quarta-feira, julho 30, 2003

Samba de uma nota só

"Maresia, sente a maresia
Maresia..."


Eu não aguentava mais a falta de humor do meu cérebro! Uma pauleira lascada, trabalho de carregar pedra — quer dizer, câmera —, e eu a cantarolar um refrão infâme que fala de vida mansa?

E este foi o dia de ontem, pedras no lombo, e "maresia, sente a maresia...".

Hoje, feliz da vida, passo o tempo cantando "...um amor em cada porto! Ah, se eu fosse marinheiro". A manhã todinha, todinha, cantarolando isso. Lá pelas tantas, a constatação:

— Puxa, que bom que eu deixei aquela música chata de lado, aquela "maresia, sente a maresia..."

Ato contínuo, a real: o nome desta música de hoje é... MARESIA!

A pergunta é: que espécie de linha de raciocínio segue este ser humano?

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Um piercing... Mas onde? Uma tatuagem, mas o quê? Um amor... Mas quem?

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Costa do Sauípe é o que há, realmente. Não tenho certeza de que toleraria ficar lá mais de dois dias, mas para um dia, e um show, foi mais que a vida! Quer dizer... A depender da companhia, 2 dias lá é pouco... Mas nada, absolutamente nada me faria desistir do Praia do Forte Ecoresort. Uma semana lá, e eu tenho que ir direto pra um spa.

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Depois que a última nota terminou de vibrar no prato da bateria, meus pés vacilaram para tomar o caminho até os 13 degraus do palco ao chão. Show complicado, sábado difícil, que sucedeu um fora monumental, dia para pôr à prova os nervos e a sensibilidade.

O dique emocional estava seguro por um fiapo de sonho, uma gota de esperança e uma pitada de fé. Eu jamais poderia romper a barragem ali! Não no meio de todo mundo, não sem poder dizer que estava desagüando por causa do meu coração partido, por causa do desrespeito, por causa do amor que cada um demonstrou por mim.

E não, eu não poderia pegar com as mãos sujas o coração tão sensível, tão vulnerável, e colocá-lo à vista de todo mundo, sem uma redoma de carinho que o livrasse de parasitas, vírus. E assim continuei a descer as escadas. Os 13 degraus já tinham ficado para trás, mas eu não havia me dado conta: continuei descendo, descendo, rumo ao inferno.

Como um peixe no aquário, via as pessoas andando em slow motion, falando com suas vozes abafadas, rostos distorcidos pela lente de vidro que separava a minha infelicidade da alegria deles. Quem estava no aquário? Eles? Eu? Nós?

Não precisei de muito mais: um abraço. Só um abraço apertado. Mais nada.

Mais nada? Como assim? Foi um abraço não só de braços estreitando meu corpo, peito quente, coração batendo no compasso do meu, parecendo ensaiado, ombros que receberam a minha cabeça cansada e magoada: foi um abraço de almas. Um abraço apertado, quente, que espremeu meus canais lacrimais e fez soar o alarme dos cinco minutos.

Desvencilhei daqueles braços, balbuciei um pedido de desculpas, e fugi em direção ao caminho de madeira. Cinco passos na ponte, e toda a decepção, todo o amargor, toda a tristeza se liquifizeram, e correram em direção ao chão. O corpo se dobrou sobre si mesmo numa convulsão emocional, e foi sacudido pelos soluços do choro que há muito não vinha. O escuro continuou o abraço que começara lá atrás e ali, protegida de olhos alheios, rosto escondido na dobra do braço, cigarro queimando na outra mão, ali eu fiquei, drenando a tristeza de dentro de mim.

Meia hora, e não mais do que isso, consegui secar apagar as trilhas de lágrimas sulcadas no rosto, e finalmente olhei em torno. Meus olhos, ainda marejados, se encarregaram de fazer com que a imagem da lua se multiplicasse por milhões, prismas, fragmentos de prata no céu. Abaixo de mim, sob a ponte, gotas de lua se acotovelavam para inundar o outrora seco laguinho. Eu chorei a lua cheia do céu! Eu chorei as lágrimas do lago!

E foram elas que virara vitórias-régias quinze dias depois, num outro sábado, num outro tempo, no mesmo lugar. Vitórias-régias de lágrimas. Lágrimas de lua. Lágrimas de lua cheia.

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Bacana a conversa com uma amiga muito, mas muito querida:

— Notícias de fulana agora eu só quero quando for óbito!


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