quinta-feira, janeiro 30, 2003

E onde havia trevas, luz. Onde havia dor, prazer. Onde havia o cinza, a cor.

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O sol, que começa a pintar de lilás a última hora de negrume da noite, transformou em pó os sentimentos vis. Tenho medo, porém, de que o meu lado negro seja mais real que a Daniela fofinha, bonitinha, Hello Kitty. Tenho medo de mim mesma.

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Três dias que não passam. Vou tomar um Dormonid a cada 12 horas até domingo.
Take 1

Quanto tempo um ser humano suporta emoções tão ambíguas e intensas?

— Cooooooooorta!

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Take 2

As vezes era melhor não ter esperança. Se nada der certo, quem não tinha esperança acaba ficando satisfeito, "eu sabia que não ia dar certo...". E quem tinha, amarga mais um touchdown do time adversário.

— Cooooooooorta!

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Take 3

Roller coaster emocional, Daniela Shake, Barco Viking, Gangorra, Banzé no Velho Oeste, What a hell?. Escolha: o cardápio de nomes é variado, o produto é o mesmo...

— Cooooooooorta!

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Take 4

Eu não quero machucar ninguém. Ninguém mesmo. Nem mesmo a mim. Aliás, eu quero ser a primeira a não sentir dor.

Dilema Tostines: machucar a mim mesma para não machucar ninguém, ou sair baixando o sarrafo em todo mundo para não sair ferida?

— Cooooooooorta!

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Take 5

Eu tenho certeza de que não vou conseguir ser clara. Tentei, mas as cenas não ficaram boas. Tenho certeza de que não vou conseguir responder a pergunta alguma. Óbvio: as perguntas giram desatinadamente na minha frente, redemoinho com pontas afiadas, que me lacera a pele a cada volteio caprichoso que dá. Deixa pra lá.

— LATA!!! Cooooooooorta... E copia!

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Baixo astral, né? Motivo algum pra isso... Whatever, o tempo é o Senhor da Razão. Amanhã eu estou melhor de novo. E conto de hoje, crise de querido diário.

Voltamos com a nossa programação normal.

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TRÊS!!! FALTAM TRÊS DIAS!!!

quarta-feira, janeiro 29, 2003

— Você é uma das mulheres mais interessantes que eu conheci nos últimos anos. Você não merece o que você faz consigo mesma. Sabe qual é o seu problema? Você é múltipla, consegue pensar com clareza em cinco, seis coisas diferentes ao mesmo tempo. Tem "taquicérebro", não pára. Precisa se movimentar para que o corpo não sofra com a sua agilidade.

Ouvido de um cara que conhece mulheres melhor do que nós mesmas. E assim, num fôlego só, sem que ele ou eu respirássemos. As pessoas se juntaram num trabalho conjunto de ajuda ao próximo?

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Bittersweet Day. Fui com uma amiga muito querida para uma reunião no local onde vai ser o Festival de Verão. Pela primeira vez pude ficar sentadinha, só de espectadora, saboreando cada martelada, cada grito no palco.

Backstage é mágico. Alguma coisa naquele burburinho frenético carrega o ar de uma eletricidade que causa ondas de arrepio, e uma estranha sensação de coletividade, de ser parte de um todo. Sempre, sempre é assim.

Hoje, entretanto, foi um pouco diferente. Não me senti fazendo parte daquela orquestra bem regida. Era uma observadora, voyeur num vão de janela, espiando o vizinho gostoso trocando de roupa. Nunca terei aquele vizinho, mas eu adoro ficar olhando, degustando com os olhos do pensamento.

Esse festival não é meu. Mas foi um dia. Foi num dia em que eu ainda acreditava em lealdade alheia, emcorações bons, em almas iluminadas como parceiras de trabalho. Esse festival foi meu de dentro da house, comemorando o aniversário de um amigo querido. Esse festival foi meu quando a minha equipe dos sonhos modificou todo o nosso esquema de trabalho por causa da escalação para o evento.

Uma alegria doceamarga fez com que os cantos da minha boca se curvassem ligeiramente para cima. Um meio sorriso. Escárnio de mim mesma. It´s time to be happy, and no pain, no gain.

Revi meus amigos de trabalho, minhas duas equipes queridas, a apresentadora com quem dividi quartos de hotel, risadas e pizzas frias depois de 20 horas trabalhando. Senti um friozinha na barriga com a afinação das câmera, fui no caminhão de corte, abracei e beijei quem estava disponível. Troquei um longo e mudo abraço com o meu cinegrafista mais cúmplice, mais companheiro. Votos de boa sorte nessa minha nova empreitada foram ditos, e tenho certeza de que mais da metade foi de coração.

Eu fiz a minha opção. Não me arrependo dela por um único segundo. Faltava-me a consciência de que não posso ter os dois mundos. Hoje essa consciência me caiu como um raio. Podia ter doído mais, mas friamente eu consegui colocar na balança os prós e contras. Um mundo e o outro foram postos em cima da minha mesa imaginária, e medidos, apalpados, interrogados, ameaçados, pesados, analisados.

E um outro meio sorriso curvou os lábios daquela garota estranha, elegantíssima e destoante do ambiente dentro do seu vestido longo e fluido, azul marinho. Saber que eu podia estar ali e ESCOLHI não estar me deu uma deliciosa sensação de não-pertencer. A sensação que sempre combati hoje serviu-me de alento. Porque o não-pertencer significa que eu posso transitar pelas esferas que me apetecerem, e que sempre terei um porto onde atracar o meu veleiro. Esse não-pertencer, significa, acima de tudo, que pertenço a mim mesma.

Ver toda a movimentação de montagem do evento foi uma prova de fogo. Mas não foi, com certeza, a única de hoje.

Hoje o sol, juiz das atitudes, me cobrou "luz-cidez" .

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Pelo meu relógio, faltam 4 dias.


terça-feira, janeiro 28, 2003

Valsa brasileira

Vivia a te buscar
Porque pensando em ti
Corria contra o tempo
Eu descartava os dias
Em que não te vi
Como de um filme
A ação que não valeu
Rodava as horas pra trás
Roubava um pouquinho
E ajeitava o meu caminho
Pra encostar no teu


Subia na montanha
Não como anda um corpo
Mas um sentimento
Eu surpreendia o sol
Antes do sol raiar
Saltava as noites
Sem me refazer
E pela porta de trás
Da casa vazia
Eu ingressaria
E te veria
Confusa por me ver
Chegando assim
Mil dias antes de te conhecer


Edu Lobo- Chico Buarque/1987-1988
Para o balé Dança da meia-lua


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Cinco dias, e parece que os segundos se arrastam/aceleram. Cinco dias, e não sei se estou realmente acordada. Cinco dias, e cada minuto de sono serve para mitigar essa doce agonia. Cinco dias, e não sei mais fazer planos com mais de uma semana de antecedência. Cinco dias, tanto a fazer, e o corpo se recusa a obedecer: prefere ficar divagando pelos meandros do "quando".

Cinco dias me separam de abraços apertados, tagarelice sem taximetro, olhos que se tocam enfim. Cinco dias para acordar... e começar o sonho. Faltam só cinco dias.

domingo, janeiro 26, 2003

Qualquer um que sabe fazer contas mínimas sabe que a contagem regressiva vai desembocar em 2 de fevereiro.

O que nem qualquer um sabe, só os que estiveram comigo nos últimos dois anos, é que dois de fevereiro é A data cabalística para mudanças de planos, de rumos, de vida.

Quem acompanhou, e tenho uns dois ou três amigos que podem comprovar, sabe que no dia 02 de fevereiro do ano retrasado eu estaria embarcando para Boston com um amigo para viver por lá. E a viagem já foi um sucesso antes de acontecer. Nunca aconteceu, a bem da verdade, mas o sucesso era na parceria: Felipe e eu, cúmplices todo o tempo, amigos, irmãos de alma.

Dois anos depois, o dia dois de fevereiro vem carregado do estigma da mudança, sob o signo do sucesso. A aura é a mesma: meus companheiros de folguedos também são cúmplices, amigos, irmãos de alma. Nada é tão radical quanto atravessar 10 mil quilômetros, cinco fusos horários, um continente inteiro. São apenas dois mil quilômetros ("apenas" agora, né, cara-pálida? Há duas semanas esse "apenas" era uma zona abissal, de tão insondável...), mesmo país, nada de estranho.

A data é a mesma. Ela faz aniversário, e Mãe Maior que é, presenteia tão prodigamente os seus filhos.


A alma levou o corpo, e o passeio foi maravilhoso.

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Um dia inteiro só pra mim, presente inusitado que há tempos não me dava. Uma exposição de nautimodelismo, um abraço atrasado 4, 5 anos, uma boa parte do tempo ajoelhada na grama, brincando com um modelo de navio mercante no espelho d'água do 2º Distrito Naval.

Despedi dos meninos nautimodelistas, e meio sem pensar, deixei o corpo vagar pelas esquinas do vento. Eyes wide open, olhos da alma enxergando mais que os olhos do rosto, e sincronizei os cinco sentidos. Sistema perceptivo otimizado, e deitei o olhar novamente apaixonado sobre a cidade que me envolveu num abraço morno no momento exato em que desembarquei.

Temos briguinhas como qualquer casal: às vezes saio do sério, detesto alguns hábitos dele, mas quem ama tudo perdoa. Pouco tempo depois da última rusguinha, Salvador me oferece como presente de paz uma visão do mar com o Farol da Barra ao fundo, ou o único pôr-do-sol no mar que o Brasil tem.

E ontem não foi diferente. Ontem o presente não foi de paz, já que temos vivido bem nos últimos tempos. Ontem Salvador me ofereceu um presente por todos os anos de amor absoluto, de fidelidade, de lealdade, de carinho. Salvador, ontem, me mostrou de novo suas cores, seus cheiros, seus sons.

Turista da própria cidade, visitante da própria alma, caminhei com uma mochila nas costas por todo o Mercado Modelo. Percorri os corredores do mercado, andei pelos corredores da minha própria consciência. Cada dia desse casamento bem sucedido de 14 anos voltou à tona.

O cheiro do protetor solar da minha própria pele me deu de volta muitos dias de sol. Meu primeiro acarajé. Minha turma do cursinho. Volta da praia durante o carnaval, pirralha em corpo de gente grande, ouvindo cantadinhas baratas e inocentes de pirralhos tão pirralhos quanto eu. As oito horas diárias de mar que nunca me transformaram numa big rider. As horas intermináveis de patinação no prédio do Gui, os palavrões berrados na quadra de futebol em frente à minha janela.

Janelas... Janelas que se abrem para o jardim onde estão todas as boas histórias. Jardim onde estão plantadas pessoas queridas. Pessoas-flores, pessoas-cactus, pessoas-árvores. Pessoas que vieram, pessoas que foram, que continuaram, que nunca estiveram; pessoas com raízes enormes no meu jardim, pessoas que se protegem com espinhos, pessoas que estão só de passagem.

E assim fui, pessoa por pessoa, num desenho mágico. História por história num desenho lógico. Meus olhos embotados de dendê e lágrimas. Sentei pra descansar como se baiana fosse, dancei e gargalhei como se fosse a única. E tropecei no piso centenário do Mercado como se ouvisse música, e flutuei no ar denso de maresia — cheiro novo de cais velho — como o sábado que era.

E Salvador me fez feliz de novo, amante amável, gentil. 14 anos de casamento, eu peço um tempo (anosdiasmesesvidassegundosquantoquantoquanto??), e mesmo assim continua me presenteando com os cheiros que aprendi a amar; com as cores fortes que foram bordadas à minha própria pele, criando uma fazenda em flicts, vermelho, preto, verde e amarelo.

Dois portos de registro, credenciais aceitas. Agora eu tenho um outro lugar para onde voltar. Eu, amada desalmada desamante, estou voltando pros braços do meu amor primeiro, com as bençãos do meu amor de toda a vida.


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SETE DIAS!!!!!!!!!!!!

sábado, janeiro 25, 2003

De uma amiga louquinha, que anda tão feliz quanto eu:

— Ah, Dani, está parecendo final de novela, né? Todo mundo tão feliz...

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Vinda em casa num "soco". Desembarque-Doca Ceará no Porto, um bom amigo praça embarcado a convite, vai me ciceronear pelas profundezas da belonave. Deus benza, Deus benza, Deus benza!

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Oito, oito... FALTAM OITO DIAS!!!!!

Oito dias me parece um número bem plausível...

OITO, OITO, OITO DIAS!!!!!!!

sexta-feira, janeiro 24, 2003

Se eu estiver dormindo, POR FAVOR!!!, só me acordem na hora de embarcar.

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A pergunta é: QUE LUA É ESSA?

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Eu andei conversando com Deus, e disse que se eu estiver fazendo alguma coisa que ele ache que não é o correto, que ele por favor me avise. Por vontade própria, eu não arredo pé desse caminho.

A resposta está vindo pelas vias mais loucas, bem ao gosto desse Ser Superior que me orienta. As novidades vão se encaixando de maneiras estapafúrdias, mas vão se encaixando.

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O que era pra ser um retumbante fracasso está se tornando o meu sucesso mais expressivo. As coisas podem estar virando para o bright side of the moon para essa elemental que vos fala, habitante do reino dos Ares, tão volátil quanto. Eu ainda não entendi em que momento as coisas passaram de "ah, foda-se, não vou me sujeitar a isso" para "Caralhos, estou muito perto de conseguir!!".

Anyway, a manhã que começou quase perdida está se transformando num GRANDE dia... Boas respostas, inesperadas revelações. Nem tudo cor-de-rosa, mas cores estranhas não amedrontam essa menina-flicts.


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Como nunca é demais:

DEUS BENZA, DEUS BENZA, DEUS BENZA!!!

Que seja doce, que seja doce, que seja doce!!!

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Nove. FALTAM SÓ NOVE DIAS!!!!!!!!!!

quinta-feira, janeiro 23, 2003

AGORA SÓ FALTAM DEZ DIAS!!!

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O único mal de não dormir é que os dias demoram muito mais a passar. Mas passam...

quarta-feira, janeiro 22, 2003

Um computador em rede, tempo, cabeça livre: não falta mais nada para promover um auto flagelo digital.

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E foi o que fiz.

Uma vez me disseram que a minha capacidade de improviso com um computador e acesso à internet era surpreendente. Tomei como elogio, mas preferia as vezes ser uma inútil informática. Evitaria que eu mesma me sabotasse, me machucasse, me traísse. E foi isso que eu fiz hoje comigo mesma.

Não contente em ter contas pra pagar, em ter explicações a dar, dinheiro a receber, eu ainda procuro uma maneira de me deixar perversamente beirando o desânimo. Estúpida, idiota. Nada daquilo me dizia respeito, mais. Nada daquilo pertencia à minha vida desde tempos imemoriais (MENTIROSA!!!). Acessei instâncias que eu achava que não existiam mais. Ou que sempre disse nunca terem existido.

Mas elas estavam lá, como tio internado e esquecido no asilo, ossos de família que nunca se desfazem. O veneno sempre esteve lá, eu é que tinha esquecido, eu é que andava achando que estava perto do caminho para me tornar um ser humano melhor. Ingenuidade de quem realmente quer ser um pouco melhor um dia. Litigante de boa-fé.

Passa. A consciência de que fiz só para me machucar é quase suficiente para mitigar a dor. Meus dedos foram mais ágeis que meu cérebro embotado de cimento e lágrimas. Acharam facilmente o caminho da informação que eu precisava para fechar os olhos como quem recebe uma bala quente no meio das costas.

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Estou adiando um telefonema. Coragem é bacana na teoria, mas na prática...

De hoje não passa.

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AINDA FALTAM 11 DIAS!!!


Telefone pago, passagem paga, dívidas pagas. Faltam algumas, mas a sensação de auto-gestão é maravilhosa!

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Conversa boa num dia de lua vazia. Retomei contatos antigos, amigos perdidos nas dobras do tempo, e um email e um telefonema ecoaram e trouxeram de volta as risadas que foram dadas juntos. Amigo querido, história linda de dedicação ilimitada, na época em que eu mais precisei de colo, carinho e atenção.

Nossas vidas sempre correram juntas, os mesmo interesses, alguns problemas iguais, uma boa relação familiar. Noites inteiras discutindo sobre armas, montando planos mirabolantes de defesa, de ataque, de ser feliz. Angústias mais despejadas que divididas: era a certeza de que nunca haveria a sensação de estar sendo ofendido pelo outro. Sabiamos que jamais seriamos capazes de machucar um ao outro.

Promessa cumprida. Nunca nos ferimos, nunca nos magoamos, nunca fizemos o outro sofrer. Cumplicidade muda, mesmo quando viamos que o caminho escolhido pelo outro era meio tortuoso.

"Se eu não casar até os 32, eu vou ter que casar com você"."Pra me pedir o divórcio uma hora depois, né?", e era o motivo das risadinhas abafadas que cortavam quilômetros de fios telefônicos, que mais do que levar vozes, levava carinho. A proposta nunca foi séria. Ninguém melhor do que ele sabia dos meus sabores, dores e amores, e o mesmo se dava comigo.

E os laços foram se dissolvendo, papel na chuva. Passou-se um mês, depois outro, depois mais um, e nossa correspondência cessou. Trabalho demais para ambos, uma nova namorada para ele, mais uma desilusão para o meu extenso curriculum. Os meses viraram um ano, a namorada dele é outra — maravilhosa —, agreguei mais desilusões e enganos ao meu histórico. Nos falamos rápido, "oi, que saudade!, há quanto tempo, o que tem feito?"

Mais 10 meses, e enfim refizemos a ponte. "Tem tempo de encontrar uma amiga quase baiana no início do mês?" O que se seguiu foi o inevitável. Quando, como, onde. Sem porquês. Eu tinha esquecido desse detalhe: ele nunca questiona as minhas atitudes.

Finalmente vou poder trocar um abraço forte com esse amigo tão querido.

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Segundo um estudioso de Led Zeppelin, "House of the rising sun" foi gravada no álbum preto, e ele mesmo, esse conhecedor, não conhece ninguém além dele que tenha o disco.

A Shaggainteligence Agency continua investigando uma prova mais concreta dessa suposta gravação, questionada por um CatClown que tem como único defeito ser torcedor do Corinthians. Ninguém é perfeito...

Resposta:

— A-hãã...

Ai, como ele é lindo!

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Passagem pra onde? Ah...

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AINDA FALTAM 11 DIAS!!!
A contagem regressiva passa, a partir de hoje, a ter um ponto de partida. E de chegada.

FALTAM 11 DIAS!!!

terça-feira, janeiro 21, 2003

Todo mundo sabe que "House of the rising sun" foi regravada pelo Led Zeppelin, né?
Acordei com uma lembrança. E um plano.

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Lembrança de um par de olhos que sorriem pra mim da tela do computador. Lembrança de um piercing mínimo no nariz, lembrança da boca bem-feita, lembrança de uma estrela d'água. Eu quase adivinho o seu cheiro, mas a sensação é fugaz. Seu gosto é quase uma lembrança, quase familiar, ao invés do exercício de sonhar. Quase sinto a textura da sua pele sob as minhas mãos. Quase...

Quase.

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Inconformada com os maus resultados do último trabalho, venho arquitetando saídas honrosas para enfim deixar a consciência em paz. Acordei com o plano do próximo trabalho pronto, pronto. As imagens desfilavam diante dos meus olhos, exatamente como seriam. Seriam, futuro do pretérito mesmo. NÃO VOU FAZER ESSE TRABALHO!.

A decisão foi ponderada quase em excesso. Minhas fichas estão em jogo, e a roleta já está rodando. Mesa de bacará onde estão em jogo mais do que simples cacifes. Estranhamente, nada há a ser perdido. Muito há a ser ganho. Não existem losers nessa história. Não há duplo Zero. Só números pares, vermelho e preto.

Não só por isso não aceito o próximo trabalho. Não aceito pq tudo na vida tem um limite. Só por isso.

Minha dívida está quitada.

segunda-feira, janeiro 20, 2003

Postando do trabalho da mamãe!

Versão moderna de dar papel e caneta para distrair a criança em visita no trabalho dos pais...

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Resolvendo a vida...

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Fragmentos

.A faculdade virou fumaça.
.Momento fútil: fui ao salão! Patinhas de cima e de baixo pintadinhas com cores bacaninhas, sobrancelhas lindas, luas em holograma nas unhas. Auto-estima, minha filha, desce daí!!!
.Super promoção do que mais quero: R$ 379,00!!! Mais 9,90 de taxas extras.
.Vida entrando (saindo) nos eixos.
.Medo de mãos dadas com a delícia.
.Programando uma nova tatuagem. Mas só faço se tiver Alguém que fique de mãos dadas comigo, para me dar apoio.
.Fazendo hora pra ir na TV fechar meu caixa.
.Fazendo hora para marcar meu horário para trocar o celular
.Fazendo hora para atracar meu barco no porto. E rezar para as minhas credenciais serem aceitas na nova (velha) embaixada. E que meu barquinho não seja deportado do meu cais querido.

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Um erê está do meu ladinho, hoje. Erê, viu, amor, não um exu mirim!

Resposta:

— Ahã!

Ai, como ele é lindo!!

(Daniela com sorriso bobo, bobo...)

Pouco mais de 4 horas de sono, a cabeça fervendo de idéias não-realizadas, de dúvidas que machucam, de interrogações que ainda caminham sozinhas... Semanas sem consultar meus oráculos digitais, com a exceção para o horóscopo certeiro que o meu CatClown descobriu.

Gazeta intencional, resolvo que não, não vou à faculdade. Vou ler horóscopos. Todos. Todos os que guardo o endereço nos meus "Favoritos". Apontei para o primeiro. Li. Li de novo. Falei um palavrão. Li mais uma vez. Sorri. Minha decisão, tomada há minutos ainda na cama, estava confirmada.

"Mande as dúvidas para o inferno em vez de permitir que elas infernizem você. Mande as dúvidas para o inferno e aja mesmo que nada pareça certo. Você só saberá se o caminho é certo ou errado depois de começar a trilhá-lo."

Horóscopo para Gêmeos - Oscar Quiroga - Estado de S. Paulo

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Não li mais nenhum. Não precisou. Estou indo pra rua resolver minha vida.

domingo, janeiro 19, 2003

A resposta boa veio num mau formato.

Não entendo mais nada dos desígnios celestiais: apenas os aceito. Tal e qual uma pororoca emocional, as águas se chocam na minha cabeça. De um lado, águas boas, limpas, turbulentas; do outro, águas más, sujas, maculadas, barrentas, carregadas de detritos.

As águas limpas se fecham numa onda perfeita, onda-aconchego de águas tépidas. Abraço esperado, desejado, e um suave —porém firme — conduzir do corpo, enfim liberto, para o fundo. As águas ruins são desordenadamente rebeldes, as gotas que a compõe não se entendem entre si: cada uma quer ir pra um lado. E vão. A condução do corpo para o fundo se faz sem singeleza. Sem sedução, os braços se agitam para voltar à superfície. Em vão.

As águas não se misturam. Por quê?

— Simples, Pequena Gafanhota: não sintonizam as energias ruins as energias boas. A resposta no seu coração sempre esteve.

QSL, Mestre Yoda. Daniela-San copiou a mensagem.

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Rá! Essa menina é psicodélica!

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O pé não está quebrado. Uma luxaçãozinha boba, e dois dias de cama, carinho e afagos me deixaram pronta para. Afago, carinho, remédio importado de longe, que me faz bem só porque sei que existe.

Foi uma semana tumultuada. Seria um resultado triste se eu estivesse sozinha, se não pudesse esconder meu rosto nas dobras do abraço que mais quero, garantia muda de que tudo vai ficar bem.

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O pé está bem... Mas estou com uma gripe tão chatinha...

O corpo padece, mas a alma? A alma está dançando Edelweiss nas colinas verdejantes da Irlanda (eu sei que é na Áustria, mas a alma é minha e ela dança onde quiser!). Descalça, com uma coroa de margaridas nos cabelos soltos, selvagem, solta, feliz...

Scratch (onomatopéia para vinil sendo parado bruscamente. Suspende BG.)!!!

Edelweiss? Sua alma está dançando Edelweiss? Tá louca, Daniela?

Another turning point
A fork stuck in the road
Time grabs you by the wrist
Directs you where to go
So make the best of this test
And don't ask why
It's not a question
But a lesson learned in time


It's something unpredictable
But in the end is right
I hope you'll have the time of your life


So take the photographs
And still frames in your mind
Hang it on a shelf
Of good health and good time
Tattoos of memories
And dead skin on trial
For what it's worth
It was worth all the while


Good Ridance (Time of your life) - Green Day


Ah, agora sim a alma está com letra e músicas apropriadas! Ligeiramente adaptada, mas...

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Sintonia é uma coisa absurda... Roubado do blog deste homem a quem tanto amo!

Lua cheia em leão

Uma semana em lua crescente. Tudo acontecendo ao mesmo tempo. A gente fica com aquela impressão de estar bom demais pra ser verdade. Que babaquice! Por que a mania de se sentir mal quando as coisas estão indo bem? Não que tudo esteja perfeito, enfim, o mínimo de perfeição tá longe, mas pelo menos coisas estão acontecendo.

Ultimamente sinto falta de um chá mate, ou um de hortelã. Visitando vizinhos blogueiros a gente meio que assume a impressão do mundo sempre estar em desequilíbrio. O Cheney me falou uma coisa interessante no ICQ essa madrugada: "A vida é uma eterna fase de transição." Ao qual interpelei: "A inquietação, a busca... bicho carpinteiro que faz a gente sempre se angustiar, nem que seja sem motivo!" Tem pessoas que definem como anima, bruxas italianas chamam de volonta, eu chamo de constante-angústia-e-impulso-pra-sempre-m udar. Ninguém gosta de mudança, dá trabalho e medo, mas ser sempre o mesmo é estagnar-se. "Mudar" no sentido de evoluir (esse não é o blog da dialética filosófica de relativizar tudo, paro aqui, pra não entrar na pergunta: "e o que é evolução?"), não no sentido de assumir máscaras diferentes. Vira a página.

sábado, janeiro 18, 2003

Sleep to forget.

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Algumas coisas, pessoas e memórias deviam ficar pra sempre envoltas em brumas. Mas não dá. Putz, não dá mesmo!


sexta-feira, janeiro 17, 2003

Cenas do Bomfim

.Esta que vos fala foi tentar uma entrevista com um senador — e desculpem, caros caríssimos, mas sou partidária dele. Empurrada pela multidão, fui "cuspida" bem na frente do supracitado. Fotográfos a postos... ele segura minha cabeça e magnanimamente me deposita um beijo na testa. Ainda não tive coragem de ver os jornais. Se a foto foi publicada, vou ter que procurar asilo político em outro estado (ueba!!!)!

.Não. Não consegui a entrevista.

.Esta que vos fala quase sai aos tapas com um carinha da Tropa de Choque. O idiota me empurrou quando eu passava com um convidado para a área restrita da imprensa. Fomos apartados pelo Coronel Dureza, mas ficamos rosnando um para o outro. Destaque para o meu dedo espetado no nariz dele, sibilando que ele não ia ENCOSTAR A MÃO EM MIM.

.36 horas sem nada sólido no estômago

.Tomara que esse pé não esteja quebrado.

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A cada problema mais grave, e tivemos vários, eu buscava refúgio num canto da mente só meu. Me deixava embalar pela voz que dá paz, soltava as amarras do pensamento e ia em busca daquele que tanto, tanto me faz feliz. Saboreava palavras ditas, risadas trocadas, novamente me preocupava com o que poderá ser, com a rejeição, ouvia de novo as palavras ditas, as risadas trocadas.

Tempo esgotado. Refazia a conexão com o mundo cruel (que é tão chatinho...) pronta para mais uma sessão de sandices, estupidez e contratempos. E ia levando, até não mais aguentar e novamente me esconder num abraço que só existe no mundo dos sonhos.

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Ritmo de contagem regressiva. Não sei qual o número de partida, mas sei exatamente aonde vou chegar.

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"Deus é quem decide quem vai levar e quem vai deixar pra trás"

Isso foi dito por um guri de nove anos que perdeu todos os irmãos nos deslizamentos de terra em BHZ. Mais contundente que a própria frase é a o final dela: "e quem vai deixar pra trás."

É a constatação do desamparo. É a prova da falta de solução. É o abandono em estado bruto. E veio de uma criança de nove anos. Uma criança de nove anos resignada como são os de 90. Uma criança que não queria chorar em casa porque a casa já estava muito triste, ele não queria piorar tudo.

Ele tem só nove anos. E não queria chorar em casa. E acha que Deus o deixou pra trás.

Eu sou (quase) jornalista, vejo algumas atrocidades, vejo o mundo sem o filtro cor-de-rosa. O pai perdeu os seis filhos. A velhinha perdeu a casa. O menino de nove anos perdeu os irmãos. Mas antes dos irmãos, o menino perdeu os sonhos. E ele só tem nove anos.

Essa doeu...

quarta-feira, janeiro 15, 2003

Sou criança, sim, e daí?

Postando da TV, uhu!
Burlando a segurança das máquinas!
Quebrando regras!!!
Fazendo gazeta (ah, está quase tudo pronto...)!!!

Oh, yeah, baby, anarquista graças a Deus!

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Pronto: passou.

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Dormir 4:40, acordar 7:10... As madrugadas em claro têm sido mais confortáveis, proveitosas e acolhedoras do que a minha cama. É uma questão de opção: estar mais ou menos ou estar muito melhor. Tenho optado, óbvio, pelo muuuuuuuuuuito melhor.

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Por que o Caetano não gosta de mim?

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Ganhei colo telefônico, lá-lá-lá-lá-lá-lá

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Eu avisei que estava infantil... Mas EU POSSO. EU POSSO porque estou FELIZ!!! Eu posso porque o meu clown me faz feliz...

terça-feira, janeiro 14, 2003

"Tudo no mundo tem cor
Tudo no mundo é
Azul
Cor-de-rosa
ou Fruta-cor
é Vermelho ou
Amarelo
Quase tudo tem seu tom
Roxo
Violeta ou Lilás
Mas não existe no Mundo
nada que seja "Flicts"
- nem a sua solidão -
Flicts nunca teve par
nunca teve um lugarzinho
num espaço bicolor
(e tricolor muito menos
- pois três sempre foi demais)
Não
Não existe no Mundo
nada que seja "Flicts"
Nada
no mundo é "Flicts"
ou pelo menos
quer ser

Mas ninguém sabe a
verdade
(a não ser
os astronautas)
que de perto
de pertinho
a Lua é flicts!


Flicts - Ziraldo

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À hora de postagem, sempre some uma hora. Leia-se: mais uma noite insône.

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Não em branco. A menina-Flicts descobriu que existem cores no mundo que se parecem com ela. Não foi preciso ir à lua para achar seus pares. Bastou uma madrugada, um longo bate papo, e a comprovação veio: nós, os Flicts, já estamos na escala Pantone!

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Flicts é um livro de singular crueldade infantil. Conta a história de uma cor que não se assemelhava a nenhuma outra. Nunca participou das brincadeiras porque nenhuma cor a queria por perto. O azul, o amarelo, o vermelho, todos eles brincavam juntos, se misturavam. Mas não havia espaço para Flicts.

Cor estranha. Não se assemelhava a nenhuma outra, e por isso estava sempre à margem, sempre cultivando um estado de espírito muito condizente com o seu nome estranho. Ímpar em busca do par, Flicts flanou pela vida e pelo mundo atrás de alguma cor que o aceitasse. Sozinho(a), Flicts e ele(a) mesmo(a). Quase, quase conformada com a condição de exilada social, a cor Flicts só foi feliz quando descobriu que não era só. A lua também era flicts.

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Amarrando com o início, não foi preciso ir à lua.

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Mas num dia como o de hoje, que mesmo o maior sol no céu seria toldado pelas minhas nuvens — ou pelas minhas lágrimas — fica difícil acreditar que eu não estou só.

Absurdamente só, e uma necessidade quase física de pedir um colo onde a minha cabeça pudesse descansar um pouquinho. Só um pouquinho, só até aliviar um tanto desse peso, um tanto desse latejar surdo, dessa memória recorrente que não vai. Não vai.

Night scrolling

Corre a lua
Por que longe vai?
Sobe o dia tão vertical,
O horizonte anuncia com o seu vitral
Que eu trocaria a eternidade por esta noite.


Por que está amanhecendo?
Peço o contrário, ver o sol se pôr.
Por que está amanhecendo?


Eller e Reis

segunda-feira, janeiro 13, 2003

Boletim médico

(Do Shaggamedical Center) A paciente de nome Daniela encontra-se em estado crítico. O corpo médico está ministrando com regularidade os seguintes medicamentos:

.email da lista da FACOM
.email da EMTURSA
.email de um site de encontros
.email do Departamento de Comunicação
.email do santo do dia

Nenhum desses paliativos têm surtido efeito na enferma, que está inconsciente, e balbucia palavras desconexas todo o tempo. Vem sendo tentada também a musicoterapia, essa com efeitos um pouco mais pronunciados. A paciente reage muito bem à música Iris, dos Goo Goo Dolls.

Estão sendo feitos todos os esforços no sentido de que a paciente não venha a óbito. Há um empenho de toda a equipe médica para trazer Daniela de volta à consciência, mas ela não atende aos estímulos externos. Foi instalado um terminal de computador ao lado da cama da UTI onde ela se encontra, para que as doses de emails aleatórios sejam ministradas com freqüência.

QUADRO CLÍNICO:

Tremores, delírios, desconexão com a realidade, inapetência (a paciente reagiu bem ao pudim de claras, mas a dieta não é recomendada no caso em estudo), insociabilidade, rabugice (nos raros lapsos de posse das faculdades mentais).

A causa da patologia é desconhecida. Daniela foi encontrada agonizante na frente do computador da sua casa, agarrada ao telefone. Há indícios de crime de omissão. Os investigadores da Shaggadelic Police estão trabalhando no caso.

Deus só pode estar de brincadeira comigo.

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A quase-proposta que recebi hoje é quase-indecente. A possibilidade de ganhar uma grana da maneira como poderia ganhar (e excluam a prostituição: com este shape só ia conseguir dois vales-transportes e um chiclete de bola) é, por baixo, sedutora. 30 dias entre céu, e mar, e montanhas.

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Separado por 8 estrelas, mas quase o mesmo assunto.

A pior reação que eu esperava sobre o assunto "De Volta Pra Casa" era da mamãe.

Esse ser humano me surpreende absurdamente.

— Mãe, eu recebi uma proposta para viajar 30 dias...
— É curriculum? É grana?
— Mãe, 30 dias longe da faculdade seria o golpe de miseicórdia nesse semestre...
— Vai valer a pena?
— (breve silêncio) Vai!
— Então a faculdade pode esperar...
— (SILÊNCIO)
— Mas o problema é que quando você voltar, vai ficar quase sem fazer nada até o próximo semestre. Você fica depriida quando não faz nada...
— Uh... mãe... é... bom...
— Não ouvi nada!
— EU QUERO IR PRA MINHA PASÁRGADA ASSIM QUE VOLTAR!
— Tudo bem...
— Mas mãe, eu preciso voltar pra casa, preciso voltar a me virar soz... COMO É?
— Tudo bem, Dani.


Estou em choque até agora.

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E o planejamento, até segunda ordem, é:

.se rolar esse trabalho, passo os próximos 30 dias nele.
.volto e passo 5, 7 dias pra organizar minha vida aqui.
.embarco para a minha Pasárgada no final de fevereiro.

Caso paguem muito bem o meu Carnaval, fico aqui até lá, mato essa grana e embarco para a terra do pastel.

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Planos, claro, passíveis de alterações. E isso pq ainda não pensei nos contras, só nos prós.

.o quesito dinheiro é grave.
.o quesito casa também.
.o quesito faculdade é o de menos, mas é.
.faculdade pública nenhuma vai querer aceitar esta aluna medíocre que vos fala.
.faculdade particular é um tiro na minha terra.
.emprego, meu Bom Jesus dos Navegantes... onde vou achar um que me pague o suficiente para me manter?
.freelancer ou carteira assinada (Rá, como se eu pudesse me dar ao luxo de escolher!)

E mais uma tonelada e meia de questões, ansiedades, angústias... e — como negar? — a sensação do prazer antecipado...

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PAREM ESTA PORRA QUE EU QUERO DESCER!!!

domingo, janeiro 12, 2003

Pronto-socorro virtual

Mandado por alguém que parece que lê meus pensamentos, pq o horóscopo veio responder aos meus anseios, às minhas aflições. Obrigada, meu amor, pelo colo virtual...

"A semana para Gêmeos
O encontro de Mercúrio e o Sol no signo de Capricórnio pode fazer você entender o sentido do teste de paciência que o céu anda fazendo com você. ..."


Árvore do Bem - Horóscopo para Gêmeos

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Pra uma pessoa que não vive sem procurar respostas para os porquês, uma promessa de que vou entender o teste que me vem sendo aplicado é quase como prometerem o paraíso. Que assim vibre!

Insône. Estúpida insône. Estúpida e insône.

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São 07:05, 10:05 hora Zulu (um dia eu conto essa história da "hora Zulu", mas por enquanto leia-se GMT) e as minhas angústias me expulsaram da cama. Tenho meio maço de cigarros à minha frente, sinal de que a outra metade virou fumaça em algum lugar desta madrugada. Entre cochilos e linhas lidas, meu tormento aparecia como segunda voz da consciência.

Alguém anotou a placa da patrola? Não?

O que sobrou do "atropelamento" emocional desta noite foram alguns músculos doloridos, um cinzeiro abarrotado com restos de cigarros que apontam para mim, como dedos a me acusar do crime que ainda não cometi.

Um longo email-desabafo, um copo de chá gelado, horas de pensamento sem fio de condução, e vejo o sol cumprindo sua função de juiz. Dessa vez, não das atitudes impensadas, mas sim das decisões longamente ponderadas. Para o bem ou para o mal, minha decisão está tomada, e é irrevogável. Irrevogável como são as minhas leis: quem as faz sou eu, quem as quebra sou eu também.

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Dilema profissional para mascarar a dúvida pessoal. Nem sei mais o que sou, o que quero, o que pode dar certo. Deve ser a lua nova, que faz crescer as marés e as lágrimas dos meus olhos. Lua mexe com as águas.

Acho que estou cortando laços inconscientemente. Estou andando temerariamente por cima da fina camada de gelo-equilíbrio que passei os últimos dois anos construindo. Dane-se se ela quebrar. Estou pronta para o que está por chegar. O que quer que seja.

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07:27. Apagar o último cigarro da noite, tentar dormir. Fim da transmissão.

sábado, janeiro 11, 2003

As asas da minha alma têm-me conduzido ao lugar onde mais gostaria de estar.

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Prazeres e vícios

Cigarros mentolados. Tirinhas do Calvin. Banhos longos, com um bom livro. Livro, aliás. Água quente. Escrever. Pastilhas Garoto. Chiclete de bola. Doces. Coca Light. Fanta Uva. Spiderwebs. Daschunds. Tatuagens. Sims. Sundae de caramelo do Mac Donalds. Desenhos animados antigos. Mochila. Conhaque e Coca Light. "Ela disse adeus" ao vivo. Pizza de presunto, catupiry e alho. Dia nascendo. Vento no rosto. Dose diária de lirismo e carinho que recebo do meu bittersweetclown...

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Tudo, tudo está me empurrando para fazer o que o meu coração manda. Não sei se me assusto ou se me encanto com a viabilidade dos meus planos.

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Resolvido: me encanto e me assusto. Eu sou geminiana, eu posso sentir coisas diferentes.

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Alone in the dark. Again. O que está acontecendo com os outros seres humanos que costumavam interagir comigo?

quinta-feira, janeiro 09, 2003

Os dias têm sido um arremedo de produtividade.

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Pela primeira vez joguei o assunto "Voltar pra Casa" na mesa do almoço. Meu pai recolheu com o cuidado de um dreamcatcher, e não teceu nenhum comentário desfavorável. Só perguntou como eu ia me manter na minha Pasárgada.

— Vou garimpar alguma coisa, pai, e se conseguir, transfiro a faculdade pra lá.

Ainda não sei se é o o que vou fazer, tampouco sei se é o caminho correto a trilhar. As pessoas estão indo embora. Amigos de quem eu não achava que ia sentir tanta falta, amigos que vão e a gente, insuspeitamente, já tem saudade.

Talvez seja a minha hora de fazer o roteiro inverso. Uns vão embora de casa, outros voltam pra ela. Peixe sonhando com a piracema. Faço parte do grupo das tartarugas que correram mundo, mas que voltam às areias de onde nasceram. "Voltar é uma forma de renascer; ninguém se perde no caminho da volta."

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Fazendo um email-blog agora de manhã, escrevi o texto abaixo. Gostei, e pedi a autorização do destinatário das palavras, o agora dono do texto, para publicar. Antes da permissão chegar, resolvi postar. Desculpa, meu Clown querido, por esta indiscrição...


"Como abandonei a faculdade nada menos que cinco vezes, nesse semestre a minha matrícula é condicional. Tenho que ir na Secretária de cursos e inventar uma boa desculpa para preencher o formulário de processo e justificativa. O que eu poderia dizer?

JUSTIFICATIVA:
'Prezados senhores:

No mês de agosto do ano que findou-se há exatos nove dias fui abduzida. Levada por uma civilização superior chamada Yargo, passei nove luas por lá, mas não a lua daqui. A lua de Yargo. Fui estudada, fizeram uma operação onde foi-me retirado o apêndice para fins cientificos, mas aproveitei a estada e estudei bastante a civilização deles.

OBSERVAÇÕES:

Poderia eu converter as nove luas yargonianas em tempo de curso de extensão, atividade esta obrigatória para a conclusão do meu curso? Caso não seja possível, posso aproveitar as horas passadas em estudos no outro planeta para o meu currículum terrestre? Pouca diferença faz: eu não entendia nada do eles diziam, mas também não entendo nada do que dizem aqui.' "

terça-feira, janeiro 07, 2003

Enquanto eu tiver uma caixa de soníferos, perder uma tarde inteira dormindo não me assusta.

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O coração mandou, e eu atendi. Mandou que eu fizesse meu habitual papel de palhaça, expondo minha vida ao ridículo para mim mesma. Rabisquei uma boca vermelha no rosto, arremedo de sorriso, incapaz que fui de rir da minha própria piada.
Com o "Lightining for Television and Motion Pictures", livro que tem me acompanhado há uns dias, fui pro playground do prédio. Queria sentir se os efeitos que o sol exerceu sobre mim ontem seriam repetidos hoje.

Pés descalços, para nunca perder a conexão com a terra; olhos nus, para verem e serem vistos sem a máscara confortável dos óculos escuros; coração num ritmo incerto, sem saber exatamente o que queria.

Mar azul, azul na minha frente, meio mexido, e um pensamento: "Tomara que ele não tenha saído pra nadar com o mar revoltado hoje." Coração impreciso no querer, que mandou que eu fosse tentar a sorte enquanto esperava sinceramente que ele não tivesse saído pra tostar o corpo ao sol.

Segundo minha amiga de óculos, melhor que tivesse sido assim. Melhor que eu tenha recebido uma amostra do meu presente na lua nova, porque na crescente é que as coisas vão mudar. Sábia, sábia amiga, que tem certeza de que o meu homem ideal não faz parte de nenhuma lista de "Os melhores homens do passado". Sei lá, sei lá, vou deixar pra Deus a tarefa de traçar o meu caminho.

Fui sabotada pelo meu próprio coração. Bittersweet clown. Mas foi melhor assim. Preferi perder hoje que perder de vez para a Mãe Maior, para a dona das águas.

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Meu doce Clown, quer dizer que era você ao telefone? Desculpa, se eu soubesse, minhas horas de sono vazio, sem sonhos, teriam sido preenchidas por alguns momentos de vontade saciada.

domingo, janeiro 05, 2003

O vício por Sims continua, o que é uma boa coisa pra quem anda meio imprópria para o consumo humano. Acho que os meus amigos perceberam, e tenho sido esquecida com uma certa freqüência (e Zeba, se vc ainda lê isso aqui, não, não é geminianismo). Sem ressentimentos, entressafra de Daniela.

Leio, durmo, jogo e falo no telefone. Como alguma coisinha (YES!!! Estou me relacionando com a comida como uma pessoa normal!!), trafego pela casa, leio, durmo, jogo.

Sinto falta de quem eu sou quando estou em atividade. Um dos males de ser freelancer é esse: os contratantes tiram o couro num determinado período, a gente sonha com cama 24 horas por dia, encostar em qualquer lugar dá sono e almoçar é proibido — a produtividade cai pra perto de zero. Aí vem o final do evento/vídeo/show, e são dois dias dormindo e farreando indiscriminadamente. A partir daí é uma rotina terrível. Volto pra faculdade amanhã, mas mesmo assim não tenho porra nenhuma urgente para fazer. E eu AMO trabalhar sob pressão. Meus melhores textos foram feitos a toque de caixa, minhas soluções mais brilhantes vêm quando peço: " Você me dá 5 minutos?"

O resultado é que não consigo ter ânimo para nada: nem as atividades que eu tenho obrigação, nem as lúdicas. Não crio um roteiro, um conto, as crônicas que saem são essas que vcs lêem aqui...

O lado bom de ser freelancer é que as segundas-feiras são meus dias preferidos para a farra. Farra... humpf... Nada de música alta, nada de bebidas — uh... a segunda passada foi um deslize... —, nada de bares da moda. Outra coisa genial para quem não tem emprego fixo é que eu posso escolher o que vou fazer. Instituo feriados para mim, aceito trabalhos que pagam pouco — pq me apaixonei pelo projeto —, abro mão de trabalhos que pagam melhor — pq não tenho a menor simpatia pela equipe. Trabalho de graça se é por amor, cobro alto se não gosto do evento.

Cada trabalho envolve uma equipe diferente, equipe pela qual posso me apaixonar ou criar uma relação de ódio. Encontro diversas pessoas que já trabalharam comigo em outros eventos, conheço gente nova dia-a-dia, incremento o meu network. Ganho e perco amigos, ganho e perco namorados, conquisto respeito e admiração, faço rivais.

E me dou férias quando bem entendo. Carnaval, para mim, se for pago o meu peso em ouro — e acreditem: é coisa pra caramba! —, ou me deixarem trabalhar com a minha equipe preferida. Fora isso, estou zarpando para a minha Pasárgada. Pousar finalmente os olhos na minha irmã querida, no meu clown preferido, rodar sem destino, sentindo cheiro de concreto, fumaça e pastéis de feira. Voltar pra casa, e decidir o que é que eu vou fazer da minha vida daqui pra frente.

Posso ficar em Salvador, terminar a faculdade e trazer mais tarde à pauta o assunto "E agora?". Posso voltar pra casa de vez, transferir o curso pra lá, me virar pra pagar, continuar freelancer e fazer toneladas de cursos de edição, direção de fotografia... Posso ir pro Rio, adotar a casa da vovó por um ou dois meses, transferir o curso pra lá, me virar pra pagar, continuar freelancer e fazer toneladas de direção de fotografia, roteiros...

Ou posso largar tudo e ir pra Australia; ou posso prestar vestibular para Ciência da Computação, ou posso ir de vez pra Itália, ou pra Áustria, ou pra o Egito, ou pra Yargo. Possibilidades infinitas, coragem escondida atrás da comodidade. E da saudade antecipada dos que ficarão por aqui.


sexta-feira, janeiro 03, 2003

Se um dia te oferecerem The Sims, FUJA! Sua primeira noite após Sims será de sonhos estranhos, e você acordará suando, com medo de não ter despertado o avatar de nome "Frank" para o trabalho. E nas suas contas, seria esse o segundo dia de trabalho perdido dele. Imagens confusas de uma mansão megalomaníaca vão povoar os seus pesadelos, sempre mescladas com a sensação de que há um incêndio na cozinha, de que você não teve diversão suficiente, que não foi ao banheiro quantas vezes foram necessárias, de que não tomou banho na hora em que devia.

Se por acaso você não resistir, NUNCA, NUNCA coloque sua amiga na mesma casa que os seus paqueras da vida real. Quando você começa a ver o M. dando em cima — dando em cima, não, "interagindo" — da C., o sangue ferve, os olhos só enxergam em vermelho. O seu passado negro com o M. voltará, e aí, forte amigo Leitor Fiel, só tratamento de choque e lítio.

Se você realmente quiser jogar, reserve uma noite inteira para o primeiro dia, um maço de cigarros extra, se fumante for, e faça como eu: divirta-se!

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Regime, OK. Mas, caramba, quem consegue lutar contra a Cabocla Formiga, que veio sem avisar? Culpa alguma tenho se a minha casa parece um buffet de doces! E juro que nem é resolução para o Ano Novo gregoriano. Vou deixar as inovações para o Ano Novo Daniélico.

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Rá! Segunda-feira chegando e eu vou tentar voltar pra faculdade. Aulas de coral universitário, Impressos 1 e 2, Temas de Televisão... Por que raios eu não fiz Direito? Estaria formada, já, ganhando dinheiro, andando de tailler pink, espirrando absurdamente por causa dos processos empoeirados.

Mas não! Me encantei com o Maravilhoso Mundo da Televisão, e mais recentemente, Freelancer e seus Encantos. Por que não, deuses, um emprego estável, de nove ás cinco, grana garantida no final do mês, rotina confortável?

Sabe-se lá...

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Banho, casa do Ernesto, filme. A vida não podia ser pra sempre essa vagabundagem? Aliás, vagabundagem, não: ÓCIO CRIATIVO!

quinta-feira, janeiro 02, 2003

Passar o Reveillon de branco é prenúncio de paz. De cor de rosa, é a garantia de um ano com muito amor; de amarelo, dinheiro. Em nenhum almanaque de simpatias para a virada do ano, entretanto, eu encontrei o significado de passar sem roupa.

E nem pensem em pornografias: tomei banho, me enrolei na toalha, deitei na cama e dormi até 23:59. Acordei com a movimentação dos indóceis familiares esperando para deixar o ano velho pra trás, e tudo o que eu queria era dormir só mais um pouquinho, cinco minutos e já estou levantando.

E com o Ano Novo dos outros, porque o meu Reveillon é só no dia 15 de junho, recomeça a Maratona Cartoon de Aniversários Estranhos. Dia primeiro de janeiro, atrapalhando o Reveillon no clube chique que a minha avó tinha preparado, nasce minha mãe. Numa conjunção celeste que deve ser no mínimo uma piada, meu pai faz aniversário no dia 2. De janeiro.

Não posso falar nada. Mais senso de humor tiveram os astros do mês de junho: eu no dia 16; Miriam Lane, minha irmã, no dia 17 e Algas, a outra irmã, no dia 25. E ainda tem mais uma tonelada e meia de aniversariantes significativos, outros nem tanto, que só servem mesmo para fazer um número expressivo na nação castorpoluxiana.

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Policamente incorreta, sim, e daí?

Sim, eu gosto de "Complicated", da Avril Lavigne. Sim, eu leio e adoro Júlia, Sabrina e Bianca. Não, não leio só isso, claro. Leio Sidney Sheldon e Danielle Steel também. E por falar em Sidney, gosto do Magal e do Omarr também. Toco air drumm. Adoro a Rede Globo. Adoro o Pequeno Príncipe. Não vejo graça no Thiago Lacerda, e arrasto um bonde pelo Jean Reno. Acho Caetano um porre, não gosto de dance music. Fumo desesperadamente. Sou a encarnação da Messalina em vida. Estou proibida pela liga da TFP de beber um coquetel explosivo de vodka e martini. Detesto peixe, só como frangos que não têm a menor semelhança com os frangos vivos (uh... NUGGETS!!), acho que chuchu é um erro, a começar pela grafia confusa. O diabo aprendeu a fazer o inferno em Jequié, Aracaju não é uma capital, é uma piada de mau-gosto. Tenho boca suja, mastigo "chicletes nervosos" o dia inteiro, sou ácida, irônica e dificilmente alguém que não seja escorpiano vai me vencer numa discussão. Adoro blockbusters, acho que o manifesto Dogma é uma grande bobagem, não vi Pulp Fiction, Matrix, nem Titanic. Choro de rir com Hot Shots, adoro filme de pancadaria, fogo e tiros; posso citar uns três diretores de fotografia absolutamente desconhecidos só pelo prazer de ver a audiência com cara de intelectual ofendido.

E se você gosta de mim desse jeito mesmo, obrigada! Eu sou isso tudo aí em cima, e mais uma lista completa de defeitos. Mas tenha certeza de que eu não sou escrota, não sou desleal, não sou sacana nem desagregadora. Sou justa algumas vezes, permissiva em outras, mas lúcida. Acima de tudo, lúcida no que tange o mundo fora da minha ilha.

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Já devo ter visto "The Big Blue" umas 13 vezes nos últimos 7 dias. Meu presente de Natal. Sou completamente apaixonada pelo personagem do Jean Reno, o Enzo Molinari, apesar do Jean-Marc Barr, que vive o Jacques Mayol, estar entre os 5 homens mais bonitos do mundo na minha lista.

I think now, looking back... Big Blue foi o divisor de águas da minha vida. Como Star Wars, Grease, Casablanca e Citizen Kane mudaram a vida de muita gente, "Imensidão Azul" faz parte da minha formação juvenil. Depois de quase dez anos, eu revi o filme no dia em que ganhei. Descobri que os últimos anos foram dedicados ao exercício de produzir clichês do filme. De expressões do vocabulário até os tênis Adidas, passando pela paixão pelo silêncio, pelo amor ao mergulho, pelo fascínio que o Mediterrâneo exerce sobre mim. Revi o filme e reencontrei locações de contos antigos que escrevi, trechos da fotografia do filme que inspiraram algumas das melhores direções que já fiz. Ângulos, cortes, seqüências...

"Le Grand Bleau" trata, antes de tudo, de solidão. Mais um clichê que eu importei da arte? Ou uma mera identificação entre os iguais?