inteira nesses cincos dias. Porque eu ainda sento e olho encantada pras surpresas que o Destino, que é uma variação do Sr. Tempo, me oferece.

Porque eu não tive medo, mesmo quando achei que tinha sido picada por cobra, ou quando descobri que estava prestes a dar um passo inedito na minha biografia. Porque afinal, tudo se resume numa coisa só: medo. Não o medo em si, mas a falta dele.

Porque tem sido muito bom viver sem medo. É muito boa essa recém-nascida fé em mim e no próximo. É muito bom esse frio na barriga que nasce de algumas certezas - mesmo que seja a certeza de que tudo que virá precisa de ajustes, depende da arte de flexionar.

Porque tem sido muito bom ser adulta enfim, e nem tenho sentido falta de Neverland. Porque mesmo sendo adulta, é infantil o sorriso que me volta aos lábios junto com as lembranças. Porque eu mereço, eu fiz por merecer, eu plantei e a colheita desse mundo de frutos é só minha.

Ops. Só minha não.

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Meus agradecimentos!

Obrigada.

Obrigada por ouvir esta canção comigo — another time, another place —, e embora fluente num idioma que eu por ora não domino, não pôde — ou quis — decodificar aquilo que eu queria ouvir. Obrigada, porque "would I lie tou you?" responderia as perguntas certas — sobre você —, mas continuei ainda a indagar sobre os peixes, o universo, e tudo o mais. E você nunca respondeu.

Obrigada por nunca responder à pergunta-chave da música. Obrigada pelo ar de obviedade sarcastica quando tentei descobrir mais acerca do refrão que por anos me atormentou.

Obrigada por me ver no inferno, e lavar as mãos por isso. Obrigada por ter me deixado purgar sozinha esse carma que é meu, somente meu. Obrigada por me permitir mais tempo para absorver aquilo que só eu poderia sentir. Obrigada pelo dia de hoje, e por tudo o que ele me devolveu.

Obrigada pelas flores brancas, amarelas e rosa, que você me proporciou indiretamente. Pela grama aparada, que me deu a falsa sensação de reequilibrio

E por último, mas não menos importante, obrigada pelas lágrimas que lavaram cada palavra escrita aqui. Obrigada pela suavidade que eu tive ao fim do dia, embaixo daquele azul que costumava ser só meu no Rio; por me deixar macerar cada minuto a música, e ainda assim molhar as letras com um choro que é de alívio. De cura.

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Pé na estrada de novo, para um lugar pertiiiiiiiiinho e refrescaaaaaante. Doze horas de ida, doze de volta. Lá vou eu pra longe da Lourinha febril (e assintomática), lá vou eu pra longe dele.

Encomendei um sonífero, porque não sou filhote de corno para ir acordada, morrendo de saudade e de preocupação. Volto semana que vem.

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Eu não sou vingativa. Sou é adepta da lei do retorno.