Quando consegui colocar parte da cabeça para fora, vi que no afã de respirar, tinha trazido também fragmentos de Clarice Liuspector. Não me leve à mal, Leitor Caríssimo. Não sou daquelas — daquelas, você sabe, que idolatram Lispector —, não sou radical, e nem sempre tenho tempo, paciência, ou ciência, mesmo, para acessar esses mais obscuros reconditos da alma.
Mas isso, além da acurada descrição do CFA, isso da Clarice me abateu:
Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector – Tentação – na cabeça estonteada de encanto: “Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível”. Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.
Note, prezado Visitante, que nem cito Clarice ipsis literis. Cito Caio falando dela. Tenho medo de novamente mergulhar, dessa vez num universo clariciano, e descobrir que, como no mar do Caio, de lá tamém não se volta facilmente — e jamais incólume.
E é isso. Não só o Caio, mas os ruivos basset e menina. Não só o prosaico, mas o amor que não vingou, e também o menino de barba azul e a menina antes ruiva. Não só as palavras que foram escritas, mas também as letras que ficaram suspensas, por dizer, perdidas num tempo menos delicado e pouco gentil.
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Pronto. Abri uma cerveja — raridade, já nunca bebo sozinha —, servi meio copo, coloquei o resto da lata do congelador, e voltei a esticar as pernas sobre a CPU. Ainda tenho alguma dor de cabeça, e dois dias sem remédio fizeram meu labirinto enlouquecer de novo. Azar, quem queria equilibrio, mesmo?
O mesmo remédio mantém dois tipos de equilibrio: emocional e físico. Nem preciso dizer que ambos andam em falta. Talvez por isso eu venha oscilando tanto entre o sétimo e o quinto círculos do inferno.
Chega. Vou deixar o resto da cerveja para amanhã a noite. Agora é hora de banho, Carlos Eduardo Novaes e cama.
Pela atenção, muito obrigada.
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Hoje eu mataria por um cigarro.
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Saco de papel na cabeça! Na minha!
Essa Diana Krall é estúpida de linda.
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No restaurante
A Lourinha se enturmou com "os amiguinhos". E brincam, correm, vão pro parquinho. Lá pelas tantas, vem ela, e pergunta baixinho no meu ouvido:
— Mamãe, posso trazer o amiguinho para sentar aqui na mesa?
— Claro, minha filha!
Volta ela com um molequinho lindo de uns cinco anos, com cara de rapazinho.
— Oi, você não quer sentar?
— Nãaaaaaaaaaao, só vim aqui para conhecer a mãe dela. "Ela" era a minha filha.
Oi, eu sou daniela, tenho 32 anos e tenho um genro.
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Enquanto isso, a filha de 1 ano da minha amiga transbordava charme para cima do guri na mesa ao lado da nossa.
As mães das duas Messalinas? Cochilando por cima de mariscos e bolinhos de queijo.
Decadence sans elegance.
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Nota mental: retocar as raízes do cabelo quando convidada para o Programa (argh) do Jô.
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