terça-feira, dezembro 30, 2003

Diatribe lacrimosa

Desta janela à minha frente vejo um bambuzal, uma emissora de televisão, alguns pedaços mortos de folha de coqueiro, e uma única flor amarela entra em quadro, balançando como se fosse um relógio para hipnose: agora você chora, Daniela, agora você chora.

Deve ser o único lugar quase a céu aberto onde a temperatura é minimamente civilizada. O dia inteiro entra um cheiro de mato perfumado junto com o vento, o que faz com que eu tenha vontade de parar tudo, fechar os olhos e me deixar abraçar por essa onda verde que chega e limpa o já tão carregado escritório.

Nas paredes vão e voltam os restos de risadas que foram dadas aqui num passado nem tão passado assim. Como o pretérito de uma coisa boa pode ser perfeito, quando acaba de verdade? Deveria ser pretérito imperfeito, uma ação que teve desdobramentos,que não aonteceu uma só vez. Como, aliás, explicar o pretérito perfeito. "É o que foi", e temos dois tempos verbais distintos para designar a mesma coisa, na mesma frase?

Aqui dentro o mundo parece correr num ritmo diferente, o organismo funciona de maneira diversa. Quer entender? Sexta-feira tem cara de sexta-feira, não é? Segunda tem aquele rançozinho de início de semana, e o que explica o cheirinho de sábado de manhã, que de olho fechado e ainda grogue de sono, você sabe certinho que dia é só pela luz?

Em produção não existe dia da semana, existe dia de produção. Quer entender de novo? Terminamos uma maratona de 3 dias gravando, pulando de cidade para cidade, dormindo nada, descansando porra nenhuma. Dia lindo, moldura de foto de família — feliz —, e lá vou eu, me despedindo da entrevistada:

— Obrigada por tudo, desculpa por a gente ocupar sua sexta feira, mas agora você vai poder aproveitar o finalzinho do dia...

Ela sorriu, muito gentilíssima: era quarta-feira.

(Pausa: como um ser humano pendurado por duas lágrimas num abismo, se dá ao luxo de ouvir Travis? Respostas para a Redação, se a Redatora não cortar os pulos antes.)

E aqui não tem dia: é eternamente uma oitava-feira, dia que ainda não sabemos feriado ou útil, ou mágico, ou de fadas, ou whatever. E hoje o dia é uma típica oitava-feira: o sol está morninho, o filho do Mein Direktor está zanzando pela casa com o presente de Natal, estou perigosamente caminhando pela Alameda das Lembranças, e tenho medo que um cachorro da raça Más Recordações venha morder meus calcanhares durante esse passeio.

E aquela flor vagabunda, hibísco amarelo, continua a balançar na minha frente: agora você chora, Daniela, agora você chora.

Acabei ficando.

— Mein Direktor, você não acha que a equipe esta inchada demais para uma coisa dessa dimensão?

Eu e o meu "feeling da puta"... Foi um banzé, e de banzés na minha vida bastam aqueles que eu assino. Uma externa que eu não ia nem levar a fama? Nein, nein... Fiquei na produtora, brincando (?!) de imprimir, recortar e colar etiquetas de fitas, capas de VHS e VCDs.

Coisa que estou fazendo até agora, aliás... Suuuuuuuuper lúdico...

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Pra quem estava vivendo de lucro há mais de dez anos, eu fiquei bem tensa com Dagobila pilotando o bate-lata do Mein Direktor, conduzindo esta que vos fala ao gabinete do Secretário de Comunicaçáo da Prefeitura.

Gente, aquele homem ainda não aprendeu as marchas e já tem carteira de motorista!!!!! Sinal vermelho... Bom, ou ele é daltônico ou ainda não chegou nessa página da cartilha!

E o bacana: quando conseguimos chegar de volta, vivos enfim, ele me abriu um sorriso de orelha a orelha e perguntou se tinha ido bem.

— Foi, Dagobila, foi...
— Puxa, eu estava preocupado de você não me aprovar!


Como é que diz que não passou no exame de rua? Eu nem quero viver pra sempre, mesmo...

segunda-feira, dezembro 29, 2003

Externa de ultima hora, gravar pronunciamento de fim de ano do Governador. Fazendo hora na produtora, cigarro atras de cigarro, e a certeza de que ele vem para passar o Reveillon comigo. Nao, nao uso mais drogas. Limpa de Fanta Uva há quase tres semanas.

Eu so sei que vem. Poderia dizer que a mesma intuicao que me apontou acontecimentos outros esta-me indicando o novo rumo. Poderia dizer que estivemos juntos na noite passada, e ele disse que me amava, que estava de saco cheio de ficar sem mim. Ou até mesmo a verdade: li o horóscopo dele pra hoje, e pra bom entendedor, pingo é letra.

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Uma hipótese

E se ele nao viesse? Que raios eu ia fazer nesta data tao festejada? Viajaria pra onde? Com quem? Fazendo o quê? E voltaria? Quando? Daria "no show" nos dias 7 e 8?

Sim, porque se eu viajar, é para colocar uma pedra definitiva nessa historia toda, e ai nem adianta me esperar na primeira semana de janeiro porque nao tem volta. Triste fim de Policarpo Quaresma.

E se for tomar como base as reviravoltas que a minha vida da nos primeiros 15 dias de janeiro, acho bom ele nao me deixar a toa, esperando os ventos mudarem de rumo. Corre o serio risco de ter-me perdido antes da alvorada do Ano Novo.

domingo, dezembro 28, 2003

Pela altura, o portão da garagem do prédio ao lado um dia vai terminar o seu trajeto em cima de mim.

O que não deixa de ser uma boa idéia...

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A cabeça dói, e não é de ressaca moral. Fiz o meu melhor. Mas, juro, chega uma hora em que dá nos nervos ficar tentando sucesso num assunto que não nos apetece a vitória.

Não, não consegui me apaixonar pelo novo candidato a príncipe.

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Remédio começando a fazer efeito. Dani ficando grogue...

sexta-feira, dezembro 26, 2003

Reedição do côro grego particular. Eu sabia que isso não ia dar certo...

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Daniela, vamos combinar umas regrinhas para o bom viver?

Jamais confunda os nomes das pessoas, jamais fique com um achando que ele é outro (eu volto a falar sobre isso), não compre briga na casa do alheio, não se apaixone pelo seu amigo gay, não dê em cima do outro amigo gay quando o paquera dele estiver por perto, pare na segunda dose de gin tônica, só beba whisky enquanto sua pronúncia do dito cujo ainda for passável: quando virar "visqui", é hora de parar. Se virar "uisgui", vá para casa correndo.

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Não foi uma substituição de afetos, um "qualquer corpo passa a ser o seu". Nananinanão. Fiquei com o ser humano sabendo que ele não era A, C., tampouco P. Fiquei com ele. Mas lá pelas tantas, eu já estava confundindo os nomes, o passado, achando que ele tinha sido casado com uma arquiinimiga...

(entra o côro grego)

— Por que, Daniela, por quê?

Porque, cá entre nós, meus pifões (rá, e há quantos anos você não ouve essa palavra: pifão?) de fim de ano já estão quase institucionalizados. Vale lembrar o do ano passado, que deu no que deu. Ou o do ano retrasado, que foi bacana e compreensível. Coloquemos, pois, as coisas assim: é a catarse de um ano duro, como são todos os anos. É quando eu viro o som da festa, é quando eu instalo um verão particular no recinto. É um rito de passagem para o ano novo, é o expurgo de todas as mazelas, é a celebração da vida.

Pffff, eu nunca vi um porre tão bem justificado!

quarta-feira, dezembro 24, 2003

E sabe qual a pior parte de tudo: é não confiar. Puta que o pariu futebol clube, como dói saber que eu desconfio pelo simples fato de ser uma babaca.

Mais que isso: feio vai ser o meu papel quando todos os is estiverem com pinguinhos, todos os pratos tiverem limpos, e a trouxa de roupa de roupa suja toda lavada.

Pro bem ou pro mal, eu sempre fico com o pior papel quando assumo o lado passional.
Brigamos, Deus e eu. Mais uma vez, acho que a segunda só neste ano, esfreguei meu dedo sujo no nariz celestial, e disse umas verdades pra Ele. Pedi a Deus para acabar com a piada. Chega. Senso de humor tem limite. Humor negro, então, a paciência acaba rapidinho. Acabou. É bom eu não morrer por agora, Deus, que senão você vai se arrepender de me levar para o seu lado direito. Vou passar a eternidade reclamando, você vai ver.

Quis morrer, quis fugir, ameacei comprar passagem de ida pra algum lugar. Só de ida. Nenhuma das músicas que cantarolo para readquirir minha serenidade veio à mente. Usei o ás de espadas da manga sem pudor, prometi o que nunca existiu, dancei e solucei como se fosse sábado. Quis chorar, não tive lágrimas, ouvi conselho que não se dá, joguei tudo pro alto, caiu tudo na minha cabeça, de volta.

Terminei, voltei, terminei, desconfiei, sofri, sofri, doeu, sofri mais um pouco. Marquei passagem aérea para tirar a limpo essa história, desmarquei, dei enter, deletei. Tive insônia, derreti na cama, ouvi a mesma música por mais de duas horas, escrevi longas cartas de amor. Uma, duas, três, e ainda não tinha conseguido concatenar. Fiz lista de itens para a mochila que vai comigo ao encontro dele. Perdi o medo da altura, da instabilidade, do movimento uniformemenete variado. Ou nem tão uniforme assim.

Perdi o chão, flutuei no ar como se fosse pássaro, suei frio, tive febre de verdade, tremi, abstraí e voltei. Coloquei outro no lugar, levei pra festa, apresentei pros amigos. Ouvi a voz do meu valete preferido: "Ele é bobo, né, Dani?", e descartei o novo personagem. Mayday, mayday, dei cheque caução para pagar o telefone, ninguém veio ao meu socorro, estava sozinha de novo, a ilha. Um viajou, o outro ia viajar, o outro é viajandão. Sempre.

Reveillon no Rio cancelado, estou de passagem comprada para outro lugar. Acordei com outra disposição, com outros sinais, com outras frases ditas só pra mim. Volto ao campo de batalha. Quem me conhece sabe que posso ser ré de crimes vários: arrogância, impetuosidade, intempestividade e everything else. Mas para os que estão chegando agora, basta ter em mente que eu nunca, em tempo algum, pude ser acusada de omissão. Nunca desisti de uma boa briga antes de ter um braço, uma perna e o orgulho amputados.

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Anjo da guarda plantonista

E olha só, como a vida é engraçada: a coisa mais carinhosa que chegou em meu auxílio foi o email de um homem que nunca pousou os olhos em mim — eu tampouco nele, embora morra de vontade... —, email que tirou véu por véu dos sete que circundam aquela alma deliciosa. Obrigada, pela segunda vez hoje. Temos, sim, o nosso segredinho. A resposta "valendo" vai por email daqui a pouco.

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A primeira coisa que pensei, quando caiu o mundo, foi: "ainda bem que tomei meu Prozac hoje".

terça-feira, dezembro 23, 2003

Baixei o Cisne Branco!

Se não posso ter o Sino de Bordo, pelo menos o Cisne Branco deslizando num lago azul em noite de lua eu tenho...

Horóscopo para gêmeos

"É claro que todo amor envolve algum risco, mas não há como se defender do que não se conhece ainda..."

Rá, isso não foi escrito para uma geminiana, tenham certeza! Essa defesa é básica: distribuir chutes para todos os lados, acertando alvos móveis e imóveis no caminho, vegetais, animais e minerais. E, voilá!, temos uma geminiana defendida de um amor ataque-surpresa!

Investigando preços de passagens, montando datas, trechos, contas e formas de pagamento: se nada me segurar aqui — e por nada entenda-se tudo — 29 de dezembro estou embarcadno para o Rio.

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Pior que a censura é a auto-censura.

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Johnny, desta vez você é quem disse, num dia, o que eu amarguei e não disse no dia seguinte. Mas queria ter feito, e o texto era quase exatamente o mesmo!

"q ele foi irresponsável em perceber q estava me cativando e fazendo disso um alimento ao seu ego"

A diferença é que eu continuo no páreo, idiota que se apaixona cada dia um pouco mais, cada hora mais intensamente, cada vez mais enredada na teia que eu mesma teci. Culpada eu, que ainda acredito que pode ser. Culpado ele, que me faz acreditar que agora sim.

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Holden, mais forte que a vontade de ir ao seu aniversário foi a exaustão de sair de madrugada do trabalho e saber que no dia seguinte, cedo, eu estaria na ativa de novo. Desculpa, eu estava lá em espírito (de porco).

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— Dani, se você não levantar para comer, eu chamo o rabecão.

Buenas, lá vou eu, escorrendo da cama qual mercúrio, em direção à cozinha, para dar cabo da minha ração de pães de queijo. Alarmista essa minha irmã, só por que dormi da noite de sábado até a manhã de segunda, com uma pausa no domingo para comer, e levei a segunda quase inteira na cama? Isso lá é motivo para tanto alarde?

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Por isso vou crescer frustrada...

— Mãe, deixa eu instalar o Sino de Bordo no computador?
— NÃO!


Pra quem quiser, tem aqui:

"No período compreendido entre os toques de alvorada (06h) e de silêncio (22h), os quartos e seus intervalos são marcados por batidas do Sino de Bordo, feitas ao fim de cada meia hora."

sexta-feira, dezembro 19, 2003

"OOOOOOOOOOH, eu te amo, meu amor!"

E assim eu entro na sala, com o Tudo de Bom Magal cantando a plenos pulmões. Numa pan invertida (para os não-iniciados: mova a cabeça da direita para a esquerda), a cena:

Meu coordenador de produção em pé no arquivo de metal, passando a mão no corpo de maneira lasciva, rebolando como em dança do ventre e com a outra mão apontando para o trenzinho embaixo.

Embaixo: O editor sério, genro da senhora mais fofa da história, homem recatado, rebolando como um drag queen de filme pornô. Logo atrás, a motorista da van que atende à empresa, uma senhora de cabelos cacheados, encaixada no editor, com o braço estendido pro alto. Fechando o trem, a produtora da casa, que havia soltado os cabelos e sacolejava qual uma cigana encarnada. Encabeçando o trem, locomotiva assumida, o meu maquiador preferido, empurrando a pelve para frente e para trás, num simulacro de sexo com o vento.

"O meu sangue ferve por você!"

Acaba a música, desce o coordenador do arquivo, desengata-se o trem, o som é baixado, tudo volta à normalidade.

Everything but me, que levei bem uns cinco minutos rindo. Juro que ontem eu entendi porque desisti do Direito para abraçar a área de comunicação.

quarta-feira, dezembro 17, 2003

Homens são estranhos

Homens somem, depois reaparecem com a conversa mais errada e furada do mundo. Homens nos tratam como se o sol nascesse e morresse atrás de nós, para a seguir nos dar aquele abraço de padeiro — "Obrigada, volte sempre!". Eles pedem beijo e depois recuam como se fossem os nossos melhores amigos.

EU NÃO QUERO MELHORES AMIGOS!

Eu quero a mão na minha, a barba por fazer espetando o meu rosto; eu quero o beijo rude, a declaração angustiada de "eu tentei não gostar de você, velho, mas não deu". Quero a mão da posse na minha perna, o olhar dentro do meu, a cumplicidade velada. Quero outra noite, e outra, e outra, e outro dia...

terça-feira, dezembro 16, 2003

Esse é um dia que responde o meu prazer maior em estar fora de casa do que dentro dela.

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Não foi porque a vida é tediosa que não escrevi esses dias. Pelo contrário. Seria injusto se eu falasse do sábado sem tanger a sexta. O que seria do dia de sábado se não fosse a noite de sexta? Como seria o meu domingo se não fosse a noite de sábado?

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Matt chega dia 30!!!!!!! Finalmente aquele texano turrão resolveu assumir sua brasilidade nagô! Meus dias de intérprete estão só começando!

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Orgulho

Meu amigo querido, companheiro de 30 e tantos dias entre céu e mar, torcedor do Barça. Amigo que roubou uns beijos, uns carinhos, que dividiu comigo a trilha sonora do seu filme recém montado. Trilha doce, doce como foram as horas com ele, como os olhos verdescastanhos, como foi o último abraço.




DELTA, un film d'Orriol Ferrer, foi lançado semana passada. Como estou orgulhosa desse homem, e do David Omedes, seu diretor de fotografia!

E que saudades, que saudades!

sexta-feira, dezembro 12, 2003

Conversa via Messenger

Insomnia diz:
triste, ainda, mas bem.

Lucky (Recuperado) diz:
pq?

Insomnia diz:
jamais saberemos. aquela tristeza que baixou ontem, antes de sair da X, e que acordou comigo. Acho que o cheiro de desistência no ar...

Insomnia diz:
mas convenhamos que ouvir guilherme arantes deve contribuir com esse estado de espirito (de porco)

Lucky (Recuperado) diz:
com certeza

Lucky (Recuperado) diz:
tire esse espirito obsessor do seu aparelho de som

Lucky (Recuperado) diz:
A G O R A

Insomnia diz:
*gargalhadas, muitas!*
Fatos reais, creiam-me!

Diz a lenda que uma pessoa muito próxima minha, que pediu para não se identificar, saiu para ir ao borracheiro agora de manhã. Deixou o pneu furado, fizeram o serviço, enfiaram o pneu no carro, bom, dia!

15 minutos depois este ser humano descobriu que havia esquecido os sapatos... NA RUA EM FRENTE AO BORRACHEIRO!

Na boa, se esse organismo me ligar, eu nego que nos conhecemos.

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O pior não é esquecer: é voltar pra pegar. Que vergonha, meu Jesus, que vergonha.

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Resolvi não incorporar o arquétipo do palhaço. Eu ia tatuar um palhaço nas costelas. De sofrimento estou cansada, e todos sabem que palhaço é um triste que finge a alegria que deveras sente.

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"U cannot quit me so quickly
There's no hope in U for me..."


Matthews
Minha amiga querida, companheira de tintas e produções milagrosas, diretora das melhores, PROFISSIONAL excelente.

Amigos em comum, uma vida inteira de encontros felizes, passamos pelo inferno juntas, e só assim somos fortes. Com ela volto a ser a estagiária de sete anos atrás, falo dos fracassos dos meus regimes, dos meus amores, dos meus sucessos. Muito tempo sem um encontro social, e mesmo assim parece que nos vimos ontem.

Começamos em TV juntas, diferença de um mês ou dois da minha entrada para a dela. Ela foi minha cúmplice, minha companheira de resmungos, minha dupla de direção de externas, cenógrafa, psicologa. Cada uma para um canto, eu viajei, ela ficou e nunca mais trabalhamos juntas.

E foi com ela o meu "jantar" de hoje. Bistrô, Sheu e eu a atazanar os amigos via celular, exibindo pro mundo o polimento que nossa amizade ganhou hoje. Um passeio pela cidade, gargalhadas de engasgar, vamos resgatar o namorado dela da deprê, voltamos os três nos prometendo maior freqüência, maior assiduidade.

A gente nunca precisou disso, minha amiga querida. Se vier, é lucro total. Se não vier, eu sei que você está ao alcance da mão, do telefone, de um berro de socorro. O diabo que amassou o pão que comemos juntas pediu aposentadoria por invalidez provocada pelo excesso de trabalho. Agora é a nossa hora!

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E ela me devolveu os sonhos que esqueci em algum lugar entre novembro e dezembro do ano passado.Voltei levitando pra casa, feliz, indecentemente feliz.

quinta-feira, dezembro 11, 2003

Vida que corre em círculos, todo dia o mesmo dia.

Acordo, e a noite não foi suficiente. Estômago atípico, parece que engoli um homem peludo. Tony Ramos. Ou uma mamona, daquelas que a gente usava para fazer guerrinha contra a facção inimiga da rua de cima.

Sensação estranha, não é paixão. Paixão eu acho que ainda conheço, é um friozinho bom... Azia não é, embora pareça muito com paixão. É como se eu tivesse comido um gato vivo à força: ele cravou as unhas na minha garganta, por dentro, e desceu rasgando.

Marcas por dentro, marcas por fora, marcas da desistência. Pra mim chega. Game Over. Vou faxinar esses relacionamentos empoeirados, jogar fora as figurinhas repetidas, rasgar o álbum velho e comprar um novinho. Chega de reciclagem do amor que está com a data de validade vencida. Faz mal, dá efeito colateral, a gente acaba achando que todos sempre serão a mesma merda amarga e inócua.

Quero acordar para um dia diferente, diferente no sentir, não no agir. Quero acordar e achar o anil uma cor linda, e não ficar torcendo para que o cinza-chumbo venha fazer companhia para essa alma Flicts. Quero parar de procurar, quero ser achada, cortejada, mimada. Chega de ser a dominadora, a que tudo resolve, a que toma a frente, toma um fora, toma vergonha e toma chá-de-sumiço depois. Quero o homem certo batendo na minha porta, me levando ao cinema. Prometo que até pipoca eu como, que choro de verdade se for drama, que escondo o rosto no braço dele com medo do monstro da tela.

Quero telefonemas no meio da reunião chata, para eu poder fazer aquela cara de "é o cliente, desculpem", e sair para fumar um cigarro e dividir o meu tédio com uma alma companheira. Quero colocar o colchão na varanda e ficar olhando o céu e conversando baixinho, abraçada, sem a obrigação do sexo por tabela. Quero dormir abraçada, enroscar as pernas em pernas outras, ver uma gota de lua escorregar costas abaixo.

Velar o sono dele, acordar com beijos, tomar banho junto, café da manhã na cama, jornal de domingo espalhado, cada qual com o seu caderno preferido. Quero rir de piadas secretas, quero ser cúmplice, quero dividir os coqueiros da minha ilha com o homem certo. Quero mostrar o meu mundo, quero rir, quero beijo com sabor conhecido, calmo.

Quero bordar um nome de homem na minha pele, seu rosto na memória; quero gravar a sua voz na minha secretária eletrônica e ouvir todas as vezes que der saudade.

Quero ir. Mas quero, sobretudo, um motivo para voltar.

quarta-feira, dezembro 10, 2003

Retificando

Box "Expediente", 4ª linha de baixo para cima.

Onde lê-se "Tatuada 7 quase 8 vezes", ler-se-á, doravante

TATUADA 8 VEZES!

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Digamos que agora eu tenha a visão além do alcance...

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O que estou fazendo acordada a essa hora? Insônia, filhinho, pura e simples...

segunda-feira, dezembro 08, 2003

Desabafo

De um vivente, colega de trabalho:

— Fulano é tão burro que se colocar um trinco na barriga vira uma porta!

Relato verídico

O pai desta que vos fala trabalha num centro espírita que se chama "Amar". Parou um gringo na porta, viu o letreiro e se empolgou:

— É uma casa de encontros!

O forasteiro abriu a porta, passou os olhos pela tropa de lá e deixou os ombros tombarem, desanimado:

— Mas só tem mulher feia aqui!

Papai chega às lágrimas de riso contando isso.

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Finalmente uma segunda-feira em casa! Aguardando "A Turma do Pato Bill" ansiosamente.

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Comprei as rodinhas dos patins. Erradas. Uma veio com defeito. Mais três anos até tomar vergonha na cara e trocar.

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Droga, não é o Pato Bill, é o Bob Sponja.

sábado, dezembro 06, 2003

Eram mais de duas da manhã. Muito mais. Era pra lá de três, quase quatro. A menina subiu uma rampa e ganhou os céus. Deitou no chão da garagem, perdeu a cabeça nas estrelas.

Crianças pertinentes, adultos nem tanto, e a noite começara bem. Noite que apontara com o dia claro, quase prevendo que a lua faria papel igual ao do sol. Menina boba, apaixonada por um, beijando o outro, sonhando com os três. Ou quatro. Eram pra lá de três. Quase quatro.

Perdeu a cabeça entre as estrelas, alçou vôo, deixou o corpo quietinho, deitado no concreto, olhando uma antena de TV hipnótica. E foi, movida pela felicidade descabida, girando nos braços do vento, fazendo pacto de amor eterno com cada supernova que cruzou o caminho.

Amores efêmeros, meus e os das supernovas, que ao menor sinal de instabilidade, explodem. Como eu, que caminho por cima de uma lâmina fina, rasgando os pés, vendo o sangue tingir o aço polido, vermelho sobre prata. Eu, que arrisco, que jogo, menina que deita no chão e deixa que a alma faça enfim o que o corpo sonhou o dia inteiro.

E entre as lembranças de um beijo, ou dois — pra lá de três, quase quatro — e de vários abraços — desses ela perdeu a conta! — o corpo ficou lá, estendido como roupa quarando. Quarando na lua, lua de São Jorge. Eu estou vestida com as roupas e as armas de Jorge, para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem, tenham mãos e não me toquem, tenham olhos e não me vejam, e que nem em pensamento eles possam me fazer mal.

Engraçado como quarar roupa é ao sol, e que fiquemos moreninhos fazendo a mesma coisa. Hora de voltar, mas estava tão fresquinho aqui em cima... Branqueando a alma embaixo da lua que não vejo, matando as saudades de quem está tão perto e tão longe, saboreando o beijo que nunca vem, o abraço que veio e foi, o afago que chegou com um ano de delay.

É tarde. Tarde para que possamos ser felizes juntos. Cada um na sua, felizes pela metade, two losts souls swimming in a fishbowl, running over the same old ground. É tarde para que possamos realizar aquilo a que fomos destinados. É tarde para que eu seja mãe dos seus filhos, é tarde para que ele durma abraçado comigo.

São mais de quatro. Quase cinco. Vou sozinha espanar a poeira do corpo, sacudir as estrelinhas de chão da saia preta cor-de-universo. Vou trazer o Cosmo de volta para as minhas mãos, ao invés de deixá-lo refletido nos meus olhos apenas. É tarde, e ainda tenho uma boa briga pela frente. E tenho meus quatro, quase cinco, para me embalar no pouco sono que está-me reservado para esta noitedia que vem daqui a pouco.

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Porque hoje é sábado, ele terá seus filhos, eu terei os meus, e talvez ele até esteja presente no bar mitzvah do meu primeiro guri. Ele será sempre meu, e eu serei sempre sua. Sempre será ele o meu companheiro de caminhada, mão amiga que vai segurar a minha esfolada depois da queda, ele que vai secar as lagriminhas que farão trilha limpa na pele suja de criança. No pescoço dele vou esconder o meu rosto e soluçar dores de amores outros. E nossos.

Condeno a vida a correr em torno de nós dois, pelo crime de ter-nos jogado para lados opostos durante todo o tempo.

quinta-feira, dezembro 04, 2003

Alguém podia avisar ao meu corpo que ele podia ter dormido até as três da tarde? Que não tinha a menor necessidade de me fazer levantar às 7?

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O que mais eu podia pedir?

Beijos e abraços em três dos meus cinco fotógrafos preferidos no mesmo dia. Cascata de fogos de artifício que foram encomendados só pra comemorar o primeiro dia do resto da minha vida. Respeito da minha equipe. Um final de trabalho perfeito. Saudade de quem está longe, mas saudade boa. Cerveja gelada. Poeira de estrada. Trabalhar entre homens. Receber uma proposta para ter filhos de olhos azuis. Duas horas entre céu e mar, de gaiata num dream team, depois de o meu trabalho ter acabado. Luz azul de celular, fazendo de HMI a tiracolo. Promessa de um duelo entre um cafezinho e um "chopps".

Do-in na mão, feito pela gerente-rabugenta-ma-non-troppo da empresa que encomendou o documentário. Dor de cabeça que voa, mão que dói, alma que respira enfim. Olhos que soltam estrelas, estrelas que ganham corações. Olhos outros que foram meus, olhos fixos nas estrelas que cascateavam dos meus olhos; olhos outros que se apaixonaram pelos meus.

Dia em que descobri que amo todos os homens da minha vida. Amantes, amigos, pretendentes, profissionais: homens da minha vida, escolhidos a dedo, a quem dedico amores tão diversos quanto eles são entre si. Dia de acontecer tudo, e de nada acontecer que pudesse tornar fosco o brilho do sol que nos abraçou a todos, mantendo juntos os que a vida — e uma ou outra corrente de vento — insiste em manter a uma distância segura.

segunda-feira, dezembro 01, 2003

Pavilhão 8

Jean
Jorge
Dadal
Pedrinho
Bola
Alessandro
Domingos
Daniela

Isso não é uma equipe: é uma quadrilha!

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Almoço

Um desses acima, para a garçonete:

— Eu queria um lombo de peixe!

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O pré-beijo assim vai ficar. No pré. Em definitivo, ele não vale tanto a ponto de me fazer pagar o preço completo por uma noite apenas e nada mais. E eu preciso me apaixonar de verdade. Falando sério, entre nós dois tinha que haver mais sentimento. Ou eu tinha que ter mais sentimento...

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Ou as pessoas me odeiam, ou acreditam demais na força do milagre da Nossa Senhora das Produtoras. Como é que me passam uma pauta bronca dessa, logo eu, recém-saída de um traumático filme? Mas não me queixo em voz alta: está valendo a pena, apesar de tudo.

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Dei de presente para a BR uma locação ABSURDA de linda, hoje. Espero que eles levem isso em conta quando eu for pedir patrocínio para o meu longa...

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E o pior: quando tocou "Estou pensando em você", eu não tinha ninguém razoável em quem pensar.

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Você reparou o razoável, né? Explico: alguém razoável é um cara com potencial para namorado, que preencha todos os itens da minha lista de "Homem Ideal". Sim, porque ainda não aprovei nenhum dos figurantes que mandaram para eu fazer o casting. Queria aprovar uns três ou quatro, mas isso foge dos meus planos de "Daniela 2004: a rosetagem acabou!".

Um, um só, e ser fiel. Essa é a minha meta.

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Fiel, sim, mas não enquanto aquele outro beijar divinamente!

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Puta que os pariu Futebol clube! Como tem gente incompetente nesse mundo!

domingo, novembro 30, 2003

Acho que tive um pré-beijo, hoje.

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Porra, eu preciso me apaixonar de verdade, não ficar inventando esses romances de quinta!
Quem cresceu nos “Fab 80’s” vai entender direitinho o que estou falando.

O que aconteceu com os Titãs? Eles cantam a esperança, o amor, o perdão, a redenção, o sol no dia seguinte. Certo, mas... O QUE RAIOS ACONTECEU COM OS TITÃS?

Porque esses não são os Titãs dos anos 80 e parte dos 90. São esses tiozinhos que fizeram Bichos Escrotos, Diversão, Polícia? E Cabeça de Dinossauro, 32 Dentes na Boca, Pavimentação?

Quem cantava o amor era o Gilliard, gente! Era o Marquinhos Moura, o Ronnie Von! Os Titãs não! Os Titãs eram a imagem da resistência, era a música de protesto “oitenteira”. Para nós, que crescemos sem causa, sem heróis, sem ídolos, “Rebels without case”, sobrou xingar a polícia, os bichos escrotos que tinham que sair dos esgotos.

Eu ainda sou apaixonada pelo Gavin, ainda acho que o cara mais sexy do mundo é o Paulo Miklos, ainda vejo o Branco dono de um charme absurdo... Mas está tudo tão açucarado...

Crescemos todos: os oitenteiros, os Titãs, as músicas e as idéias. Estou sendo injusta: somos todos mais românticos hoje em dia. Mas é que deu saudade hoje de manhã, quando eu estava vindo pro trabalho, e tocou “Sonífera Ilha” no rádio do carro...

sábado, novembro 29, 2003

COMENTEM, COMENTEM, COMENTEM, COMENTEM!

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E mudou a cor, também. É provisório, cambada, ainda quero mexer em mais algumas coisinhas.

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Vou tentar dormir mais um pouco!

Requiém para um pesadelo, ou

Samba de uma nota só, ou

Falha na Matrix (tradução para dejá vú)

Consegui!

A contar da meia noite de hoje, 28 de novembro, estou OFICIALMENTE desligada da série de 9 comerciais para o Governo do Estado. Bom, estou desligada do Projeto AGECOM (Nome feio do caralho praquele trem, né, Luna?), mas retorno à casa com um outro projeto.

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Quarta-feira

Batidão da madrugada para poupar a tropa responsável pelo set. Saio quase meia-noite da produtora, e o Lu (Deus lhe dê em dobro, man) me liga para passar um abacaxi de proporções hercúleas. Caso encerrado, vamos dormir.

Quinta-feira

5 locações. O diabo inventou a produção de comerciais.

Sexta-feira 1

4:20. Madrugada. Entro em casa. Saudade de quem está longe. Saudade de quem está perto.

5:00. Apago o abajur. Meditação.

Sexta-feira 2

8:00. Despertador do celular toca. Algas vem e me acorda. Novo dia de produtora. A exaustão me transforma numa pessoa iluminada.

20:30. Desligada da equipe.

22:00. No Bistrô com Cláudio Carioca, Lu, Zeba e a tropa.

Sábado 1

03:33. Dopada. No computador, Indo dormir.

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E eu entendo porque estou me apaixonando...


sexta-feira, novembro 28, 2003

Drops — lisérgicos!! — at home

1. Acho que os comments vão ficar fora do ar até dia 22 ou 23 de dezembro, quando finalmente acordarei das "48 horas da Maratona Cartoon de Sono Initerrupto". Façam uma caridade para essa pobre blogueira neurótica: cliquem no meu nomeinho aí embaixo e escrevam pra mim!

2. Putin, o Camarada Oficial político, foi assassinado ontem, por volta das 35 páginas. Outubro Vermelho mudou a rota de Leste para Oeste.

3. A partir da meia-noite de ontem, volto a fazer parte do time das oficialmente solteiras. Quem tiver bode no pasto que prenda, que a cabrita tá solta!

4. Ignorância eu até entendo, mas burrice eu não tolero.

5. As pessoas precisam entender que milagre é no segundo piso, lá com Deus. Aqui no térreo, só bolsas femininas, produções impossíveis e artigos de cama, mesa e banho.

6. Eu posso passar a manhã inteira no computador, esperando o motorista. Na hora em que eu resolver me esticar no sofá, o telefone toca e ele me avisa que está aqui na porta... A lei de Murphy é rígida com algumas pessoas...

7. Numa boa, dormir às cinco e acordar às oito, sem ter ingerido uma gota de nada psicotrópico e/ou alucinógeno, é a sacanagem do Cosmo comigo.

8. No Kit de Produção devia vir uma irmã que nem a Algas. Se estourou de trabalhar até o dia claro? Waffles e leite com chocolate estarão prontos às 9 da manhã.

9. Na verdade, eu quero é um namorado sério, mesmo. Acreditem, organismos, eu consigo ser fiel!

10. Estou uma aborígene! Unhas deformadas, cabelo sem corte, sobrancelhas que parecem franjas (é, a Algas é impiedosa, de quando em quando)...

11. Eu já disse que a exaustão me leva perto, muito perto da elevação espiritual suprema?

12. Paulo, desculpa a fuga rápida ontem do Messenger. Foi estratégica e vital! Cretino, estou MORRENDO DE SAUDADES!!!

quinta-feira, novembro 27, 2003

Isso foi escrito ontem, mas por causa da mais absoluta exaustão física, mental, intelectual, espiritual e emocional, só está sendo publicado agora.

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Sanduíches do Mac Donalds pra todo mundo, incluindo a idiota aqui que não almoçou e teve um “blackout” no meio da tarde. Apaguei mesmo, não vi nada, amoleci, fiquei apoiada no carro.

Dias desleais, dias de foda-se absoluto, dias de “Tô nem aí”. Eu já vi esse filme antes, e sei que o final é bom: vou ganhar poucas e excelentes pessoas — meu cachê mais alto —, vou morrer de saudade de ver todos os dias um, outro e talvez um terceiro, vou sentir falta da camaradagem gratuita de uma outra...

Mas isso passa, ou volta no próximo trabalho. É um casamento novamente, casamento com 20, 30, 40 pessoas, passando por crise, mas uma união estável. Já tentei o divórcio, não foi aceito, e litígio, a essas alturas do campeonato, está fora da pauta.

O negócio é esperar acabar. Porque tudo acaba. “E se houve mágoas, acabaram dissolvidas nos beijos e abraços...”.

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São quase onze e eu ainda não consegui sair da produtora. E tudo o que eu precisava, de verdade, era um abraço de alguém que gostasse muito de mim, um monte de beijos, alguém que achasse que estou sempre certa, que me desse razão em todos os meus resmungos profissionais, que me esfregasse as costas no banho de hoje, que viesse me buscar no trabalho. Alguém que me ligasse para dizer que está com saudades, que me apanhasse para almoçar, ou que viesse me ver na hora em que eu mais preciso.

As coisas são realmente complicadas. Mas sozinha, bote fé, é bem pior.

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Vou voltar para o Camarada Putin, militar político embarcado no Outubro Vermelho.
Hã? O livro, claro! Caçada ao Outubro Vermelho, que é um SSK, ou seja, submarino nuclear.

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E SSN é um submarino que não movido à energia nuclear. Como eu sei disso? Como assim? Toda menina sabe disso!

quarta-feira, novembro 26, 2003

Beijo sem alma, sem entrega. Beijo com gosto bom, ainda um dos melhores, mas nem de longe igual ao primeiro, ou ao segundo, ou a qualquer um da primeira temporada.

Pra auto-estima, foi balsâmico. Para a alma... Bem, cada dia mais eu sei que o meu corpo é que precisa dele, não a minha alma. E eu sei que já disse isso.

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De produtora a 1ª Oficial de Fotografias Aleatórias. Entre uma locação e outra, e tome congestionamento, fotos das minhas tatuagens, da paisagem, das grades. Cada dia uma série. No primeiro dia, "Daniela Confusa". Ontem, "Daniela Enclausurada". E hoje, Deus, com esse estado de espírito elevado, de quem acabou de meditar? "Daniela no Nirvana"?

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Na verdade, eu queria poder ter a MINHA equipe técnica, para ter certeza de que todo trabalho me daria prazer. Estou broxada ao cubo com esse trabalho, num FODA-SE tão grande que me incomoda. Gente demais mandando, gente demais fazendo a mesma coisa, gente demais desrespeitando o trabalho alheio.

Eu só tenho cara de idiota... Mas eu sou velha de guerra, tenho cicatrizes e já me escaldei com hectolitros de água fervente. Acho que vou ter que surtar para ser respeitada, porque eu já percebi que sendo absolutamente competente não funciona.

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Um calor miserável, e mesmo assim a cama estava fria. Mesmo assim os pés estavam frios. Mesmo assim, a alma estava gelada. Frustração e tristeza eu tolero até o âmbito emocional. Quando cai no profissional, não dá pra encarar dois fracassos ao mesmo tempo.

terça-feira, novembro 25, 2003

Drops at home

Papai resmungando pela sala:

— Vamos lá, você vai reagir! Você vai ficar bem como estava antes!

Poxa, que legal! Papai me entende, me empurra pra frente, me incentiva! Virei pra trás com o meu melhor sorriso, pronta pra agradecer, e vejo ele que ele continua falando... COM O VASO DE PLANTA QUE ELE ACABOU DE EMPURRAR PRO SOL!

— Você vai tomar aguinha agora e vai ficar bonita de novo...

Puts... Neurolinguística botânica é foda!

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E eu?

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E quando acabar, o que é que eu vou fazer? Como vou preencher o oco que vai ficar?

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OK, se não for produtora, o que é que eu vou ser quando crescer? Se enxergasse direito, fotógrafa, cinegrafista. Eu adoro imagem. Poderia ser webdesigner, mas me falta a criatividade para fazer todo dia um site diferente. Poderia voltar atrás, uns dez anos, e ser advogada, mas tenho rinite alérgica, e a poeira dos processos matar-me-ia em um dia e meio.

Piloto de avião? Caio no problema de enxergar mal. Ah, se sou quase cega, poderia ser pianista! Deu certo com o Ray Charles! Mas... Só de pensar naqueles exercícios de escala intermináveis me dá mais sono do que o que habitualmente sinto.

Engolidora de fogo. Não dá, tenho gastrite. Veterinária. Bom, se eu não chorar a cada cachorrinho doente que chegar, pode ser. Mas me nego a tratar de galinhas e cavalos! Ourives. Escritora. A jornalista que ensaiei ser. Esteticista. Analista de sistemas. Estivadora. Marinheira....

Bom, enquanto eu não decido, vou tomar um banho, mastigar alguma coisa e sair para o trabalho. Mais um dia de produtora...

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Na verdade, mãe de família seria a profissão ideal, mas pelo andar da carruagem...

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Eu juro, juro mesmo: quero fazer campanha política no Acre! Ou no Rio Grande do Sul. Ou no Pará. Ou em Goiás. Ou na casa da mãe Joana. Mas eu PRECISO sair daqui.

E é fuga, sim, por quê? Tens alguma coisa contra?

domingo, novembro 23, 2003

Alta noite já se ia
E eu na estrada andava
No caminho que ninguém caminha...

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Definições Daniélicas

Competência: é você conseguir, na primeira investida, 60 baldes plásticos EMPRESTADOS de um atacadista que nunca trabalhou com consignação.

Respeito e moral: é você precisar de mais 40 baldes, telefonar e gerente dizer que mesmo que a loja estivesse fechada, ele estaria lá para me esperar.

Competência, respeito e moral na casa: eu tenho!

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Eu perco o sono e choro...

... e vago noite afora, revirando as latas de lixo do caminho para me encontrar.

Sei que quase desespero, mas não sei porquê...

... mas sei como sinto, e prefiro continuar na ignorância dos motivos. Pretendo manter intacta a pele do meu pulso. Ao menos esta noite.

Será que alguma coisa nisso tudo faz sentido?

Faz, eu é que não entendo os sinais.

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That's for you

"Por favor, sugira um remédio que me faça parar de tremer de alegria como um lunático, quando recebo e leio suas cartas... Você me faz uma dádiva tal como nunca sequer sonhei encontrar nesta vida."

Franz Kafka

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Parece que os comments estão desativados. Antes que eu consiga colocá-lo no ar de novo, vocês podem (e DEVEM!!!) escrever clicando no meu nominho aí embaixo, que nada amis é que um link para o meu email...

sexta-feira, novembro 21, 2003

A fase do “Por Quê?”

O que são os mórmons, na verdade?

Para onde eles vão, que estão sempre andando com aquelas bolsinhas trespassadas? Como se reproduzem, se nunca vi uma mulher andando com eles? Por que — via de regra — são todos lindos? A que filo pertencem? Se alimentam? De quê? Moram em algum lugar? Têm outra roupa que não aquela calça e gravata pretas e camisa branca? Por que nunca pegam ônibus? Alguém já viu um mórmon num ônibus? Alguém tem um vizinho mórmon?

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— Depois desse trabalho, vou tirar férias!

Rá, estúpida produtora, cada vez que diz isso, emendas um trabalho no outro. Coisa que farás novamente. “Saiúpe”, aqui vou eu de novo...

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Eu realmente não compreendo a alma masculina. E esse é outro, viu?

Primeiro me trata como se eu fosse a única mulher do mundo. Depois, eu passo para o time das amiguinhas. E quando eu menos espero, ele está gastando seu precioso e caro tempo falando bobagens comigo...

Alguém ilumina essa pobre cabeça na escuridão?

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Chuva, e o céu cinza não constava na minha escala Pantone. No calendário, o dia hoje era pra ser azul do início ao fim, e olha só: uma nuvenzinha me rondou o dia inteiro! Deve ter ido chover em outras bandas, porque eu recarreguei as baterias a cada sinal de “Low Batt”. Visita na sala, e visita merece incenso, um dedinho de prosa boa, confortável, a única prosa que tem conseguido me fazer aliar este mundo que carrego nas costas.

Engraçado como as pessoas se acham no mundo...

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No show na farra, hoje. Vou me pautar pelo horário do Rio, são exatamente 23 horas, e tudo bem. Vou ao Tangolomango amanhã.

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Me enroscar no meu edredon de flores, um bom livro, e ainda falta saber que se eu esticar o braço só um pouquinho, vou encontrar costas quentinhas para as quais me virar, esconder o rosto e tentar dormir.
Exausta.

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Se um dia disser que entendo homens, internem-me! Ou enlouqueci ou estou mentindo descaradamente. Bah! Um dia, me passa um fora hercúleo. No outro, mais doce que o doce da batata doce.

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Em época de Natal...

Não sou amante: sou amiga secreta!

(Obrigada, Mário Prata!)

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Minha Valentina, desculpa por ontem. Saí quase onze da produtora, cheguei em casa incoerente de cansaço, só lembrei de tudo hoje. Tô desculpada?

terça-feira, novembro 18, 2003

Vou editar depois, direitinho... Mas é que é quase um marco poder escrever aqui da base...



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Drops at work

A Sem Noção me passando um briefing de roteiro:

— O rapaz está na floricultura comprando peixe para a namorada!

Hã?

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A separação foi quase uma dor. Amantes no cais; ele indo, eu lançando as lágrimas como âncoras de um amor recém descoberto.

Foi difícil separar os corpos. Além da tarde quente, que parecia nos derreter e fundir um no outro, tinha a porra do amor visguento, que impedia que as mãos soltassem das costas dele. Cores fortes no piso e na parede, um mar de gente se despedindo: nem parecia equipe de trabalho em viagem, e sim uma família se separando.

E nós dois lá, agarrados, sentindo dor a cada tentativa de deixar que os corpos se fossem. Mergulhamos nos olhos um do outro. Ele, a dizer que tinha descoberto que me amava. A dizer que pensava em mim a semana inteira. Ele, que me manda mensagens de texto com trechos de música, com poesias de Camões, que está se esmerando em Florbela Espanca para me mandar mais bilhetes.

E eu, arrebatada por um amor admitido e dito, tomada de amor na mais completa acepção da palavra. Eu, ali, quase pedindo para ele não ir. Eu, que esqueci o mundo em volta. Eu, que recebi hoje o carinho que não veio ontem; que não tive, e não terei, os beijos que me confortariam. Eu, que senti uma dor quase física na separação do abraço. Eu, que tanto amo. Ele, que tanto ama.

Nós, que nos descobrimos ontem.


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E por que o beijo nunca virá, e eu não estou deprimida? Jamais saberemos...

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"Mais uma noite sem você
Que parece nem ligar
(...)
Já que eu não posso ter você,
Fecho os olhos
E qualquer corpo
Passa a ser o seu"


Isnard, o melhor deles, Formosa

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Briga, briga comigo e me deixa. E volta pra casa, ruminando dores de amores, enquanto eu saio do trabalho e vou ao encontro dos meus. Me deixa, anda, e fica até essa hora tardia pensando que podia estar comigo! E onde se enfiou essa garota? Me deixa mesmo, e admita, na quinta volta pelo quarteirão, que me ama, e que não adianta brigar consigo mesmo. Admita que me ama, pelo menos pra você mesmo!

Assuma seu amor por mim, assuma que te assusto, aceite que tem medo de me perder. Aceita, homem, a mulher que eu sou. E continua a me amar assim: desafio, carência, paixão, independência e humor. Me ama. Desse jeito torto mesmo. Mas me ama.
E tudo o que eu queria era carinho, era um beijo que não veio — novamente por causa da logística —, era um abraço mais apertado do que eu tive. Tudo o que eu queria era ter alguém para quem voltar, era ter para quem ligar quando disse que "essa foi a gota d'água" e disse que estava me desligando da equipe. Ninguém aceitou a minha demissão, mas e daí?, eu não tinha pra quem contar, mesmo.

Eu queria não estar aqui, queria estar correndo com um vento morno ao meu lado, vestido solto, asas nos pés e não no pensamento. Queria que amanhã fosse 15 dias atrás, e que depois de amanhã fosse 20 de dezembro. E que soprasse um vento e desarrumasse os dias do calendário.

Queria alguém esquentando o outro lado da minha cama, alguém que me esperasse sair do banho com um livro, aproveitando o meu abajur, para depois desembaraçar os meus cabelos e me abraçar. Queria que aquele beijo tivesse sido, queria não só lembrar a maneira como os dedos percorreram a minha orelha, mas sentir novamente. Queria o abraço daquela noite, as mãos nas minhas, a minha cabeça no seu ombro, com uma aura de gin e bourbon em torno de nós. Queria novamente sabê-lo pelos arredores.

Queria acreditar que não me apaixonei.

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Sim, pedi desligamento da equipe, e não, ninguém aceitou. Nesta bundinha que mamãe passou pomada Johnson, ninguém enfia com areia!

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De BBBahia para Conquistadores do Fim do Mundo, passando pela Ilha da Sedução e a Casa dos Artistas: o meu roteirista está escrevendo os meus episódios de uma casa de custódia para doentes mentais...

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Eu precisava estar dormindo, e não aqui, com a cabeça tão longe, imaginando o que ele poderia estar fazendo agora....

domingo, novembro 16, 2003

Peace and Love Inc.

Hoje, no BBBahia, foi eliminado um candidato, o diretor de arte, e um produtor pediu pra sair da casa. O Bonitinho Traidor continua com a sua relação de amor e ódio com a Produtora Madrinha. Durante tensa reunião, ele tentou fazer com que os participantes da casa se voltassem contra ela, mas na reunião no gazebo, ela usou uma jogada de mestre com o líder da semana e reverteu o jogo. Mais tarde, ambos se encontraram na beira do laguinho, e ele a abraçou por trás, num gesto nítido de carinho.

Com a chegada de mais dois participantes, o clima ainda ficará mais tenso entre a Avó Gatinha e o Poliana de Bigodes. Ambos sabem que a relação estará em xeque quando o Melhor dos Melhores aportar. A prova da comida não foi vencida. Todos receberam meia porção do estoque da casa, biscoito e Coca Cola.

A Produtora Madrinha, idiota, voltou a se envolver com o Fera, da temporada passada. Logo após o almoço, ele a abraçou e levou até a sala do cafezinho, onde roubou um... mentira, três beijos sabor café. Ela não se apaixonou por ele, mas está disposta a continuar o caso de onde eles tinham parado.

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Eu juro que foi tudo verdade. Meu roteirista entrou na fase reality show, mas ainda não sabe separar direito o elenco. Calha que eu estou repetindo figurinha de um álbum antigo, enquanto deveria estar vivendo plenamente a temporada BBBahia. Mas como, com o elenco que arranjaram?

Deixa o Andrucha Waddington fazer uma participação especial no meu seriado, para você ver se não mudo de Daniela McBeal para Just Married.

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E o caso vai bem, obrigada.

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E Deus me ouviu:

NÃO VIAJO ESTA SEMANA!

sábado, novembro 15, 2003

Na estrada



Canavial cheira mal. A gente passa na estrada, parece a mãe das cagadas. Bom. Viajei ontem, última hora de verdade, para fazer locação.
Na volta, passamos por uma usina de cana de açúcar, e o cheiro era algo. O ser vivente, leia-se "produtora" de elenco, lasca essa:

— Isso cheira pior que estaleiro!

Estaleiro?

— Uh... Lesa e Maquiada, nãoo seria estábulo, estrebaria?

— É isso aí!!! Estrebaria!!!


E ainda faltavam 130 km até chegar em casa...

sexta-feira, novembro 14, 2003

Realmente, duas vezes em que ver o Jô valeu a pena: entrevista com o ZERØ e hoje, com o Bruno Garcia.

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Uh... tinha mais gente na entrevista?

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Campeã do mundo

Frustrada no trabalho, triste, e ainda faço o favor de mandar às favas (ou quase isso) aquele a quem eu dedicava certo afeto. Eu vim de fábrica com dispositivo de autodestruição.

Mais uma vez uma viagem faz-se providencial: segunda estou zarpando para Maracás, a cidade que mais exporta flores na Bahia. Vai ser uma pauleira, mas vai servir para me apaixonar por outro, ou para esquecer esse. Exatamente como da última vez, quando precisei de um mês, uns beijos europeus e um mar de olhos azuis para esquecer de uma paixonite mal-resolvida.

Fugir, fugir sim, colocar a casinha nas costas, e qual caracol, seguir viagem. Devagar e sempre. Nenhuma paixão programada para o intervalo. Ninguém na equipe por quem eu tenha uma simpatia-quase-amor. Vou, volto, viajo de novo, volto, e assim vai, até dia 16 de dezembro. E aí... planos para o Reveillon fora, onde o vento me levar estou indo. Pra quaisquer braços fortes que queiram me acolher por um tempinho...

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— Saiu o cronograma!

Beleza! Vou pra máquina do Lu, abro a pasta para puxar a impressão e distribuir para os viventes do projeto.

Nomes dos arquivos:

cronograma definitivo 1.doc
cronograma definitivo 2.doc
cronograma definitivo 3.doc

Sim, Juvenal... QUAL DOS DEFINITIVOS É DEFINITIVO?

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Bohemia escura fez com que eu voltasse a tomar cerveja. Aquilo é bom demais! É a casquinha do BolimBola!

quinta-feira, novembro 13, 2003

Numa boa: um dia que termina com o Bruno Garcia na televisão está pago!

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E olha que o dia foi ruim...

quarta-feira, novembro 12, 2003

Descobri a profissão do diabo!

Ele é produtor, e tem uma filial do seu curso de formação aqui em Salvador!

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Nada é mais promíscuo que maço de cigarro de equipe de produção. Eu fumo Marlboro e Hollywood Green, a Sem Noção fuma Hollywood Red, idem Diretorzão. A Kitty fuma Carlton, o Luciano fuma Marlboro Light e ainda não sei o que o segundo assistente de direção fuma.

Fato é que quando você mesno espera, está fumando e sentindo um gosto estranho, e antes que se pense em "patchouli caboclo", a gente lembra que enquanto estava ao telefone, pegou um cigarro próximo e acendeu. Nas primeiras vezes ainda rola de pedir desculpa, mas chega num ponto tal que os maços já são comunitários.

Deve ser a única manifestação de paz em tempo integral dentro de uma produção...

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Aquele puto sabe exatamente o que fazer para me atingir o ponto fraco.

— Desde aquela última vez que a gente se viu, eu fiquei morrendo de vontade de te beijar de novo. Você é muito linda, depois de muito tempo que a gente não se encontrava eu ainda sentia o gosto da sua boca...

Stronzzo, diz isso pra todas, mas eu juro que quase acreditei que era só pra mim. E quase sucumbi de novo.

Adiante, Cavalo de Cristo, que você é mais forte que a sua carne!

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Mais raiva que medo. Mais puta que triste. Mas triste. Mas com medo.

terça-feira, novembro 11, 2003

Coisas que eu queria estar fazendo:

.planejando uma viagem
.preparando o projeto para o FazCultura
.deixando de ser ingrata com Deus por ele me arranjar trabalhos e eu reclamar
.dormindo
.falando ao telefone sem me preocupar com a conta
.escrevendo um livro
.gestando um filho (ou dois)
.indo me tatuar
.indo pro aeroporto tomar um avião
.lendo Stephen King

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Eu também estou carente...

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INutilidade pública

O filme dos Deuses Celtas está no ar! Veiculação nacional, viu, cambada?
Paulo, volta como elenco fixo para a próxima temporada do meu seriado!

A gente precisava ter tido mais conversas como a de hoje...
Frustrada.

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Não fosse o respeito ENORME pela minha Sem Noção, não fosse essa situação tão atípica, eu teria batido o pé com mais firmeza.

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Um dia eu aprendo a dizer não, a não me vender, a não violentar a minha vontade, a não...

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Um dia eu aprendo a fazer o que eu quero, a seguir meus sonhos, a respeitar a minha intuição, a...

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Um dia eu aprendo a dar o braço a torcer.

segunda-feira, novembro 10, 2003

Como vai terminar o dia de quem não dormiu o final de semana inteiro, e que em plena segunda-feira está acordada desde 1:45?

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— Um James Bond com uma pedra de gelo!

Não foi bem assim, mas poderia ter sido. Nunca, em toda a minha história, tomei um James Bond para não me arrepender no dia seguinte. É quase um auto- flagelo. Pois bem. Sozinha, triste, carregando um mundo nas costas, meditativa, emborquei hectolitros de uma mistura explosiva de vodka com martini branco.

Cheguei em casa viva, desovada por um amigo com paciência de Jó, comi e fui pra cama.

Para continuar, um adendo: no teatro grego, o côro tem a função da consciência do herói. São aquelas criaturas que ficam no fundo do palco, atormentando a vida do personagem com suas ponderações. Bom

Day after. Acordo com o travesseiro sobre os olhos, onde eu estou, as pessoas daqui são amigas? Leve-me ao seu líder! Começo a lembrar de telefonemas que dei, de longas conversas madrugada adentro. Ai, meu Deus, eu realmente fiz isso?

Ouvi o côro grego dentro da cabeça:

— Esqueça, Daniela, esqueça!

Continuei a lembrar: discuti com um terceiro, pentelhei um quarto, tirei os sapatos, bati palmas e voei. Ai, meu Deus, eu realmente fiz aquilo?

— Esqueça, Daniela, esqueça!

E teve mais: misturei duas mensagens de texto para pessoas diferentes e mandei uma declaração de amor para quem ia receber só um muito obrigada. Escrevi carta de amor, e como Deus é justo, bom, e senso de humor tem limite, acabei armazenando a carta e enviando outra. Que mandei pro endereço errado. Deus, eu fiz isso mesmo?

Aí o côro grego da minha cabeça não aguentou:

— MORRA, DANIELA, MORRA!

Dei uma risadinha e levantei da cama. Novamente NÃO ME ARREPENDO DE NADA!

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Paulo, personagem que fez participação especial (demais!) no meu seriado, tem razão: celular e email são umas pragas para quem está bebendo. Você liga mesmo, e daí?, manda carta de amor pra quem não ama, mensagem de texto trocada... Celular devia vir com bafômetro: ultrapassou um certo limite, ele não faz mais ligações que não sejam para a ambulância ou um outro amigo cachaceiro.

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O sol está alto. Vou tomar café da manhã e começar a trabalhar antes de ir pra produtora.

Como termina o dia de quem não dorme? Espero que ainda vivendo...


sábado, novembro 08, 2003

Da série "Daniela e os foras"

Passeando distraída pela calçada, peguei um panfleto que um sujeito oferecia, sorri e continuei, ouvindo a minha música interior. Sabe o comercial da Vinólia, com aquela música de violinos? Era eu mesma, desfilando. Só que não era um panfleto: era um bilhete da Loteria Federal, e óbvio, o cara veio atrás de mim e queria receber. A tal da música de violinos parou como disco de vinil que a gente parava com o dedo.

Vergonha absoluta, devolvi o bilhete, pedi desculpas e continuei, mexendo no dial da cabeça para achar outra estação.

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Agora é fato: vou trabalhar com ele!

Tenho medo de ter um colapso de emoção na frente dele.

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Utilidade pública ma non troppo

Vocês que tinham o meu número de celular pré-São Paulo, podem manter as anotações: consegui reabilitar o mesmo número!

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Eu decidi: quero fazer campanha política no Acre!

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Nota suíte

Nunca entre em guerrinha de nervos comigo. Eu vou sofrer, como estou sofrendo agora, mas não dou o braço a torcer. Eu me visto para matar, apareço na noite como a encarnação da Padilha, balanço minhas pulseiras prateadas e sumo numa dobra da cortina de estrelas.

Estamos em plena batalha, estou LOUCA para ligar, mas ainda não achei nenhum motivo coerente para tanto. Quer dizer: perguntar se está chovendo onde ele está é um tema bem razoável, não é?

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O roteirista da série Daniela McBeal tem um senso de humor do caralho. Trouxe o Fera (veja arquivo de outubro e novembro do ano passado) de volta numa tarde cinza, de humor cinza, de película rodada em P&B.

Lágrimas por ninguém, só porque é triste o fim...

sexta-feira, novembro 07, 2003

Promoção!

Só por hoje, porque estou boazinha: NUNCA, e eu disse NUNCA, entre numa guerrinha de nervos comigo. Eu sou mais filha da puta do que parte interessada.

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Que tal voltar de mãos dadas, Daniela?

— Eu já esperava por isso!

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I said YES...

quarta-feira, novembro 05, 2003

Loucura, loucura, loucura!

.Acabei de descobrir que a minha homônima na Alemanha também trabalha com televisão
.Acabei de achar na Web uma entrevista que eu nunca dei, com palavras que eu nunca usaria, num jornal até bacana
.As pessoas ainda chegam aqui procurando bizarrices...

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(Now the deed is done
As you blink, she is gone)
Let her get on with life
Let her have some fun)

Ela disse adeus e chorou
Já sem nenum sinal de amor


Vianna, o Herbert

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Je ne regrette rien...

O que é quase uma mentira, ou — segundo meu amigo querido, "Stressed" ao contrário é "Desserts", uma questão de ponto de vista — uma verdade pelo meio. Arrependida não é bem a palavra... Levemente pesarosa, que tal? Um tantinho abatida. Pronta pra outra.

Só de trabalho, Daniela?

— Não... Tem dias que foram feitos para se acumularem arrependimentos. Hoje foi um desses dias.

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Numa boa, menti: estou apaixonada, sim.

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Tarde bittersweet, nessa ordem mesmo. Onda vai, onda vem, planos no meu antigo escritório à beira mar, escritório que também foi do meu amigo querido, em mais uma das coincidências que encantam. Tudo em ordem, faltou Fanta Uva para nos deixar bigodes azuis da cor do mar.
Eu tava triste, tristinha...

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Prozac por telefone? Rá, coisas de Daniela...

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Ela tinha um sol guardado na gaveta. O sol era dela, só dela, e nunca que ela lembrava de onde ele tinha aparecido. Ela se lembra de um dia abrir a gaveta e dar com ele ali. Natural como achar uma traça.

Era um sol quentinho, e quantas vezes ela teve o seu verão particular só de chegar perto do solzinho? Solzinho e sozinha, eles não faziam um par lindo?

Um dia ela se apaixonou. Ela já não era mais sozinha. O solzinho enciumou. E apagou. Explodiu. Virou supernova de repente e sumiu.

Quando ela abriu a gaveta novamente, só encontrou restos de um meteoro ainda fumegando. E apaixonada que estava, esqueceu que tivera um sol certa feita. Natural como achar uma traça, e espaná-la, ela varreu para longe os restos de um amor. Ela nunca soube de onde tinha vindo aquele meteoro.

O solzinho, coitado, morreu para nada.

Ela viveu feliz pra sempre.

terça-feira, novembro 04, 2003

Agora é necessidade:

UMA SKY, POR CARIDADE!!!

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Algumas músicas eu não concordo. Mais da metade eu jamais ouviria se não fossem as circunstâncias. Mas as circunstâncias...

Bom...

ESTÁ QUEIMADO O CD SAUÍPE HITS!!!

São 21 super hits que te levarão num passeio de volta ao passado (nem tão remoto, mas passado!)!

Lançamento oficial: sexta-feira, 7 de novembro (dia do aniversário da Natália, a mais lindinha atriz infantil)
Onde: Tangolomango, claro!

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Meu pai, vendo uma revista de tatuagem, frente à uma foto de um tubarão-martelo na pele de um cara:

— Que coisa feia! Parece um pinto de duas cabeças!

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Estou LOUCA para achar logo o sol que eu quero e tatuar o mais rápido possível!

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Eu fico totalmente sem inspiração quando não estou apaixonada...

segunda-feira, novembro 03, 2003

Ele jurou me amar pra sempre.

Prometeu a felicidade com ele, e eu acreditei. Se me ama, por que me deixa? Por que me dá mais dor? Por que não me deixou quietinha no meu canto, esperando que outro mais compromissado aparecesse?

Mas ele me ama. Me ama e me deixou. Deixou a mim, que tanto o amava. Que tanto o amo. Burro, estúpido, egoísta, apontou uma arma para a minha cabeça e ficou brincando de roleta-russa ao contrário: cinco balas no tambor, uma vazia. E em todo esse tempo, todas as vezes em que girou o cilindro, puxou o cão e disparou, deu a suprema sorte de encontrar o lugar da não-bala.

Sou uma afortunada. Outros apontaram para mim e acertaram os tiros. Outros machucaram, e não tinham nem pontaria. Mas me matar ninguém nunca conseguiu. Enrodilhei em volta do meu próprio corpo, deixei sempre que o sangue escuro saísse, fiquei recolhida no meu canto até que começasse a cicatrizar o machucado que mais uma vez achei que era mortal. Os feridos são perigosos porque sabem que sobrevivem.

Eu agora preciso aprender a viver sem. Sem a arma eternamente apontada para mim, sem a iminência da morte, até mesmo aprender a viver sem os fracassos. Eu agora preciso saber como é viver sem ele.

domingo, novembro 02, 2003

"Hoje eu vi os seus olhos brilhando pela primeira vez!"

Eu não estava pronta para ouvir isso, ainda mais vindo daquele que disse, certa feita, que eu não era feliz de verdade. Esse menino tem uma percepção apuradíssima no que diz respeito aos meus assuntos. Me chama de "Comadre", e nenhum dos dois tem filhos ainda. Admirável é uma palavra que só foi inventada porque nenhuma outra designava esse homem. Ele tem o nome do meu primeiro filho. Ele me dá aula de filosofia, e eu o estimulo a tentar o vestibular no próximo ano.

Ele é o funcionário que todo mundo sonharia em ter, com a diferença de que acabamos sonhando para ele seguir adiante. Se preocupa com os chefes, e a preocupação é verdadeira.

Das noites em que lá fora estava melhor que lá dentro, nasceu cumplicidade e uma insuspeita amizade. E sexta-feira ele mais uma vez marcou umponto. Só ele viu, só ele percebeu. Mais um segredo meu que ele detém. Deixa lá... Acho que ele acabar sendo padrinho do meu segundo filho, mesmo...

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Nota suíte

"Fiquei com vontade de te ligar depois que te deixei em casa. Tomei um banho e fiquei lendo, morrendo de vontade de tomar a saideira..."

Por que, Deuses piedosos, porque os meus amigos não deixam a MINHA intuição guiar a vida deles? Eu lendo aquie em casa, ele lendo na casa dele, os dois com vontade de estar na rua, e nenhum dos dois ligou... Ele realmente vai sair da Liga Junior um dia...

sexta-feira, outubro 31, 2003

"Reive do Chapéu"

Fugindo das tradicionais festas de Halloween, o Tangolomango resolveu inovar: ao invés de fantasia de bruxa, um chapéu é o traje de gala desta sexta-feira, 31 de outubro. No cardápio, além da divina carne desfiada com abóbora (a versão brasileira do Jack-o-lantern), Mamutes, The Honkers, DJ Jorge, canjas especiais.

Gente bonita, excelente serviço e a garantia de que o garçom não vai começar a empilhar as cadeiras por volta da meia-noite e meia: o que mais você quer?

Serviço

O quê: Reive do Chapéu
Onde: Tangolomango (R. Alagoas, 78, Pituba. quem vem da M. Dias, primeira à esquerda na Sandwich Hall)
Quando: Hoje, sexta 31, até às seis da manhã!

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O psiquiatra Breno de Castro foi condenado à 8 anos de prisão semi aberta, pelo homicídio do pai.

Fui aluna dele em Filosofia, ainda na época em que eu acreditava. Um professor competente ao extremo, inteligente, mas já com traços de desequilíbrio. Ele trouxe Parmênides à luz para mim, que era apaixonada pelas suas aulas. Da turma enorme, eu era a única que batia bola com ele, que questionava, que conversava sobre pontos obscuros da Filosofia Clássica.

Ele matou por causa de uma suposta perseguição por parte do pai, perseguição essa que viria desde a juventude. Não acho que o sistema carcerário seja razoável em algumas instâncias, principalmente quando o preso cometeu o crime movido por forte emoção. Reincidentes e orrecuperáveis, como foi o Bandido da Luz Vermelha, deveria habitar um presídio agrícola, e pagar pela própria alimentação. Sem maus-tratos, sem agentes penitenciários espancadores, com uma atividade produtiva, que canse o corpo, que torne digna a vida do presidiário.

Justa essa pena? Não sei. Diz a lenda que ele chegou a ir armado ao campus de São Lázaro para acertar uma aluna por quem ele supostamente estava apaixonado. Pena semi-aberta é para quem não coloca em risco a vida de mais ninguém. E eu não sei se é o caso dele.

Talvez porque eu saiba que os acidentes acontecem até perto da gente, fiquei balançada. Eu gostava dele.

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Crônica em video clip

Almoço com uma companhia deliciosa, Borges, Tarantino, Oliver Stone. Volto, saio com meu amigo querido, rodamos a cidade. Pára, desce, vê preço de tatuagem, volta, pára, desce de novo, quanto??? Embarca, o guardador de carro indica um cara, mostra São Jorge tatuado nas costas. Salve Jorge, é mais longe mas é pra esse tatuador que a gente vai. Não despreze as coincidências. Shopping Oxumarê, prédio verde quinta-feira, e quem mandou foi São Jorge em pessoa? Oki Yarô! Tatuagem dele mais barata, e olha só: o tatuador é a cara do Vin Diesel! E o melhor: tinha horário pra ontem!

Meio dragão tatuado no braço, calção, corpo fechado, vamos, vamos, que os dois têm compromisso! Tangolomango, morangoroska, amigo do Pará, Lala-fashion, modelo desperdiçada, Moisés tudo-na-vida, uma declaração de amor coletiva. Ai, não quero ir embora, e lá vou eu pro supermercado com a mesma companhia deliciosa do almoço, madrugada afora.

"Deixa eu dirigir o carrinho? É a única coisa que a lei me permite guiar", e seguimos desbravando os corredores vazios do supermercado que não dorme. Rimos, dividimos uma Fanta Uva, volta, fecha o bar, vamos embora. Rimos mais, "você ainda vai jogar no time profissional, sair do time dente-de-leite", boa noite, obrigada pela companhia.

Obrigada por tudo, Rei! Se não fosse você ter abrigado uma sem-saco para voltar pra casa, meus pesadelos teriam voltado, e hoje estaria sem metade desse sorriso no rosto. É bom descobrir amigos onde antes só havia um esboço.
Almoço com uma pessoa muito querida, inteligente e deliciosa companhia. Do xadrez de Borges às cenas enormes de Tarantino, passando pelas citações de diálogos infantis e questões que as crianças da época em que eu era criança não faziam. Não vi o tempo passar, e por mim estava sentada até agora naquela cadeira de espaldar duro, sob o ar condicionado de gelar pinguins, ouvindo sobre pessoas que sonham dentro dos sonhos...

Fuga inesperada (e por ser surpresa, foi mais saboreada) de um dia cinza de céu azul.

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Eu saí sem ler o horóscopo!!!



quinta-feira, outubro 30, 2003

Pré-soninho

Um prato com bolo, um copo de leite e o vidro de calda de chocolate para calar a boca da consciência: "Danieeeeela, minha filha, o regime!"

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Sou urbana, sou de asfalto, de cimento... Mas quem explica essa paixão pelas coisas verdes, essa vontade de largar tudo e tomar o rumo do sertão da Bahia, para tornar produtivas áreas secas?

Construir poços artesianos no Nordeste, plantar o que der, e deixar que os meus netos (porque eu não verei isso) acompanhem a mudança climática que uma área verde promove. Árvores, plantação, isso faz chover. Aumenta a evaporação da água, que se condensam e caem. E o que era água salobra passa a ser água fresca. E assim se faz um ciclo. Irrigação, a resposta é essa!

Não sei realmente se a irrigação do solo com água ligeiramente salobra traz danos à terra. Mas não tem nada que machuque mais, nada que incomode mais do que ver as costelas aparentes de um boi de caatinga, do que ver a terra rachada. Irriga, gente, que a água evapora e cai limpinha!

E finalmente ver que o problema de fome, de desemprego, não se curam com frentes de trabalho inúteis. Se curam com trabalho no campo, se curam quando a gente investe alguma coisa em água. Hoje, se me fosse dado o direito de escolher, era isso: criar vegetais hidropônicos e sem agrotóxicos em pleno sertão!

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Quem me conhece não acredita, né? Mas perdi o saco para baladas, eventos fúteis. Saio com os poucos amigos que me acrescentam, vou somente à dois lugares porque me sinto em casa neles, só topo música se for no Tangolomango, porque sei que tudo é selecionado com rigor. Fora isso... Poxa, não me importaria de viver num sítio, com um terrenão para fazer uma horta, ter uma piscina, ver as crianças correndo, subindo em árvore, respirando e comendo bem. Um cavalo até passar o meu medo, um homem que topasse isso tudo, minha própria criação de cenouras e brócolis... Uns pés de cupuaçu, outros de banana, jaboticaba para fazer licor e um laguinho para deitar no pier toda as tardes, jogar pipocas pros peixes e agradecer a Deus pelo tanto que recebi.

quarta-feira, outubro 29, 2003

Que tal acordar às seis, e já às seis e meia ouvir a irmã martelando nisso aqui:

Não se vá
[Não se vá
Eu não consigo suportar


Ah, isso é Jane e Herondi!

terça-feira, outubro 28, 2003

Eu procuro. Puta que o pariu futebol clube, eu sou masoquista em último grau!

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E agora fico eu desejando o mal, torcendo pela tristeza do alheio, rezando para que tenha dado tudo errado.

E deu. Ah, pela Justiça Divina, deu tudo errado!
E finalmente o silêncio. Mentira. As teclas da máquina fazem companhia para o eventual resmungo do cão vizinho. Isso, e o coração que martela, inútil, batendo por ninguém.

Desconheço essa que me olha do espelho todos os dias. Essa menina de cabelos escuros, olhos idem, não sou eu. Mas é que eu nunca dei atenção suficiente para aqueles olhos enormes que se encolhem quando dão comigo do outro lado do espelho. Eu, quando era alguém, tinha cabelos longos, não no meio das costas. Tinha um olhar menos triste do que essa mocinha aí do outro lado tem. Tinha brilho, tinha viço, tinha tudo quando ainda era alguém.

Hoje sou uma farsa. Sou a tábula rasa que se passa por culta. Sou a boa-má filha. Sou a que enrola, que sai pela tangente, que é o que não aparenta ser. Sou a clubber de zona rural, sou a descoladinha tradicionalista, sou a independente que precisa. Uma farsa.

Eu era a bobinha do jogo de bola, era a café-com-leite dos jogos coletivos. Nunca valeu pra mim. Eu sempre joguei pra valer, nunca me deixaram ganhar. Nem perder, o que é muito pior. Eu era uma não-existência ocupando espaço no universo.

Hoje acho que já sou alguma coisa. Mas o quê? Em alguns dias, sou tampa de yogurte jogada no chão, fazendo de estrela contra o negrume do asfalto. Em outros, moeda de um real fingindo ser euro. Vários papéis, sempre, sempre a amendoeira do canto do palco.

Eu escrevo, eu produzo, eu movimento, eu dirijo, eu ajo, eu penso. Eu só não sei se sinto. Não sei o que sinto, se volto a sentir tudo o que senti antes, em igual intensidade, entrega. Desisti. Vou deixar minha ameixa seca bater seguir caminho, batucando no peito mais um sem-número de vezes. Eu só desisto de sentir. Desisto de tentar me fazer entender. Vou continuar compondo minhas guaranias em braile, jogando numa gaveta, trancando à chave.

Um dia um cego paraguaio acha.

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Pior que não saber quem sou, é não saber para que sirvo.

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E não me aborreçam, não sou copista escrota!

A inspiração veio desse trecho aqui, deste homem que adoro:

"Nós não seremos como os outros amantes, acreditando que cada tampa de garrafa prateada jogada no chão é uma estrela em potencial. Nós não seres tolos como os outros amantes, acreditando que vai durar a vida inteira quando a gente sabe que vai ser um ano ou dois.
O mundo ama os amantes. Ame, custe o que custar.'

Essas frases são do Prefab Sprout..."

domingo, outubro 26, 2003

Dias lacrimosos, água que não cai do céu, nem dos olhos, encanamento enferrujado por falta de uso. Dias pesados, estou afogando em terra quase firme, e só porque a umidade do ar está acima de 100%.

Talvez por isso tenha andado com os olhos marejados de três dias para cá. Excesso de água no ar, as gotas ficam empoçadas nas bordas dos olhos...

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A Bahia não tem horário de verão. E quem disse que o meu corpo sabe disso? Morro de sono depois da novela das oito, e ela ACABA às nove e quinze. Tenho fome lá pelas onze e meia da manhã, e isso é horário de breakfast. E que tal assistir Kubanacan às seis da tarde? Tudo na vida tem um limite!

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Por que é que todo gay é um pequeno Édipo? Lindas relações com a mãe, mas a pergunta não vai calar: esse apego às genitoras não cria problemas para se desapegar e engatar um relacionamento? E o namorados não enciumam?

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Praia, busca ao discman, pagar contas ou lagartixar: minha manhã de segunda-feira vai ser divina!

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Na verdade eu queria um namorado que fosse freelancer também. Amanhã de manhã a gente juntaria meia dúzia de pertences e iria para uma praia longe de tudo. Um carregamento de livros para cada um, um discman com entrada para dois fones, beira de praia, ou borda de piscina, ou margem do rio. Tanto faz. O que eu queria mesmo era bronzear minha mão com as mãos do outro cruzadas nas minhas, deixando marcas brancas onde o sol não tocou.

Eu ia pedir um laptop para aproveitar a maré criativa que certamente vai vir, mas namorado, discman, livro e laptop já é pedir muito...
Dois casos de repostagem

Eu realmente gosto muito destes textos. E damnit!, eles são meus mesmo!


Me encanta a doçura, a energia, a curiosidade louca de uma criança. Me apaixona ver os olhos arregalarem diante do novo — e o mundo é sempre uma caixinha de surpresas para elas. Adoro ver a sadia destruição que um bebê de pouco mais de 3 anos pode causar. Destrói a maquiagem da mãe, a roupinha bem ajeitada que a vovó vestiu nele, o brinquedinho da aniverariante, a cobertura do bolo. E quando não resta mais nada para levar ao chão, nos lança aquele sorriso inocente, tenro, e sai correndo, levando consigo mais uns corações destroçados, derretidos.

Pequenas mãozinhas agarram a minha saia comprida, e por um momento sirvo de guard-rail para aquelas duas almas inquietas. Aproveita, Guilherme, enquanto não reclamam porque você puxou as saias de alguém para cima. Essa permissividade não vai durar para sempre...

— Quer um brigadeiro?
— Não, quero bolo.


E o bolo lá, do alto da sua majestade quase glacial, de neve açucarada, encarando o menino, que tão educadamente controla as mãos para que não ajam sem controle. Três anos, e já sabe que se correr o dedo por aquela nuvem branquinha algo de ruim vai acontecer.

Sentei num cantinho, e fiquei saboreando aquele desfile de roupinhas rosa, copos de refrigerantes tombados, chocolates abandonados, canções infantis, gorgolejos de vozes pouco treinadas e sem vergonha de exibir o seu idioma primeiro. Estar com crianças é mergulhar num mundo onde nada que do conhecemos prevalece. Nem adianta insistir: entre um "bigadeiro" e um chocolate que virou "cocate", eles seguem, nos atropelando com os "ômbirus", fazendo girar as hélices do "licópto", tomando "fizerantch" e conversando sobriamente com o Papai do Céu.

E lá vai o nosso mundo, pernas para o ar, como a cadeira que a Bibia acabou de virar.

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Não esqueçam de prestar atenção no peixe indo embora...

Swimming in a fishbowl



Adeus. Pra sempre.

Como um dia quis que o nosso "pra sempre" fosse pra sempre, quero que esse adeus também dure. Pra sempre. Não precisa me levar até a porta. Já me expulsou tantas vezes da sua vida que conheço bem o caminho de saída da sua alma. Estou levando as malas. As minhas. Só.

Não quero nada que tenha (des)construído ao seu lado. Os "nossos" planos já não me servem mais. Ser feliz com você nunca foi viável. Será que fomos? Será que não tomamos a pílula azul, e temporariamente nos deixamos voltar para a Matrix?

Vou derrubar as paredes que erguemos juntos para guardar nossos sonhos surrados, já meio gastos, malas rodadas. Vou arrancar o piso aveludado que escondia a podridão do assoalho velho, de madeira enegrecida pelo tempo e pelos pés que nos pisaram o coração. Vou arrancar os papéis de parede e deixar ver as ranhuras de vasos atirados contra nossas cabeças, furos de pregos que sustentaram quadros de outrora. Vou exibir as chagas que as unhas de outra deixaram no concreto da sua alma, vou deixar que o mundo veja as marcas das minhas mãos na tinta descascada, mãos que tentavam se agarrar a qualquer fragmento, para que eu não me afogasse nas águas do meu próprio desespero.

Todos vão ver a marca da bala que me trespassou a alma, vinda de trás, e os fragmentos de memória olfativa, táctil e auditiva que saíram pelo buraco feito pelo tiro. Os novos habitantes das nossas almas vão encontrar o sulco do meu corpo encolhido de dor no chão duro. Dos seus pés ruminantes, cavando um pequeno buraco para jogar o que restasse de mim. Os nossos novos hóspedes verão pequenos furos no colchão, no parapeito da janela, na mesa da cozinha, nas suas mãos, nas minhas.

Lágrimas. Todas elas que derramei quando ainda acreditava. Vou regar todos os nossos vasos de planta com as minhas lágrimas ácidas, e ver morrendo uma por uma. Flor por flor, que tanto trabalho tivemos para convencer que o mundo aqui fora não é cruel. Uma gargalhada amarga. Mentimos, florezinhas! O mundo pode não ser cruel, mas as pessoas são. Ele é. Eu sou.

Vou derrubar a lápide de um amor natimorto, que embalamos nos braços, criança no sono, na esperança de que aquele arremedo de cuidado o ressucitasse. Vou arrancar as cortinas primaveris e deixar bem à mostra as marcas que fiz com a minha testa no vidro da janela, esperando que o inverno se fosse, que você viesse, que parasse de doer. Esperando que tudo fosse de verdade. E pra sempre. Como foi o amor. Como será esse adeus.


sábado, outubro 25, 2003

"Não entendi o enredo desse samba, amor"

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Que falta de timming do cacete!

Há mais de dois anos eu espero por eisso, por um convite, por uma insistência, e quando acontece eu resolvo fazer charminho e entro pelo cano! Mas pensa, pensa numa coisa que já começou com um delay de 15 minutos! Foi exatamente isso: quando eu me dava conta, eu já tinha feito a merda há pelo menos 900 segundos.

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Troféu cara de pau

Fui arranjar uma figuração de emergência em Jacuípe para o filme dos deuses celtas. Bom. O mínimo era de 10, o ideal era mais de 15, todos vestidos para um casamento. Fiz a recontagem, 20 figurantes, por favor, senhor diretor de produção, eu preciso de mais cem reais para pagar o resto da figuração.

— Dani, arruma o pessoal na saída da igreja, duas fileiras fazendo um V.

Certo, Marco Túlio da publicidade, com esse seu sorriso abrasador eu arrumo o pessoal em qualquer letra do aramaico! Mas... Engraçado... Tem alguma coisa errada...

— Sem Noção, quantos figurantes têm?
— Um... seis... treze... dezenove, vinte, vinte e um, Dani!


Nãaaaaaaaaaaaaaaaaaao! Ó, Nossa Senhora das Produtoras de Casting Armengado, por que comigo? Por que não me deste o tempo suficiente para retirar o último incauto? Cena feita, e agora, meu Deus, e agora?

Comecei o pagamento, e sempre deixando os dois últimos a chegar no set lá pro fim da fila. No processo, estou ouvindo as conversas, e olha só: os dois figurantes que chegaram no set são irmãos gêmeos!

— Mentira!!!
— Verdade, a gente é gêmeo mesmo!


Eureka! Problema resolvido!

— Pois bem, já que vocês nasceram juntos, vocês vão dividir o dinheiro também!

Uma nota na mão de cada um, meio cachê para cada irmão, virei as costas e segui o caminho, rindo de puro desespero.

Segundo o chefe dos motoristas:

— Daniela pagou o cachê por barrigada! Cada barriga, um cachê!

terça-feira, outubro 21, 2003

Lancei minha candidatura!!!

"E assim vou treinando para um dia cumprir minha vocação e lançar meus filhos no mundo. tomara que seja em breve. "

Roubado deste blog maravilhoso, desse homem admirável, cujos futuros filhos agora têm mais uma candidata ao cargo de mãe!

Daniela 2004, rumo ao futuro!

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Horário Político

Cozinho (muito bem!), fotografo as crianças dia após dia, vou brincar com os pequenos até o dia em que eles cansarem (e aí vai me restar esperar pelos netos), sou completamente apaixonada por crianças. NÃO quero chegar em casa e encontrar tudo arrumadinho: quero encontrar crianças saltando pela casa, com pequenos pés marcando o chão de lama, pequenas patas caninas acompanhando o folguedo, e brinquedinhos espalhados pelo quintal e pela sala.

Promessas de campanha

Prometo chorar nas festas de Dia das Mães, prometo guardar todos os desenhos que vierem da escolinha, prometo deitar na beira do lago para jogar pipocas para os peixes junto com as crianças. Prometo levar ao zôo, ensinar a jogar cartas, a fazer os poucos origamis que sei. Prometo andar com as fotos na carteira. Prometo um conhecimento acima da média de desenhos animados antigos, um cabedal de cultura inútil porém divertida, prometo aprender com a minha mãe como se faz um cavalinho de pau com restos de meia e espuma. Prometo andar descalça com eles na água, não superproteger nem desamparar. Prometo tentar equacionar o amor desmedido com a disciplina.
Momento terça-freak

Estou fazendo o comercial de um carro bacana, que entra no ar daqui a alguns dias. Minhas bicicletas vão ficar famosas, já que são elementos de cena. Já fico imaginando na segunda-feira, quando elas colocarem as rodas pra fora de casa, a multidão de fotógrafos na frente do prédio, em busca da melhor fotografia. E quando a "Guidons" ligar pra cá, querendo convidar as tais para um final de semana na "Ilha de Guidons"? E se a minha Caloi começar a namorar uma Monark, alguém vai chamá-la de lésbica?

Será que alguém vai convidá-las para fazer novela? Uma do Carlos Lombardi, e elas lá, quase despidas, com o traseiro do Marcos Pasquim por cima delas? Falando em despidas, será que a "Playbike" vai querer que elas posem nuas, sem as correntes, só com o adesivo da marca? E a "Boa Forma", a querer saber o que elas fazem para continuar "magrelas"?

Pronto. Passou.

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Corre, marca pauta, briga, sofre, discute, redige, passa por fax, espera, reenvia, cobra, liga. Pára, pega um ônibus e vai ao médico. Hora marcada há duas semanas, não dá pra faltar. Chego, entrego documentos, subo escada, assino, sento, espero, espero, espero, espero.

Uma hora depois...

— Por favor, o Dr. Coisinho está com algum problema de horário? Estou esperando há uma hora.
— Mas o Dr. Coisinho já foi!


Que raios caiam do céu e que a ira de Tupã te transforme numa palmeira, ó ignóbil atendente!

— Como assim foi embora???
— Acho que entreguei a ficha para o médico errado...


Ela checa (coisa que devia ter feito ANTES!!) e sim, entregou a ficha para o médico errado. Ó, infeliz, era o único dia em que não podias deixar a burrice vir à tona. ELA me pergunta:

— E agora?

E agora que você volte à sua forma de origem, seu repolho!

— E agora voce vai arranjar um horário extra pra mim esta semana ainda!
— Quinta-feira está bom pra senhora?


Ó, não! Ela falou as palavras da maldição! Pelos deuses celtas, não! Juro, vi uma frota dos carros do comercial passando pela cabeça da imbecil, enquanto 43 MODELOS (piores que atores) recitam MAL o texto do filme que vamos rodar!

— Impossível!

Ficou pra segunda-feira.

Nesse episódio, nenhum coelhinho e nenhuma balconista BURRA foram feridos.

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Sem estar apaixonada fico chata à exaustão...

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Outro que vai virar astro... O sacana foi aprovado no casting que NÃO ia fazer.

Vou mudar de profissão: agora sou agente de bicicletas, pés-de-pato (oh-yeah!) e pranchas de bodyboard e amigos relapsos.