(Einstein)
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O inferno é a repetição.
(S. King)
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De novo.
Eu ia começar o texto de hoje no mais fúnebre clima. Não, não estou exatamente morrendo de felicidade, e não, não tenho nenhum motivo que faça valer a pena essa melancolia desajustada.
Também não faço parte daquela cepa de gente que deprime no natal. Não, não senhor, tenho preguiça de deprimir numa festa de aniversário, seja minha, seja de Jesus.
Estou aborrecida, e só. Bom, não é bem "e só". Estou a cuspir marimbondos, estou a dormir largamente, estou sem dizer uma palavra desde as oito da manhã (e antes disso não as usei muito). Desliguei o celular até agora há pouco, e só liguei de novo porque minha cria loura está na casa do pai — e sabe como é: filho embaixo da asa da gainha, yadda, yadda, yadda...
O comodatário do meu passe está numa aprazível cidade sul-baiana, onde residi por longos quase doze meses. Sua família é de lá, e lá vai ele em direção ao sul dourado. O Moço diria que é uma insensatez (para usar a mais meiga das palavras dele quando se refere a essa cidade) sair de Salvador para lá, mas fazer o quê? Se a minha família fosse de Jequié, eu também... Não, Jequié, não, eu NÃO iria. Bom, minha família é do Rio, e não vou passar Natal lá. Não por falta de vontade. Falta vontade da minha conta em se desfazer de quase mil reais para uma festnha onde come-se demais (menos na minha casa, ceia na medida), ri-se de menos, e sempre forçado, trocam-se presentes não muito úteis (e todos os que ganhei eram perfeitos para mim), e volta-se pra casa sem ter podido ir pra um oba-oba na casa do melhor amigo.
Digressões, digressões de uma criatura que passou a noite na superfície do sono, boiando e eventualmente afundando. Dormi de menos, pensei demais, como não convém. Não prevejo consequencias para o mundo, nem para o Cosmo — o micro e o macro. Talvez uma ou duas cicatrizes no meu relacionamento, mas o que é da vida sem uma ou duas marquinhas para ilustrar histórias?
Então, o meu dia de natal me encontrou assim: uma da tarde, um copo de coca Zero, meio saco de Doritos, cigarros e computador. E silêncio. Não silêncio absoluto, como eu teria pedido de presente, como eu preciso e mereço. Silêncio de vozes. Minha, dele, dela, deles, de todos. E isso é bom. Estou sem música também, e o único som produzido por esta casa é o do teclado. Conforta.
Devo voltar pra cama eventualmente, e descumprir mais uma vez o combinado com amigo querido, de ir até a sua casa para enterrar os ossos da ceia, rir das suas aventuras nos shows da Madonna (sim, ele foi a dois dias) e voltar pra casa flanando. Devo quebrar o silêncio, ligar para amiga querida, que há exato um ano me emprestou a própria família para o almoço de Natal. E devo emitir mais uns dois grunhidos de satisfação como os de agora, depois de me espreguiçar longamente na cadeira do computador.
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Ele não respeita minha rabugice. Estou espumando de alguma coisa mais passiva que raiva (porque nem pra isso tenho ânimo), ele me liga, virado de ontem pra hoje ainda, e diz que "me dedica essa música":
Tanto tempo longe de você
Quero ao menos lhe falar
A distância não vai impedir
Meu amor de lhe encontrar...
Cartas já não adiantam mais
Quero ouvir a sua voz
Vou telefonar dizendo
Que eu estou quase morrendo
De saudades de você...
Eu Te Amo!
Eu Te Amo!
Eu Te Amo!
Eu não sei
Por quanto tempo eu
Tenho ainda que esperar
Quantas vezes eu até chorei
Pois não pude suportar...
Para mim não adianta
Tanta coisa sem você
E então me desespero
Por favor meu bem eu quero
Sem demora lhe falar...
Eu Te Amo!
Eu Te Amo!
Eu Te Amo!...
E eu, sabiamente, me rendo a um sorriso rasgado no meio da cara, e deixo para discutir o ocorrido mais tarde, daqui a menos 28 cervejas, e menos 450 km.
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Ana,
Foram 32 anos para o cupido treinar tiro ao alvo comigo, sempre errando, sempre acertando onde não devia, criando paixões que não podiam, amores que não iam, romances que ficaram. Dessa vez ele me acertou em cheio. Sabe quando falta o ar quando você pousa os olhos pela primeira vez naquele que você tanto quer? quase a sensação de um murro no estômago?
Então... foi assim. Manda o email do seu cupido, que o meu agora vai ser treinador de franco atiradores. Quando você menos esperar, e um dia te conto a história toda, com rio, barcos, encontros e o resto, seu cupido vai ser medalhista de tiro.
Beijo, beijo, feliz natal!
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Agora não quero mais silêncio. Vou botar roupa de festa e voar para o oba-oba na casa do amigo querido.
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