quinta-feira, dezembro 11, 2003

Vida que corre em círculos, todo dia o mesmo dia.

Acordo, e a noite não foi suficiente. Estômago atípico, parece que engoli um homem peludo. Tony Ramos. Ou uma mamona, daquelas que a gente usava para fazer guerrinha contra a facção inimiga da rua de cima.

Sensação estranha, não é paixão. Paixão eu acho que ainda conheço, é um friozinho bom... Azia não é, embora pareça muito com paixão. É como se eu tivesse comido um gato vivo à força: ele cravou as unhas na minha garganta, por dentro, e desceu rasgando.

Marcas por dentro, marcas por fora, marcas da desistência. Pra mim chega. Game Over. Vou faxinar esses relacionamentos empoeirados, jogar fora as figurinhas repetidas, rasgar o álbum velho e comprar um novinho. Chega de reciclagem do amor que está com a data de validade vencida. Faz mal, dá efeito colateral, a gente acaba achando que todos sempre serão a mesma merda amarga e inócua.

Quero acordar para um dia diferente, diferente no sentir, não no agir. Quero acordar e achar o anil uma cor linda, e não ficar torcendo para que o cinza-chumbo venha fazer companhia para essa alma Flicts. Quero parar de procurar, quero ser achada, cortejada, mimada. Chega de ser a dominadora, a que tudo resolve, a que toma a frente, toma um fora, toma vergonha e toma chá-de-sumiço depois. Quero o homem certo batendo na minha porta, me levando ao cinema. Prometo que até pipoca eu como, que choro de verdade se for drama, que escondo o rosto no braço dele com medo do monstro da tela.

Quero telefonemas no meio da reunião chata, para eu poder fazer aquela cara de "é o cliente, desculpem", e sair para fumar um cigarro e dividir o meu tédio com uma alma companheira. Quero colocar o colchão na varanda e ficar olhando o céu e conversando baixinho, abraçada, sem a obrigação do sexo por tabela. Quero dormir abraçada, enroscar as pernas em pernas outras, ver uma gota de lua escorregar costas abaixo.

Velar o sono dele, acordar com beijos, tomar banho junto, café da manhã na cama, jornal de domingo espalhado, cada qual com o seu caderno preferido. Quero rir de piadas secretas, quero ser cúmplice, quero dividir os coqueiros da minha ilha com o homem certo. Quero mostrar o meu mundo, quero rir, quero beijo com sabor conhecido, calmo.

Quero bordar um nome de homem na minha pele, seu rosto na memória; quero gravar a sua voz na minha secretária eletrônica e ouvir todas as vezes que der saudade.

Quero ir. Mas quero, sobretudo, um motivo para voltar.

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