sexta-feira, agosto 03, 2012

And after all... - 3 meses sem você, mãe


Tem três meses exatos desde que você morreu, mãe. O texto é o mesmo: dói como se fosse ontem, e o tempo se encarrega de deixar parecendo um ano passado.

Vamos sacrificar a cadela louca, Mabel. O problema neurológico dela se agravou, e chega de gente sofrendo, né? Difícil está sendo com Helena, porque foi um ano de muitas perdas, e Mabel será das mais importantes pra ela. Lidaremos, claro. Lidamos com D. Neide, com Andreza, com Nana, com você.

Você, mãe, que nem eu, adulta, espiritualizada, sabedora que sou da obrigação de morrer, nem eu consegui lidar. Três meses, e eu não consigo esquecer um dia sequer.

Nem precisa. Morrer não significa ser degredado. Morrer significa que aquele exemplo não pode mais se renovar. Não há novidades nas lições que você nos deixou. É repetir, repetir, repetir. E aprimorar, claro: a gente foi feita pra passar o rascunho a limpo, e criar um história baseada em fatos reais, mas muito, muito mais correta.

Não há um dia passando sem que o amor por você seja esquecido. Não houve um dia em que você não tivesse sido lembrada com um amor muito grande, e uma oração — às vezes nem tão grande assim —, e que a gente não tivesse desejado que seu caminho fosse o melhor.

Vida é isso, e a gente aprendeu da pior forma. Boas notícias vem, e vem justamente quando e porque você foi embora. Adoraria dividir as "Loucas Aventuras Imobiliárias de Daniela", queria te mostrar os azulejos bizarros, a academia de uma esteira só.... Mas isso só acontece porque sua história acabou cedo demais, e antecipou a minha.

Fim.

Que seja.

Feliz, feliz, feliz? Não. Mas não vou remoer tristeza por um longo tempo. Não é justo comigo, com a Helga, com o Papai. Com você. Dói, mãe, dói de um jeito louco, como achei que os dias de UTI me deixariam blindada. Dói hoje como doeu no dia, e acho que talvez muito mais.

Hoje estou mais concentrada a respeito da sua falta. Pedi muitas desculpas pelo meu comportamento leviano no seu enterro, mas era a minha defesa. Ainda é. Faço um monte de merda, e quando vou ver, ainda é sob sua égide. Não que isso desculpe: sou adulta, e desde sempre deveria me comportar como tal. São deslizes, escorregadelas estas que não vou nunca justificar para os poucos amigos da minha vida.

Sou isso. Sou covardia, sou disfarce numa noite de vinho, sou fraqueza, sou MUITA tristeza, sou reequilíbrio Sou cada dia mais um pouquinho, e cada dia melhor. Quero cada dia mais ser sua filha, mãe: sem temor, sem censura, respeitando. E que assim seja.



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