quarta-feira, dezembro 24, 2003

Brigamos, Deus e eu. Mais uma vez, acho que a segunda só neste ano, esfreguei meu dedo sujo no nariz celestial, e disse umas verdades pra Ele. Pedi a Deus para acabar com a piada. Chega. Senso de humor tem limite. Humor negro, então, a paciência acaba rapidinho. Acabou. É bom eu não morrer por agora, Deus, que senão você vai se arrepender de me levar para o seu lado direito. Vou passar a eternidade reclamando, você vai ver.

Quis morrer, quis fugir, ameacei comprar passagem de ida pra algum lugar. Só de ida. Nenhuma das músicas que cantarolo para readquirir minha serenidade veio à mente. Usei o ás de espadas da manga sem pudor, prometi o que nunca existiu, dancei e solucei como se fosse sábado. Quis chorar, não tive lágrimas, ouvi conselho que não se dá, joguei tudo pro alto, caiu tudo na minha cabeça, de volta.

Terminei, voltei, terminei, desconfiei, sofri, sofri, doeu, sofri mais um pouco. Marquei passagem aérea para tirar a limpo essa história, desmarquei, dei enter, deletei. Tive insônia, derreti na cama, ouvi a mesma música por mais de duas horas, escrevi longas cartas de amor. Uma, duas, três, e ainda não tinha conseguido concatenar. Fiz lista de itens para a mochila que vai comigo ao encontro dele. Perdi o medo da altura, da instabilidade, do movimento uniformemenete variado. Ou nem tão uniforme assim.

Perdi o chão, flutuei no ar como se fosse pássaro, suei frio, tive febre de verdade, tremi, abstraí e voltei. Coloquei outro no lugar, levei pra festa, apresentei pros amigos. Ouvi a voz do meu valete preferido: "Ele é bobo, né, Dani?", e descartei o novo personagem. Mayday, mayday, dei cheque caução para pagar o telefone, ninguém veio ao meu socorro, estava sozinha de novo, a ilha. Um viajou, o outro ia viajar, o outro é viajandão. Sempre.

Reveillon no Rio cancelado, estou de passagem comprada para outro lugar. Acordei com outra disposição, com outros sinais, com outras frases ditas só pra mim. Volto ao campo de batalha. Quem me conhece sabe que posso ser ré de crimes vários: arrogância, impetuosidade, intempestividade e everything else. Mas para os que estão chegando agora, basta ter em mente que eu nunca, em tempo algum, pude ser acusada de omissão. Nunca desisti de uma boa briga antes de ter um braço, uma perna e o orgulho amputados.

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Anjo da guarda plantonista

E olha só, como a vida é engraçada: a coisa mais carinhosa que chegou em meu auxílio foi o email de um homem que nunca pousou os olhos em mim — eu tampouco nele, embora morra de vontade... —, email que tirou véu por véu dos sete que circundam aquela alma deliciosa. Obrigada, pela segunda vez hoje. Temos, sim, o nosso segredinho. A resposta "valendo" vai por email daqui a pouco.

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A primeira coisa que pensei, quando caiu o mundo, foi: "ainda bem que tomei meu Prozac hoje".

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