sexta-feira, abril 30, 2004

Já consegui colocar as lentes de contato e descer da cama para fumar um cigarro. Acho que há esperança de sobrevida.

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Nana, o cão agressivo, agora é a orgulhosa e rabugenta mãe de 24 sapatos, uma pilha de documentos velhos e um par de patins. Todos, mães e filhos, passam bem. Com exceção de quando preciso de um sapato, que ela choraminga como se eu tivesse maltratando os seus bebês. Mas a mim ela respeita, e no final descurte dos "filhotes" que estão comigo.

Sim, eu tenho uma cachorra que tem gravidez psicológica.

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Inferno é sentir dor e não saber aonde. É sentir que perdeu mas não saber o quê. É SABER que voluntariamente colocou um ponto final. É perder a fé em si mesma. É não conseguir chorar para deixar escapar a pressão que vai por dentro. É olhar pra trás e ver que nada valeu a pena. Nada. Absolutamente nada.

Ou como num conto do Stephen King, "inferno é a repetição".

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Vou fazer um esforço hercúleo e vou sair. Primeiro a negócios. Nada programado para a noite. Se alguma alma caridosa quiser me convidar para sair, prometo que escolho o melhor sorriso, as roupas mais bonitas e o olhar mais brilhante, tudo para ser digna de ter companhia. Prometo não fazer queixa, não ser rabugenta, nem ficar triste, amuada num canto. Já que eu perdi, e não sei o que perdi, que eu consiga achar alguma coisa para subsituir. Mesmo que seja fugaz.
Eu não vou aguentar. Tenho um amontoado bem no meio do esôfago, e dói como se fosse físico. Eu não estou agüentado. Eu perdi a capacidade de me defender. Estou perto de descompensar. Eu não sei qual foi a gota d'água. Não sei se teve gota d'água. Eu não sei de nada. Eu me perdi. Eu não posso mais. Não consigo. Acabou. Acabei.

quinta-feira, abril 29, 2004

Borderline

Desmaiei. Simples assim. Apaguei. Uma hora estava em pé, procurando um remédio para a mnha irmã, na outra estava apagada no chão. Acordei sem saber onde estava, que dia era, que horas eram e o que eu estava fazendo ali. O ali em questão é o meu quarto... Seqüela nenhuma, só um cotovelo dolorido por causa da queda. E uma sensação de torpor que tem que passar.

Motivos? Um dia filho da puta de tão estressante, onde estou entrando com os dois pés num terreno de areia movediça. Vida mal resolvida. Falta de perspectiva. Falta de resposta. Tristeza sem filtro. Dor. Solidão. Fracasso. Incompetência.

Vontade de estancar a história aqui. Eu me rendo. Pra mim, chega.

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Porque nem tudo é chatice Daniélica

Campanha que li hoje no 2004 - Uma odisséia díptica

- Pegue o livro mais próximo de você.
- Abra o livro na página 23.
- Ache a quinta frase.
- Poste o texto em seu blog junto com estas instruções.

portanto...

"Sim, tenho medo da colônia penal, não tenho vergonha de dizer, Papillon".
(Charriére, Henri. Papillon: o homem que fugiu do inferno. Paris. Ed. Silhouette, 1969.)

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E é óbvio que a balada no Tangolomango azedou. Azedar... novidade...

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Desculpa

.pela viagem inútil até aqui.
.por não ter te contado a minha novidade do dia. Esqueci completamente. Acho que você ia gostar de saber...
.pela Nana ter sido agressiva contigo. Ela não sabe que você é o futuro sogro dela.
.pelos hectolitros de suco de laranja que eu também esqueci na geladeira.

E obrigada. Por tudo. Você ainda é a "Pessoa 2004".
Pior do que um não é um sim com problemas. Pra uma geminiana, então...

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O Convento das Cyberfreiras está com uma máquina vaga. Já fiz minha inscrição para ocupar esse sacrossanto computador e dedicar minha vida à clausura religiosa. Puts, como eu ando azeda, viu?

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O inferno é checar a caixa de email de 4 em 4 minutos, esperando a resposta de uma armação, e receber somente um spam com o subject:

"Wanna a Big Penis?"

Olha que eu respondo...

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São Jorge teve que bater nas costas de Deus. Engasgou de tanto rir da minha cara...

E continua.

quarta-feira, abril 28, 2004

Deus deve estar sentado em cima de uma dessas nuvens carregadas, ele e São Jorge, rindo às bandeiras desfraldadas da minha cara de besta...

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O que tem que ser, é. Sincronicidade, coincidência, destino, whatever. No dia 22 de dezembro, dia que eu e a Mon elegemos para fazer a retrospectiva 2004, essa certamente vai receber o título de piada do ano. Quiçá da minha vida.

Eu acho que o Foca deveria parar com as drogas...

E depois ainda tem isso...

Isso é o excesso da lisergia do Pink Floyd, tenho certeza!

Daniela e seus amigos surreais...
Eu devo ser o único ser que respira - incluindo os felídeos, os marsupiais e outras espécies de vida caminhante - que ODEIA barulho de chuva para dormir.

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Futebol "enquanto" Escravos de Jó


Você lembra dos álbuns de figurinha dos times de futebol?

Antigamente era fácil. O Zico jogou no Flamengo por anos, o Leônidas é sinônimo de São Paulo F.C., Nilton Santos nunca jogou por outro clube que não o Botafogo. Todo mundo ficava quietinho nos seus times. Era só comprar os pacotes de figurinha e rezar para completar o time do Santos, ou pra sair aquele jogador carimbado do Atlético Mineiro.

E hoje, como seria um álbum de figurinhas de futebol? Eu vou por um jogador... hum... mediano: Robert. Robert foi do Grêmio - na época do famoso quem Paulo Nunes -, foi do Santos, agora está no Bahia. E o Túlio, Jesus? Há 4 anos ter uma figurinha do Túlio era quase ter o álbum completo. E agora, depois do Goiás, onde foi parar? E seja muito honesto(a): você sabe em qual clube o Romário está? E o Edmundo? E o Paulo Nunes?

Por isso é tão complicado montar álbum de figurinhas de times, hoje: além de comprar os pacotinhos com os adesivos, você compra junto o Jornal de Esportes para saber quem está aonde. E isso todo dia. A solução seria fotografar os jogadores sem as camisas doas atuais times, e em caso de troca, colar por cima do jogador cuja posição ele ocupará. E até pode-se reaproveitar a foto do jogador que perdeu a vaga de titular para o próximo time que ele assumir.

Bom, aí era melhor fazer um álbum imantado, como um tangram. Fica mais fácil de mexer as pecinhas.

Uma pergunta: os técnicos também tinham fotografia nos álbuns? Ah, tinham? Danou-se! É melhor voltar pra minha coleção de figurinhas da Hello Kitty e Amar é...

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Que tipo de ser humano faz reflexões futebolísticas a essa hora da manhã?

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As fotos não estão minimamente aparadas porque ainda estou sem Photoshop. Diz a lenda que amanhã a máquina vai ser formatada, e aí eu recoloco tudo o que eu preciso...
Pro Dani

Um dos outros sinais de que a princesa tinha sangue real foi dado na hora do jantar. Lembra que ela estava se fazendo passar por um combatente? Na mesa, a maneira dela partir o pão (com os cotovelos próximos à cintura) denunciou não só seu sexo como a sua realeza.

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Planos adiados por mais dois dias, e o cheiro de chuva não me deixa pensar direito. A temperatura caiu severamente, os pés não esquentam, os cabelos recém-lavados levam mais tempo para secar.

Enquanto a detentora das Ilhas Falkland aguarda o meu pronunciamento sobre ir ou não — mais do que isso: eles estão esperando a minha documentação —, sigo ruminando o assunto como se quatro estômagos tivesse.

Se eu for muito, muito honesta comigo mesma, não há absolutamente em jogo: não tenho vínculos, minha família entenderá (?) que vai ser ótimo respirar ares britânicos, a faculdade já está de lado mesmo, o trabalho não merece duas linhas de observação e não deixo nenhum coração partido aqui. Só o da Nana, mas uma bola de tênis supre a falta de qualquer coisa na vida dela.

E por que estou imersa em dúvidas? Por que ostento essa interrogação imensa no topo da cabeça?

A resposta é simples: porque eu nunca esqueço que numa crônica do Miguel Falabella tem um trecho que diz que "o nosso tesouro está onde está o nosso coração". E eu não tenho mais coração.

Eu estou retomando antigos contatos — e amores — na esperança de que um deles, unzinho só, me tire dessa inércia, faça o meu coração falhar um compasso, me faça sentir prazer em abrir os olhos de manhã e descobrir mais 24 horas pela frente. Virei irmã mais nova — em um ou outro caso, irmã mais velha — de todos eles, confidente, incentivadora de namoros com outras.

Nada mais me faz ficar saltitando de alegria. Exceção aberta para as vitórias dos amigos. E se não estou exatamente suspirando de felicidade, a troco de quê eu vou fugir pra um país estranho, onde as pessoas dirigem sentadas do lado direito? Um país que produziu o Mr. Bean e a cerveja Guiness... o lugar onde os Beatles nasceram... punks, Doyle, Strokes, Beckham, Smiths, raves, Ê, Príncipe Harry...

Vou lá no site da Varig reservar passagem!

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"We are at this place
Of no return my sisters
Only to discover that our values ran us around,
On the show, in the sea, of what we could be

What's right is wrong
What's come has come
What's clear and pure is not so sure
It came to me
All promises become a lie
All thats benign corrupts and die
The fallacy
Of epiphany"

Bad Religion

terça-feira, abril 27, 2004

"Consoled a cup of coffee but it didn't wanna talk"

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Eu não uso guarda-chuvas. Eles sempre me perdem.

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Daniélicas

Receita de drink

Uma dose de vodka
48,5 ml de glicerina
Uma dose de licor de cacau
Meio cálice de Frangélico
75 gramas de ácido nitrico
três cubos de gelo

Despejar COM CUIDADO todos os ingredientes num copo longo. Mexer BEM DEVAGAR.

Pode ser servido num jantar de reconciliação com o ex-namorado, com o pior inimigo, com o chefe escroto.

Em hipótese nenhuma ceda à tentação de erguer um brinde! Um tapinha nas costas do indivíduo, depois de ingerir a poção mágica, faz milagres!

Tenha um bom álibi.

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Se eu dormir mais meia hora, Deus vai achar que eu desencarnei e me leva...

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"I'm half alive but I feel mostly dead
I try and tell myself it'll be all right
I just shouldn't think anymore tonight

Dreams last so long
Even after you're gone
I know you love me
And soon you will see
You were meant for me
And I was meant for you"

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Dia desses...

Dia desses eu estava com este nick no Messenger:

Format [D:]aniela? [Y]ES [N]O

A primeira mensagem que recebo é desse amigo que eu adoro, estouradinho, mas que volta e meia me surpreende com a sua doçura...

Pai da Fada diz:
[N]

A coisa mais sucinta e mais singela que eu podia ouvir. E naquele dia era o que eu precisava. Ele sabe o que dizer na hora certa...

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Entre as aspas, Jewel - You were meant to me.



segunda-feira, abril 26, 2004

O pior já passou? Nananinanão, pequeno gafanhoto!

Agora é que vem a parte hard: documentação comprobatória, álibi, digo, provas de que tenho uma vida suuuperlegal aqui no Brasil e que não quero estabelecer residência na terra dos outros findo o contrato. Preciso provar também que tenho dinheirinho para não precisar dormir pelas praças, que tenho vínculos no Brasil que me obrigam emocionalmente a voltar (rá, serve a Nana?).

O pior: provar que sou estudante em tempo integral. Como, pela Buena Vista do Social Clube, como eu vou provar isso?

E depois da conversa esclarecedora com a Tali, o dilema: ir ou não ir?

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Não é que esse Bruno Gagliasso me lembra vagamente aquele outro a quem não quero rever nem por todo ouro do mundo?

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A gente sempre sobrevive. Com chagas, marcas; cambaios, mancos, mas a gente deita, dorme, e acorda no dia seguinte para começar tudo de novo.

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Não é imitando a Ju, não, porque eu já vinha com essa música na cabeça há mais de um mês, mas...

I just don't know what do to do with myself - Stripes

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Going there... sem beber, mas vou lá.

Daniela e seus amigos maravilhosos...
GOD SAVE THE QUEEN!

ELES RESPONDERAM!


Eu.. eu... er... eu acho...

QUE FUI ACEITA!


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Vou ali ver o sol indo embora... Se a segunda fase for igual à primeira, por um bom tempo eu não vou vê-lo se pondo no mar...



E dormi.

Depois de exaurir o espírito atormentado, caí nos braços cálidos — e desta vez , pouco confortáveis — de Morpheu, e deixei que a ervilha de três posts abaixo incomodasse as minhas costelas.

Diz aquele que eu ainda admiro que o tempo é Senhor da razão. O post de ontem é a prova de que o tempo é o Senhor da razão, mas não manda no coração.

Quase uma vida inteira nos separa, e eu não sabia que a negação e a afirmação do amor ainda poderiam me dobrar de tanta dor, enquanto as lágrimas caíam impiedosas. Poucas, oleosas, carregadas de confusão. Quero, não quero, não posso, não devo, não é certo, me deixa ai que saudade volta não fica não pode seu lugar não é aqui MAS EU SINTO TANTO A SUA FALTA.

Mas eu te amo tanto que é hora de ir. Não só de você escolher ir, mas hora de te deixar ir. Por aqui as coisas estão bem, amor pra toda a minha vida. De verdade. Segue, que eu estou dando conta da briga por esses lados de cá. Segue, que se for pra você voltar pra minha vida, estou te esperando de braços abertos. Se não for, o amor que eu sinto é tão grande, tão desmedido, que meu coração vai ficar na sua torcida. Pra sempre. Vá, você nunca vai me perder.

Ontem... ontem foi só a saudade. Foi só a constatação de que os dois fizemos burrada atrás de burrada, de que não me livrei da culpa ainda, de que a gente sempre sempre sobrevive. Mas foi a constatação também de que não se apagam certas coisas que estão tatuadas na pele. Eu sei que está lá, deixa cicatriz, e quem chegar a me conhecer, vai acabar vendo o monstro deformado e incapaz que se esconde por baixo da minha cabeleira fauve, dos meus adesivos de cartoon, do meu excesso de simpatia e cor-de-rosa.

É quase uma resignação.

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E hoje, depois de cumprir a tradição das segundas-feiras, reencontrei o meu primeiro câmera, o cara que estava comigo quando eu fiz a minha primeira — e tragocômica — direção de externa. Eliomar, que deve ter aprendido o que significa aquela janelinha "daqui pra trás" — era o áudio. A filhinha dele já não é mais tão filhinha, já tem vontade própria, já anda de moto com ele pra baixo e pra cima. Quase oito anos se passaram, e eu esperava que a Juliana ainda fosse aquele bebêzinho xodó do pai.

E no meio da balbúrdia do trânsito, ônibus, carros, pedestres e barulho, foi o meu cinegrafista querido que me deu a notícia casualmente:

Ele voltou, você sabia?

Não. Como assim? Ele voltou? Mas e...

— Não deu certo lá na África, voltou, passou uns tempos aqui e foi pra São Paulo. Está na rede de novo.

E eu, Deus, como fico nessa piada? Parece que estou vivendo onze anos em três dias! Por que estou olhando tanto pra trás? Será que porque pra frente não vejo nada, porque não sinto vontade de dar um passo adiante? Será porque estou sendo esbofeteada dia a dia com esse passado que carrego nas costas, tal e qual Atlas?

Ainda meio entorpecida — eu ando anestesiada esses dias —, segui meu caminho, Eliomar seguiu o dele. Cheguei em casa, deitei e dormi.

Sleep to forget.

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Alguma coisa tem que voltar pros trilhos.

domingo, abril 25, 2004

Pela última vez, de verdade.



30 anos.

30 anos são 360 meses. Ou 392 lunações completas. Ou 10950 dias.

Com 30 anos, a maioria já casou, ou já tem um relacionamento estável. Aos 30 anos, a vida já tomou um rumo profissional. Aos 30 anos, já acabaram os recalques da infância. Com 30 anos, já se quebraram todos os ossos que a puerilidade permitiu, já foram tomados todos os porres que os deliciosos anos de irresponsabilidade facultaram.

Hoje ele faria 30 anos. Aos 30 anos, ele já estaria casado comigo, ou pelo menos no mais estável relacionamento do mundo. As 30 anos, ele já seria o médico que estava destinado a ser. Aos 30 anos, já teríamos passado juntos por tudo o que acabou empurrando cada um pra um canto. Aos 30 anos, ele estaria sem alguns dos seus amigos mais antigos, mas teria alguns novos, mais próximos das suas ambições e aspirações.

Aos 30 anos, certamente teríamos um filho. Ou dois. Aos 30 anos dele, e meus quase 28, eu seria uma mulher completamente diferente. Talvez não tivesse blog, talvez não conhecesse você. Aos 30 anos dele, eu não estaria aqui, chorando, sentindo uma dor que eu jurei que nunca mais sentiria. Eu estaria embaixo deste sol com ele, rodando como dente de leão ao vento, feliz, feliz, feliz. Se você nos tivesse conhecido, certamente estaria nessa festa. Porque não se faz 30 anos todo dia. E nem todo mundo faz 30 anos.

Aos 30 anos dele, eu não estaria tão deformada, tão amarga, tão velha, tão vacinada. Nem tão vulnerável. Aos 30 anos dele, seríamos felizes, porque esse foi o único motivo de nos termos encontrado nessa vida. Se não foi assim, é porque... Não, eu nunca entendi porque não foi assim, porque não fomos felizes. Essa era a nossa única função.

Aos 30 anos, seus ossos já estariam todos soldados nos lugares certo, e não soltos, tíbia com rádio com escapular, femur inaturalmente encostado no occipital. Não estariam misturados, como estão agora.

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Ou não.

Talvez fossemos os maiores amigos do mundo, talvez não tivéssemos tolerado o relacionamento por mais um mês. Ou dois.

Mas aos 30 anos dele, e meus quase 28, eu realmente não seria tão deformada, tão amarga, tão velha, tão dolorida, tão velha, tão sem horizontes, tão sem sonhos, tão descrente, tão sozinha, tão sozinha, tão sozinha. Aos 30 anos dele, e meus quase 28, eu não seria tão sozinha. Nem tão infeliz.

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"Já passou
Agora já passou
Mas foi tão triste
Que eu não quero nem lembrar
Vem pra mim
E não vai mais
Me abraça, me abraça, me abraça
Por tudo o que for..."


Lobão
Nunca fui tão dedicada no empreendimento de uma fuga.

Bye, bye, Brazil!

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Queria saber porque todo mundo tem direito de ouvir um "eu te amo", menos eu. Por que todos os meus amigos dizem entre si, mas para mim não sobra nem um "você é legal"? Será que as pessoas acham que eu não preciso, que eu sou forte, que o fato de não ser Hello Kitty me torna mais empedernida?

Leio os blogues dos conhecidos, os links dos meus amigos, e todos eles escrevem um comentário dizendo que ama o autor do blog. Por que as pessoas que me amam não podem dizer que me amam?

Quer saber de uma? Depois que eu resolvi transformar minha ilha particular em balneário, tenho precisado mais das pessoas do que precisei a vida inteira. Vou acabar com esse circo, recolocar meus tubarões amestrados para fazer a guarda da costa e reeletrificar os corais.

Você, você mesmo que está lendo isso, saia da minha vida AGORA! Saia, ou corre o risco de morrer eletrocutado(a) caso resolva sair mais adiante no tempo. Porque eu vou fechar as fronteiras. Ninguém entra, mas também ninguém sai. Só morto, que eu não quero porcaria no meu reino.
Conhece a fábula da princesa e da ervilha?

A princesa foi dormir sobre uma pilha de colchões dos mais macios do mundo, e ainda assim sentiu que por baixo daquilo tudo tinha uma ervilha que lhe machucava as costelas.

Esse é o meu dia. Ainda não sei o que me espeta, mas sinto alguma coisa machucando.

sábado, abril 24, 2004

Fragmentos dele em mim



"— Tem coisas que só acontecem com o Fluminense e comigo!

Mas a vida tem dessas coisas. Quando se dá conta, a felicidade já é irremediavelmente retrato na parede, cartinha na gaveta, passando.

Por que será que ao contrário do que ocorre entre os músicos há tão poucos escritores que jogam futebol? O primeiro exemplo saltou em uníssono: Albert Camus. Chico vetou, enfático:

— Ele não era jogador de futebol: era goleiro. E goleiro não é jogador de futebol. Aqui no Brasil, quando a garotada joga, sobra para o gol quem é perna-de-pau.

O que será ser sua sem você?
Como será ser nua em noite de luar?
Ser aluada, louca
Até você voltar
Pra quê?

O que será ser só
Quando outro dia amanhecer?
Será recomeçar?
Será ser livre sem querer?
Quem vai secar meu pranto?
Eu gosto tanto de você

Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que inda sou tua
Só pra provar que inda sou tua...

Eu descartava os dias
Em que não te vi
Como de um filme
A ação que não valeu

Deus lhe pague
Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague

De brincadeira perguntei-lhe o que era amor. "Não sei definir", disse-me, "e você ?" " Nem eu", respondi.

E constroem, sobretudo, uma amizade erguida sobre o afeto e sobre o susto."

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By the way, o link do título leva a uma história deliciosa.
Este é um abril estranho.

Nada de azuis celestiais, que quase fazem arrebentar os olhos, que tentam abarcar a vastidão de anil sem par. O vento mais fresco chegou hoje, mas está tudo tão cinza que nem me imagino calçando os patins, atando os cordões do tênis no pescoço e saindo para flanar pela beira da praia.

Abril é — ou era — a minha primavera, era quando eu me recuperava do estrago que o calor de dezembro, janeiro e fevereiro fizeram em mim. Abril é o mês em que o meu botão de regulagem de saturação das cores fica um pouquinho acima do normal.

Acho que é isso. Este ano, ao invés de mexer em "Saturação", eu mexi em "Contraste". Está tudo meio enevoado, e ainda não consegui achar o ponto de ajuste.

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Impressionante o que os horóscopos disseram hoje. Dia em que resolvo chutar o pau da barraca, uma confluência nos céus se antecipa e me pede calma. QSL, continuo na freqüência.
Eu preciso aprender a dizer não quando pedem o meu telefone.
SALVE JORGE!




Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.

Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.

Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meu inimigos.

Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.


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Um lugar onde as mãos ficam vermelhas das palmas ritmadas, os olhos seguem este e aquele movimentos; onde as cantigas são quase hipnóticas e as guias do pescoço são orgulhosamente exibidas. Onde o azul da minha nação combina com os olhos daquele que usa contas verdes. Um lugar onde os fogos de artifício reiventam um Ano Novo, e traz junto aquelas velhas esperanças de que tudo vai ser melhor.

E vai. Vai porque aquela mão encarquilhada me guiou, vai porque aqueles olhos bondosos me prometeram. Vai, porque a minha cota de incertezas já estourou. Vai ser melhor daqui pra frente, sim, porque ELE vai fazer com que tudo entre nos trilhos.

Okiarô!

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12 dias, e eu acho que estou cada vez mais forte para deixar para trás o que precisa ser eliminado.

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"Ele morreu quando ainda não tinha trinta anos. Apressando-se para se juntar à armada celeste, entrou na história da Igreja com o apelido de Vitorioso."

Mínéon, abril de 1985, Moscou

sexta-feira, abril 23, 2004

Se eu chorar, é porque às vezes eu não sei quem são as pessoas que estão do meu lado.
12:01.

Eu ouvi. Marquei a hora. NUNCA, EM HIPÓTESE ALGUMA, discuta comigo se eu estiver ABSOLUTAMENTE certa. E eu estive. Eu OUVI. Eu sabia.

Acertei. One more time.

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Se você acha que conhece Tarantino, se você acha que Pulp Fiction é O filme... desculpa.... VOCÊ AINDA NÃO VIU KILL BILL!
Reunião chata, sem nada pra me dizer de novo, e um convite para a pré-estréia esquentando no meu bolso.

— Senhores, creio que o projeto será entregue em 4 ou 5 dias. Algo mais?

Não? IGUATEMI!! Zebaggins, cadê você?

Kill Bill. The Bride. O FILME. Tarantino.

Eu comecei o dia vendida pro Robert Rodriguez, mas a noite, e o resto da minha vida, são só e somente do Quentin Tarantino. Retiro o que disse sobre Tarantino no roteiro e Oliver Stone na direção. NINGUÉM além do esquisitinho conseguiria os planos que conseguiu, a atuação da Lucy Liu, a grua invertida.

Para quem não sabe — e isso não é spoil —, o filme tem um animê. Eu juro que aquele mangá é o que eu quero tatuar. Há anos, muitos, muitos anos eu não choro em filmes. Algum vestígio de lágrima se insinuou durante o animê. Vestígio: chorar, atualmente, é o evento mais raro que chuva no Atacama, para mim.

Que fotografia! A movimentação de câmera é ABSURDA, e se escrevo em caixa alta, é porque não achei nada mais representativo no teclado. Cortes que vão do "tarantiniano" plano-seqüência looooongo, até o "oliverstoniano" corte nervoso, de videoclipe. Muito bem mesclado, alterna paz e tensão, luz e sombra, dor e riso.

Não me arrependi de ter antecipado o fim da reunião-porre, de um trabalho que não vai render, para me encontrar com o Quentin. E a trilha sonora? Virgem do Guadalupe, esse homem se superou!

Não deixem de perceber o contra-plongé, a câmera subjetiva, a lente vaselinada para o ar sacro de uma ou outra personagem, o porquê do P&B, e o porquê do colorido.

Ai, se deixar, 10 da matina estou ainda exaltando as qualidades do filme... Vê e me conta!

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E claro que com ele a noite não ia morrer no cinema. PA2, Balla 08, Dani, Hugão, Zeba, e o famigerado Quil. Não, nenhuma hstória. Não que ele não tenha contado: eu estava ainda embevecida com "Kill BIll".

Dani foi me deixar em casa. Se você conhecesse o Dani, saberia porque só estou em casa a essa hora. Posto do Stiep, posto dos Namorados, posto do Chame-Chame. Conversa boa, daquelas em que as verdades não doem tanto.

— Dani, vou dar a MINHA visão feminina!

E ele, doido que não é, nem discutiu. Ouviu, concordou. Dan, meninas são completamente diferentes de meninos! Meu sogro (pai do MEU Vini!), amigo querido, a quem eu quero tão feliz quanto aquela menina querida, que teve a barriga mais linda do menino mais fofo do mundo. Aquela moça que é tão parecida comigo, com quem me sinto tão em casa, tão em paz, tão comigo mesma.

Bom, vamos jantar sábado, Dani e eu. Eu, na qualidade de nora antecipada, tenho direito de entender o que passa entre o meu sogro e a minha sogra. Nora superantecipada, que seja claro. Algo perto de 30 anos de antecedência.

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Fê, ao invés de dez anos, eu aposto que em mais um ano os discos voadores estarão descendo nos postos de gasolina. Palavra de quem recuperou parte do passado em pelo menos três postos com seres bizarros.

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13 dias. Teoria Zeba dos 15 Dias, e só 13 estão à minha frente. Estou quase escrevendo uma letra de música do Fábio Jr. É o que eu sinto, mas vai morrer. 13 dias. Só. Porque a palavra-chave é LIMITE.

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A piada é que a música que eu dividia com o Mouro está tocando no meu Winamp From Hell.

quinta-feira, abril 22, 2004

Um rolo de filme batido, três remédios para manter a sanidade, cigarro e isqueiro, celular, óculos escuros que não saem mais hoje, o rosto cor-de-rosa-saúde, uma hora até a hora de sair, chuva torrencial e ouvindo Round Here só no piano.

Tomara que o remédio para a sanidade faça efeito logo.

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Ele tinha os cabelos mais negros que eu já vi. Barba cerrada, fazer de manhã garantia que de noite ele estaria com uma sombra escura no rosto. Mouro. Acho que tudo começou de verdade com a tatuagem dele. Não na praia, mas no hotel, quando pedi pra ver. Okê Arô, arco e flecha de Oxóssi, quem conhece não pergunta, quem não conhece acha só bonitinho.

Sempre foi o "forbidden guy" pra mim. Um abismo nos separava, e se você acha que estou falando só da quilometragem se enganou. Engraçado que a vida não tenha nos jogado um contra o outro nos cinco anos em que ele esteve aqui. Precisou ir e voltar, e assim se escreveu uma história diferente.

Mas o fascínio que sentíamos um pelo outro veio mesmo no dia da praia. Protetor solar, olhos nos olhos, "passa na minha tatuagem?", e eu passei. Os dedos meio tremidos tocaram a parte macia do braço dele. As pontas passaram vezes sem conta por cima do arco do Sultão. Eu não vi. Em momento algum desviei os olhos dos dele, que não se fez de rogado, e apagou todo o cenário — e a figuração — para nos jogar num fundo infinito.

Éramos só nós, ali. Sua assistente foi pro espaço, seu dupla também, bem como o MEU dupla, os técnicos. Por mais segundos do que a boa educação permite, pertencemos somente a nós.

Mas estava acabando. O clima pesou com a equipe, e a minha posição me obrigava a criar uma carapaça (quitinosa, e quitina é polissacarídeo - piadinha interna) que nunca me pertenceu. Das maneiras mais estapafúrdias conseguimos raramente estar sozinhos outras vezes. Sair antes da equipe, brainstorming dentro do carro, músicas antigas partilhadas, CDs randômicos que ambos adoravam. E nunca, nunca nos tocamos mais do que com as pontas dos dedos ou as palmas das mãos.

Ele foi embora antes, deixando um bando de esnobes para fazeraquilo que ele fazia magistralmente e com uma simplicidade, uma doçura, que me fariam voltar a trabalhar com ele. Se nos despedimos, apaguei da lembrança. Algumas coisas doem. Sei que um dia ele não estava lá, e eu sabia que não estaria.

Melhor que nós tenhamos nos separado. Foi forte, intenso (não a experiência mais intensa da minha vida, que ficou anos-luz à frente), e somos de dois mundos opostos, duas vidas antagônicas; nos separavam não só os três estados, mas oito letras determinantes. Oito letras e três cores: vermelha, preta e branca.

Força, corinthiana!

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Por que lembrei? Sei lá... talvez porque há quase um ano as minhas aspirações eram outras, meus sonhos ainda eram em technicolor, eu ainda acreditava. Passou, mas quando a gente está só é maravilhoso ter uma lembrança que não machuque mais, um lugar onde a cabeça possa se refugiar, se esconder da chuva que não cessa.

Foi amor de Baudellaire.

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Pré-estréia de Kill Bill agora, desculpaê!
Finalmente, XP e modem novo!

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E nesse processo, um seqüestro para dois chopps no Kaddosh, uma escapada de duas horas com a minha futura sogra (você aprovou, né, Clari?)um dia inteiro marretando a máquina, para depois ficar na dúvida sobre quem me sacaneou: se o pessoal da 3 Com ou se o pessoal da Velox. Whatever...

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Dessa vez quem deu o furo no jantar com a irmã do Fabinho fui eu. Nane, desculpa, mas o dia ontem foi cinza.

quarta-feira, abril 21, 2004

Luck of the Draw (2000)

Tem um cara aqui na televisão, dirigindo um filme desses da madrugada, que acha que é Tarantino. Bonzinho de edição, uns ângulos inusitados, alguma coisa entre Reservoir Dogs e Born to be killer.

O nome do diretor é Luca Bercovici, e a parte final do filme foi realmente muito boa.

DanielaH.
Crítica da Madrugada
Aprez moi, le deluge...

E durma bem sabendo que o dilúvio está vindo.

terça-feira, abril 20, 2004

De um postulante (desclassificado) ao cargo de "Namorado da Daniela":

— Nãaaaaaao, você que me liga...

Péeeeein! Resposta errada, pequeno gafanhoto! Eu não ligo mais. Quero ser cortejada, mimada, bem cuidada. Cansei de tomar as rédeas, de tomar a frente, de tomar na cara. Esse hábito de produtora que tem que resolver tudo em tempo recorde vai se desenraizar nem que seja na marra.

Eu não ligo mais, não cortejo, não mando flores, não escrevo textos desesperados, cartas incoerentes. Agora eu quero música composta pra mim, poesia na caixa do correio, flor roubada, ligações para dizer que está com saudade, mensagens de texto. Eu só faço na conta da reciprocidade. Mas tomar a dianteira? Chega!

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Na verdade, estou ouvindo a música que um amigo querido fez pra ex-mulher, música das mais lindas, e que nunca consigo escutar por menos de uma hora. A culpa é dele e do seu romantismo desapegado.

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Uma longa conversa com a Ti, e os pés no chão de novo. Pés lacerados, sangrando do caminho errado que eu escolhi.

— Dani, cuidado, eu não ouvi nada nas entrelinhas, mas você não me contou a história toda.

Eu sei, Ti, mas acho que eu ouvi, sim. Foi bom ter falado contigo, foi bom ter de novo o seu bom senso, e foi melhor ainda dar pitadas de racionalismo na sua história. Minha irmã separada no nascimento, tequinho mais velha que eu, tão iguais que somos nas experiências, nos tempos de reação. Saudade, minha irmãzona, saudade de você, do Quibeiro... E prometo que vou tomar cuidado com as entrelinhas escritas por linhas tortas!

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E aí eu murchei, qual flor sem água. E aí resolvi ficar em casa, preparando meu espírito pros próximos dias. E ainda perdi a hora de ir ao cinema.
Ouvindo: Crash Into Me Acapella - Dave Matthews Band

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Durante um tempo foi difícil manter a convicção nas minhas verdades.

Aí num dia qualquer, que nasce azul como todos os outros, que tem a temperatura exatamente igual a dos outros 25 dias, num dia qualquer a gente descobre que algumas das nossas verdades ainda estão ali. Às vezes é numa conversa por telefone com alguém que é quase o reflexo da sua própria alma. Outras vezes é na própria reflexão diária, coisa que, aliás, tenho feito com afinco.

Eu vou creditar esse up às longas conversas que tenho tido com ele ao longo dos últimos sete dias. Sempre soubemos de uma coisa: o que funcionava pra mim, fuincionava pra ele. Esse é um dos mistérios da fé, e a gente não questiona. Eu só resolvi inverter: o que funcionou pra ele, funcionará pra mim. Nascia mais um dogma!

A Teoria dos 15 dias nasceu ontem, por telefone. Mal resolvi colocar em prática, e a vida já mostrava um ou outro caminho que eu não me lembrava, mas que sempre estiveram ali. Bruxa fajuta! Eu mesma abri essa trilha — sem muito esforço, a bem da verdade —, eu mesma plantei as flores que orlam o caminho onde há pedras, mas que ainda assim é belo.

É quase definitivo, agora. Tem também exatos sete dias que eu comecei a reabrir esse caminho, que recomecei a jogar sementes para que os pés de fruta cresçam e não me deixem morrer de fome caso eu resolva enveredar por essa decisão. Comecei pelas beiradas, porque não sabia o que ia encontrar no meio do matagal que deixei crescer onde antes era só um vasto gramado.

Foi doce. E amargo. E doeu saber que o definitivo está cada vez mais próximo. Doeu porque eu novamente vou usar as teorias dele: eu sabia que alguma coisa estava errada. Sabia que não era a hora. Sabia que era contra a organização cósmica. Mas eu não posso mais enfrentar tudo sozinha, de espada em punho, uma Rainha Arapusca a decapitar os infiéis que ousaram cruzar o meu caminho. Cansei de ser uma Gêngis Khan de saias. Cansei de travar as minhas guerras por ideais que só eu sabia que eram corretos.

Cada um com sua arma agora, que eu vou ali refrescar um pouco. Se eu volto pra batalha? Não sei. A única coisa que eu sei é que dentro de 15 dias, doendo mais ou menos do que dói hoje, dentro de 15 dias eu deponho armas e abandono a causa.

Se é que não antes dos 15 dias, pelo ritmo dos acontecimentos...

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Uma lunação. Parece que foi há dois anos. E foi só há uma lunação completa.
SEXTA-FEIRA!




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Vale avisar que eu ganhei, por antecipação, um jantar no Maria Mata Moura. Vai ser a aposta mais bem paga da história! E nem pense que eu vou ter algum problema de consciência em pedir o meu habitual "penne salsa rosa", com um bom vinho e a musse de menta com chocolate...

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Meu amigo, seu sucesso me deixou mais forte. Está mais fácil de aplicar a Teoria Zeba. Restam apenas 15 dias.
Esse cara é meu ídolo!

Isso é só uma amostra do texto do "Leis de Murphy"

Lei de Murphy no. 288: Um pasteleiro dança o tchan na sua academia

Lá na minha academia bizarra, onde tem um cara que parece uma múmia, um Angolano e um outro fulano que não tem metade da cara, também malha o Seu Tizuka (ou pelo menos é assim que o chamam), o dono da pastelaria que fica ali perto. Só que o Seu Tizuka tem uns 50 anos e não fala muito português (para ele, pastel é de "queio" ou "flano"), nem tem muita noção das coisas. Pois bem. Estou eu chegando na academia e lá está o seu Tizuka, dançando lambaeróbica. Foi muito bizarro. Para vocês terem uma idéia, era como ver o National Kid dançando o tchan junto com umas genéricas de Carla Perez. E o seu Tizuka, coitado, achando que tava abalando. Bom, na academia mais barata do bairro, também, o que que eu queria?

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E ainda tem a história do rato ladrão e halterofilista.

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Como trabalhar com sono, fome e uma daschund dormindo profundamente no meu colo?

Diria minha segunda mãe:

— Se vira!

Tô me virando, minha mãe. Ah, estou me virando mesmo!
Vamos chamá-lo de Quil. Chato. Carente. Pegajoso. Metido a engraçadinho. Acha que é diretor de fotografia. Nem assistente de câmera conseguiu ser. Trabalhou comigo. Pelego.

Noite nesse bar não é completa sem ele. Na mesa da gente. Eu, saltando de uma mesa pra outra, dei pouca ou nenhuma atenção a ele. Mas enquanto eu estava lá...

— Puts, Zeba, minha cabeça vai explodir! Dói muito!
— Relaxa, Dani, que cabeça não explode assim...


Aí vem o Quil:

— Eu vou até sair antes que voe linha de raciocínio pra todo lado.

Nunca dei um sorriso tão cândido:

— Você podia aproveitar e pegar algumas linhas de raciocínio pra você...

Porque não se brinca com uma gêmeos com ascendente em escorpião...

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Aí perde-se o respeito de vez...

O mesmo Quil:

— O desenho da minha tatuagem está quase pronto. É um dragão medieval...

Eu e o Zeba, ao mesmo tempo:

— O que faz um dragão ser medieval?

Ele se enrolou.

— Ah, as linhas... as linhas... porque você sabe, né, aquele dragão oriental é todo cheio de frescura... Porque seriam as linhas... um dragão do renascentismo...

POR QUE, JESUS? Por que na minha frente e na do Zeba? Entre gargalhadas:

— Quil, ou um dragão medieval ou um dragão renascentista! E um dragão renascentista seria rechonchudo, com as escamas encaracoladas, pele rosadinha e a bundinha redondinha, exposta?

A conta veio nesse minuto. Salvo, salvo pelo gongo.

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Noite que começa com um jantar na casa daquela mocinha linda que eu amo, e que termina na mesa do Fabinho, conversando sobre música, passado e muitas, muitas outras coisas. Essa noite tem como terminar errada?

Ainda hoje falei do Fabinho pra Mon, falei do quanto eu estava com saudades, o qaunto gostava dele, o quanto nos divertimos juntos nas viagens intermináveis. Fabinho é da velha guarda, um cavalheiro, um homem que tem sempre um elogio sincero pra dizer, um sorriso abrasador acompanhado de um abraço.

Foi a primeira pessoa que vi no bar, mas não seria difícil também: bar vazio, só pra terminar a noite do aniversário da Mon com chave de ouro. Ele e o irmão tão-bonito-quanto, com o sorriso e a morenice do Erik Estrada. Ai, Deus, Erik Estrada é o meu fraco...

Com o perdão dos meus acólitos, praticamente mudei de mesa, de assunto, de afetos. Sentei do lado do meu xodó, mudei de Skol para Bohemia, de Zeba para Fábio. É, aliás, uma família deliciosa: a irmã desse menino é uma criatura de luz. Luz pura, daquelas que limpam o lugar por onde passam. A mãe desses seres é o molde mais correto que poderia haver (Reinaldo, a culpa é sua!!).

Fábio é meu dupla de conversas nas viagens intermináveis, é fã de literatura, e vai fazer no próximo mês a mesma tatuagem que eu: o Calvin. E olha que há meses não nos falávamos, não nos víamos. Sincronicidade...

Esse encontro "shuffle" apagou o episódio que me causou irritação extrema. É uma lufada fresca no meu porão de morcegos. É muito carinho, é muita inteligência, é muita doçura para ficar amargando esse ou aquele revés. Estou novinha em folha, pronta para o dragão (renascentista!!) que virá com o sol de amanhã.

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E a partir de hoje, passo a funcionar sob a égide da Teoria Zeba: restam 15 dias apenas.

segunda-feira, abril 19, 2004

Despertador. 5:15.

Ah, que bom, vou cochilar mais um pouco e assistir ao Jornal da Band...

Mas... SÃO 5:15 DA MANHÃ!!!!!

"Ah, Mônica, eu te adoro, mas só vou mais tarde".

A alegria durou exatos dois minutos. 5:17 liga o Lu:

— Tá acordada?

Alguém se lembra do Mutley? Pois desci da cama resmungando como ele. Entrei num par de jeans, saí deles, olhei de novo, ai meu Deus, como é que as pessoas se vestem a essa hora da manhã? Por isso que criança usa uniforme? Para não dar aos pais o trabalho de decidir a roupa do petiz?

Vesti, acertei as lentes de contato nos olhos vermelhos, e os cabelos não acordavam de jeito nenhum. Faixa neles, ficaram aceitáveis, fui pro playground do prédio esperar a minha carona.

Jesus, eu estou vendo mesmo? Uma horda de humanóides subindo e descendo a Ladeira da Barra, indo fazer caminhada. CAMINHADA ANTES DAS SEIS DA MANHÃ? Isso implica em acordar às cinco, e só isso já basta para tirar a condição de humanos daqueles seres. E vem uma senhora de cabelo preso, balançando de um lado para o outro: a maior confirmação do nome rabo de cavalo para o penteado.

Vem descendo um ente de boné (pra que boné, jamais saberemos. A menos que ele fosse até Itapoan, o que daria umas seis horas andando, porque o sol mesmo só ia sair direito por volta das sete e meia...), short esquisito e tênis. Algo errado mas eu ainda não achei. Vamos rever: boné, short esquisito e tênis com meia.

Nossa Senhora do Perpétuo Socorro! Ele estava com tênis Yatch (aqueles antigões sem cadarços) e meias soquetes-na-marra, com o cano todo embolado no tornozelo! Na hora eu olhei pras mãos dele: nenhuma aliança. Tá explicado! Mulher alguma neste mundo de Deus deixaria seu homem, por mais madrugada que fosse, sair trajado daquele jeito. NENHUMA MULHER, até aquelas em ritmo de separação. É cruel, é desumano fazer isso com os pobres dos homens.

Eu, do alto do playground, de boca aberta; e ele, feliz, mergulhando mais ainda na madrugada dele, ladeira abaixo, levado pelos tênis Yatch.

Por que Deus me escolhe pra presenciar essas cenas?
Eu vou primeiro retomar minhas lições de mandarim, aprender a contar até 10 em chinês e volto. Ordens médicas expressas: não pode se estressar.

Mas o que eu faço realmente com esse vulcão dentro de mim, com esse terremoto sacudindo as minhas placas tectônicas?

domingo, abril 18, 2004

Pérolas do pai da Fada, via Messenger

"Lula está na lista dos 100 mais influentes. Segundo a BBC, o nome de Lula aparece junto aos de chefes de estado e líderes internacionais como George W. Bush, o Papa João Paulo II e Osama Bin Laden. Será a presidência, a santidade ou a barba?"

"Mel gibson é influente: será que foi aquele filme "Do que as mulheres gostam?""

"será que Fidel entrou ou só estão os vivos?"

"Arnaldo Antunes e Nando Reis ficaram de fora: não são mais Titãs"

"nem o Frommer (que aquele em quem eu não acredito o tenha)"

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Roubado descaradamente desse carioca honorário...

... que diz tudo o que eu queria dizer mas nunca tive palavras (e coragem).

"Don't know if words can say
But darlin' I'll find a way
To let you know what you meant to me
Guess it was meant to be
I hold you in my heart
As life's most precious part"

"O Rio é uma vertigem, uma tontura, uma queda de pressão. (...) É um fenômeno climático pelo qual não nos responsabilizamos, senhores. É o meu snoopy dançando, pezinho para trás, queixo para o ar, e da janela dele vê-se a Lagoa, o Corcovado, o Redentor, que lindo".

Esse blog passará a ser atualizado do Convento das Cyberfreiras da Nossa Senhora da Paciência.

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Conversa com um amigo:

Ele: — Usei minhas duas últimas camisinhas ontem.
Eu, surda e sem-noção: — Hein? Dois pacotes?
Ele: — Porra, Dani, eu ia ficar fazendo bolinha de soprar?

Tum Dum Pshhhhhhhh!

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Amar é...

... abrir mão das camas mais confortáveis para se enroscar nas pernas da pessoa a quem se ama, que estranhamente resolveu dormir no sofá da sala. E assim foi. Minha Nana trocou as mlhores camas da casa para dormir comigo no sofá.

I believe in thing a called love.

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Eu preciso parar com a "Solução Formosa" para a auto estima. O que é a "Solução Formosa"? Aí do lado, no link para o site do ZERØ, tem a resposta. Disco dois.

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Tangolomango sempre me rende boas recordações. Lá pelas tantas eu encostei na parede e fiquei vendo as pessoas.

Meu escudeiro é lindo, é magnético, é altaneiro. Ele transita entre as pessoas com uma graça natural, tem estilo, ganha qualquer mulher, é dono de uma honestidade à toda prova, de uma hombridade que nem todos têm.

O meu amigo "Samurai" tem o corpo delgado, longilíneo, flexível, e um sorriso arrasa-quarteirão. É lindo, lindo, lindo, especial como poucos, como poucos são aqueles com quem consigo conversar sobre quase tudo. E note que conversar significa diálogo, não monólogo. Tão, tão parecido comigo, nos gostos, na formação, nos maneirismos...

Tem um outro moço que eu conheço pouco, mas que nem desconfia que tenho esse carinho por ele. Diz a lenda que ele é meio rabugento, que não faz esforço nenhum para que as pessoas gostem dele, mas sempre, desde a primeira vez que nos vimos, foi um gentleman, um doce.

Um outro rapaz, que escreve drops de ficção deliciosos, faz a linha low profile. Discreto, na dele, charmoso. Fã do Stephen King e do ZERØ, e só isso faz dele um ser quase perfeito. Low profile também é aquele menino de óculos e que fotografa tão bem. Quieto, com a namorada fofa do lado, atencioso, atento, sério.

O meu garçon preferido, com o sorriso perene na boca, tem sempre com um elogio pronto pra mim.

O outro é meu "compadre", filósofo, culto, honesto, me conhece, me respeita. Que o futuro seja justo com ele.

E fui, passando de um para o outro, reafirmando o amor por alguns, questionando o amor por outros, fortalecendo o carinho por mais uns. E acima de tudo, entendendo o quanto tem de cada um dentro de mim.

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Um dia desses vou começar a pingar os is, vou dizer que gosto, e que foda-se o que ele vai fazer com essa informação.
(Para ser postado às 16:30 de ontem)

Ouvindo: That's life - Bono Vox

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Diatribe de Lua Cheia

Essa música pede vinho, uma superfície macia, alguma coisa em vermelho e meia luz. De preferência a superfície macia poderia ser felpuda e vermelha. Vinho doce, porque a brincadeira está só começando. Tinto. O controle de graves do som deve estar perfeito, para não se perder um decibel desse baixo rouco, rouco como a voz do Bono.

A música merece uns quatro, cinco repeats, mas depois dela pode vir "Only You". Portishead. Também no repeat. Mas eu ainda estou no repeat de "That's Life". Nem caia na besteira de aceitar a versão com o Frank Sinatra. O pai da Fada, que me apresentou e me mandou essa música, disse que "Sinatra canta. Bono convence". E ele tem mais sensibilidade que eu.

Pronto, pulei para Portishead. A música adequada para a segunda etapa. Vamos ver...

5 minutos de música x 5 repetições= 25 minutos de luxúria pura. Aproveite, que a próxima fase é para desacelerar o coração, para acalmar a respiração, para olhar nos olhos, para fechar os olhos e aspirar o perfume do pescoço, que está deliciosamente misturado ao suor almiscarado.

Esta já é a terceira fase. Aí eu sou suspeita. Minha etapa preferida. "Kiss the Rain", da maluquete Billie Myers, duas vezes alternadas. "By my side", do INXS. Uma vez basta: sou muito susceptível a essa música.

Os olhos estão fechando na exaustão da satisfação. Agora pode vir sem medo "With or with you" no repeat infinito, bem baixinho, porque no refrão já estaremos dormindo nos braços um do outro.

sábado, abril 17, 2004

Evento com o meu dedinho...

ROCK AND ROLL!!

DIVA e OS CAVERNA
no Tangolomango
Sábado, dia 17 de abril, às 21:30
Ingresso: R$ 5,00

TANGOLOMANGO
Rua Alagoas, 78 - Pituba (ao lado da lanchonete Hall's - Av. Manoel Dias)

Vamos lá, todo mundo curtindo o Rock da Diva e dos Caverna!

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Copiado do site da Machina.

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Quando eu finalmente consigo terminar o backup dos documentos, fotos, figurinhas, logs e joguinhos da toda a família, a porra do Webb 1000 não está no ar para eu checar o que falta enviar para o servidor.

Fora isso, o Dani, pai do meu futuro marido de olhos azuis, o Vini, não atende às minhas chamadas. Resultado: Daniela sem Office e sem suporte técnico para formatar a porra da máquina.

Devo tomar isso como um sinal?
Esse foi um texto de apresentação que fiz para o Crivo Generoso, projeto literário da melhor qualidade, mas do qual acabei sumindo, por absoluta falta de tempo hábil. Mas é um projeto pelo qual tenho um carinho enorme.

Por que somos?

Porque somos acadêmicos à força;
Porque detestamos as expressões "sistema", "massa de manobra", "cenário e cena (quando se referem a ambiente)";
Porque ninguém nos leva a sério. Nem nós mesmos.
Porque não temos a pretensão de saber mais que todo mundo. Mas nos esforçamos.
Porque não somos comunistas, nem socialistas, nem anarquistas.
Sim. Capitalistas, sim. E tem outro remédio?
Porque certamente não vamos emitir opiniões abalizadas sobre os assuntos que discutimos;
Porque nossas reuniões de pauta são mais divertidas que todas as outras.
Porque vomitamos nossas frustrações em forma de textos, e precisamos de um lugar para coloca-las.
Porque somos exibicionistas, sim, e queremos mostrar nossa produção com pretensões literárias;
Porque queremos viver de escrever e criar, num futuro próximo;
Porque a nossa arte tem preço, sim.
Porque não temos problema algum em fechar contratos milionários para publicarem nossos escritos;
Porque só vamos amadurecer os textos se eles forem lidos, ou feitos para serem consumidos.
Porque artistas podem ser comerciais, também;
Porque não estamos nem aí para esnobismo intelectual. Por mais que o sejamos, vez por outra.
Porque é uma boa desculpa para nos vermos todos os finais de semana.
Porque não precisamos de desculpas para nos vermos.
Porque temos gostos, idéias, crenças e alturas semelhantes.
Porque escrever alivia a dor;
Porque ser lido faz bem pro ego.

Acima de tudo, somos o Crivo, crivo sim, porque somos generosos.

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O último dia de Pompéia (ou " o computador vai ser formatado hoje") e vários backups. É estranho rever a vida de um ano e pouco pra cá...
Encomedada fosse a noite, não daria tão certo.

O bar era o mesmo de 15 anos atrás, a vista a mesma, e olha só!, as músicas eram as mesmas. Foi uma entrada no vórtice temporal. Todas as risadas dadas em 15 anos foram resgatadas. As paixões, os ressentimentos já apagados como inscrições em lápides: só que sabe o que tinha escrito ali consegue adivinhar o texto pelo relevo sob os dedos.

Guilherme foi meu primeiro namorado na Bahia. Eu tinha 12, ele 17. Depois de mim, foi namorado da minha irmã. E depois dela, meio mundo. É o mais antigo amigo que eu tenho na vida.

Gui ainda é Azzaro puro, whisky roubado, piadas sobre o Minhoca, amigo dele por quem sofri de paixonite aguda, sobre os amigos de antes, sobre como estamos agora. Estou a exatos dois meses dos 28 anos, ele fez 33, e a gente continua cúmplice. Eu continuo voltando para casa com o cheiro dele entranhado na pele, com o fígado desopilado de tanto rir.

Não, nunca tivemos uma recaída. O amor que existe entre nós transcendeu a carne, o Eros. É o amor de almas, de pessoas, de seres. Não de um homem e uma mulher. É um amor incondicional, enfim. É o amor que garante guarita para os dois. Eu estou segura com ele, e vice-versa.

Só ele, só ele mesmo, para me tirar de casa hoje depois da meia noite para um bar meia-boca. Só por uma questão de sentimentalismo.

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Como eu fui feliz. Como nos fizemos felizes nesses últimos 15 anos.
Um dia eu aprendo a dizer não... Guilherme ligou. Estou pronta, indo pra rua.

Fazer o quê? Jamais saberemos. A essa hora, o que a gente vai achar é posto de gasolina... Em meia hora eu estou de volta, aposto!

sexta-feira, abril 16, 2004

Ouvindo: Needles and Pins - Ramones

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Sala de arte, cinema com o pai da Fada. Embrassez Qui Vous Voudrez — Beije quem você quiser.

— O título é bem adequado à você, né, Dani?

Cala a boca, Miriam Lane. Leia o meu blog que você vai ver que estou hermeticamente fechada para quaisquer tipos de relacionamentos. Vou levar a sério a idéia de reclusão religiosa.

103 minutos que não mudaram a minha vida. Só me deixaram ligeiramente angustiada com o tempo que não passava. Filme com vários plots, todos abordados superficialmente. Uma necessidade de mostrar que a burguesia fede, que os valores todos estão deturpados, que estamos numa terra de ninguém. Ou seja: um clichê pior que True Lies. Não entendo porque os filmes de arte não podem ter final feliz. É sempre todo mundo muito drogado, muito promíscuo.

Valeu porque eu matei as saudades do pai da Fada, que não via desde... desde 8 de novembro! E num porre tão beneditino que muita coisa eu nem me lembro. Só ele pra ter o saco suficiente para me aturar durante um porre de James Bond.

Meus pés me conduzem até o Mac Donald's, enquanto vou ligando pra todo mundo que me ligou durante o filme.

— Desculpa o furo, Clari!
— Não, não vou.


Toca o telefone de novo.

— Fala, Canalha!
— Vem pro Tapioca, estou produzindo o meu primeiro show.
— Pô, Canalha, agora?
— É. Vem.


E desliga na minha cara. Não, não fui. Quero a minha paz. Telefono pra um.

— Tá afim de tomar um chopp?
— Não, estou vendo Matanza
— e a gente engata num papo sobre o quanto o Matanza é sem presença de palco. O restinho de ânimo que eu tinha pra sair foi derrubado.

Finalmente entro no Mac Donald's, ainda no telefone, e sinto um par de olhos me seguindo. Procuro, não acho, mas a sensação é incômoda. Desligo, faço o pedido e ganho um beijo no pescoço.

— Ricardinho!
— Mas que menina cheirosa! Já pediu? Então vem sentar comigo.


Não estava no esquema sentar e socializar, mas parece que os fantasmas resolveram sair todos para dar uma volta hoje. Ricardinho, que parece que tomou jeito na vida. Como chamar por um diminutivo um homem daquele tamanho, mais velho que eu, todo engalanado, voltando do trabalho?

— O que vai fazer amanhã?

Ah, Ric... Vou ser feliz. De algum jeito eu vou ser feliz, não tem plano ainda não.

— Tem o show de uns amigos meus no Tangolomango. Quer ir?
— Não. Queria tomar uma a tarde.


Então me liga, menino lindo. Me liga, vamos ver se eu estou no espírito de começar a festa lá pelas três da tarde. Moleque fofo, se eu soubesse que tinha salvação, tinha agido de outra maneira naquele tempo... Mas agora? Árida? Anecúmena? Não, moço, você não merece nada assim.

Terminei meus nuggets, a conversa, cumprimos o ritual das promessas de ligar amanhã. Peguei meu sorvete — porque eu afinal não preciso de ninguém para me convidar para tomar sorvete! — e tomei o rumo.

Ainda teve o telefonema pro Gui:

— Tá aonde? Vai sair?
— Tô em casa, se for sair te ligo lá pela meia-noite.
— Guilherme, seu porqueira, você está aprontando!


E aquela risada cristalina que ecoa nos meus ouvidos há mais de 15 anos se repete, como se nem um dia tivesse passado desde aquele primeiro, há tanto, tanto tempo.

— É... mais ou menos... Deixe o celular ligado, viu?

Chguei em casa. Mar escuro, quase lua negra, nenhum navio para apitar e fazer meu coração falhar uma batida. Nenhum jogo de luzes de proa para eu tentar exercitar o Morse que nunca entendi bem. Afundei nas escadas em direção ao apartamento sem fim. That's over for me, now.

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I wanna runaway! I wanna escape!

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Quero saco para abrir o Dreamweaver agora e mexer no template do blog do Lu. Mas está difícil. Quero um remédio que me faça ter vontade de hastear a minha bandeira de corsária e tomar outros navios. Quero voltar a ter ânimo. Quero voltar a olhar pro cardápio com um ar de doce agonia da antecipação do prazer. Quero voltar a me divertir. Quero reaprender a ser feliz por mais de quinze minutos. E que não seja por causa de uma revista em quadrinhos.
Email still mute. As tricks celestiais andam me entortando. Será que eles não me aceitaram?

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Sabe aquele dia em que você precisa de carinho? Pois é, esse é o meu dia de hoje. Precisava que alguém me raptasse, que me levasse para cumprir tarefas cotidianas, como pagar contas, andar no shopping, levar filme pra revelar, pegar prova de teste na gráfica. Várias coisas que não fossem da minha responsabilidade.

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Ainda tinha convencido um amigo a me convidar para tomar sorvete caso viesse para essas bandas... mas ele conseguiu se safar com o soar do gongo. Eu tenho a festa de aniversário do Hugo mais tarde. Depois da cerveja mega gelada na quarta, do aniversário do Caio, não dá pra simplesmente tomar um sossega-leão e não ir.

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Eu não sei:

.desenhar
.fazer bolo
.usar faca com o cabo engordurado
.mentir
.negociar cachês
.regatear
.brincar de bambolê
.operar a ilha de edição
.depender de alguém
.disfarçar sentimento
.dormir sem ler
.precisar de alguém

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Ou eu cresci, ou realmente a MTV está uma merda.

O saboroso Casé é um chato sem uma gota de respeito com nada. O delicioso Edgar Picolli não tem lidado bem com as câmeras: ora aproxima demais, ora afasta, aí corta a testa, afasta demais, desenquadra. A Penélope não tem outra cara, a Didi é um tanto grosseira e surda, a Sarah é lindinha e sem sal. E a Daniela Cicarelli entrevistando, então? Jesus, me abraça!

Apesar de apaixonada pelo Bonfá, o Rockgol é intragável. Programinha mal-feito, sem prumo, o fio condutor acaba nos 15 minutos do primeiro tempo. Precisa ser mais dinâmico, mais bem dirigido, com externas, corte mais ágil.

Mas whatever... Quem sou eu pra criticar onde não fui convidada? Vai que a linha do programa é esse mesmo...

quinta-feira, abril 15, 2004

Chore, se puder - Danuza Leão

Eu amo essa mulher. Ela é meu modelo de comportamento, de literatura, de savoir vivre! Não é a mais linda crônica dela, mas estou fazendo backup dos meus arquivos do computador, que vai tomar bala amanhã, e achei esse texto. Mandei pra uma mocinha que foi a melhor amiga que tive durante alguns anos. A maldita tecnologia fez com que nos desentendessemos, e foi irreversível.

Mas isso já é outra coisa...




Há quanto tempo você não chora? Muito tempo, não é? E pensando bem, como era bom chorar.

Hoje, no máximo, os olhos se enchem de lágrimas - mas só numa cena emocionante de um filme ou de um livro. Por nossos próprios sofrimentos, quase não se chora.

Às vezes, contando um sonho ao analista os olhos podem até se encher de lágrimas, mas aquele choro grande que terminava em soluços, e nessa hora sempre aparecia alguém para dar um ombro - que era imediatamente aceito - e te abraçar forte, esse choro, faz tempo. E esse ombro e esse abraço também.

Nunca se soluça sozinho; tem sempre que ter alguém por perto para que o choro saia forte, sem pudor, bem barulhento e bem sofrido. É a certeza de que haverá alguém para nos consolar que permite que se caia em prantos - a não ser quando se é muito jovem, se vê o namorado com outra numa festa e se vai chorar no banheiro. E mesmo assim, se tiver uma amiga por perto é melhor.

Mas o tempo não pára de passar e os mais atentos sabem que se chora cada vez menos. Será que é porque já se passou - ou pelo menos se viu - tantas coisas tristes que chorar só por razões muito, mas muito sérias? Tem gente que no lugar de sofrer fica com raiva - o que é bem saudável.

Se você sofre uma injustiça, é caluniada ou uma amiga te é desleal, chora ou fica com muita raiva? É evidente que a segunda opção é muito melhor.

A raiva faz com que você se mexa, pense - numa vingança ou numa estratégia -, faça planos, se modifique, passe a ser mais esperta, mais rápida para ver e entender as coisas, mais inteligente e mais lúcida, com os pés mais no chão.

Já o sofrimento paralisa; os sofredores por vocação não conseguem fazer nada além de sofrer e terminam rodeados de pessoas semelhantes, para se lamuriarem juntas. Não que você não dê uma força a uma amiga que está sofrendo, mas certos sofrimentos têm prazo para acabar - a não ser para os que tiram, da infelicidade, seu prazer de viver. É, isso também existe, são as eternas vítimas, o que, aliás, já saiu de moda há alguns anos.

Mas por que é tão difícil chorar nos dias de hoje? Quando se é criança, até um tombo que deixa o joelho ralado faz as lágrimas saltarem. Hoje você vê pela televisão a tragédia de um menino sendo morto, se horroriza, sofre, mas não chora. Será um problema orgânico? Antes, o choro vinha tão fácil que era obrigatório que as mulheres levassem um lencinho na bolsa. Hoje, a não ser em caso de fortíssimo resfriado - e para isso existem os lenços de papel; os lenços de cambraia com o monograma bordado estão em via de extinção. Aliás, se você quiser comprar lencinhos para levar na bolsa, alguém poderia indicar um bom endereço?

Antigamente se chorava de tristeza quando um amigo viajava, de emoção quando ele voltava, até de saudades se chorava - dá para acreditar? É bem verdade que hoje o telefone ajuda bastante a atenuar esse tipo de sentimento, e assim sendo a palavra saudade - que se dizia com tanto orgulho que só existia na língua portuguesa - vai acabar saindo do dicionário, por inútil. E alguém tem tempo de ter saudades de alguma coisa, na correria em que se vive?

Mas estou sendo injusta, de uma coisa se tem saudades, sim: é do tempo em que se chorava. Não das razões pelas quais se chorava, mas pela capacidade não só de sentir como também de demonstrar o que se sentia. Hoje nos defendemos a tal ponto do sofrimento que fingimos não sentir mais nada, e de tanto fingir, acabamos não sentindo mesmo. O coração vai virando uma pedra, não se sofre, mas também se deixa de sentir um monte de coisas, como ternura, amizade, carinho, bondade, solidariedade, impulso de ajudar quem está precisando. E a razão é simples: ficamos cegos e não vemos que as pessoas em volta existem. E assim, para não sofrer, descartamos da vida também o amor, é claro.

Boas razões, aliás, para cair no choro.

Só que agora já é tarde.



Danuza Leão
Eu tenho que lembrar em qual parte da noite eu arranjei esse calombo na testa... Dolorido...
What a fuckin' night!

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Eu não quero mais brincar de resolver coisas, escrever textos para filminhos, para artistas, para produtos. Eu quero ser dona de casa. Amélia, sim, é que era mulher de verdade. Quero lavar banheiro, cozinhar, levar criança na escola, ler revista Caras, passear no shopping.

Chega de ser mulher independente! Vou cancelar minha conta no banco, meu CPF, vou ser dependente do meu marido, usar o CPF dele e nunca fazer declaração de imposto de renda. Vou ficar nas rodinhas de mulheres-Amélias conversando sobre como educar filhos, enquanto os maridos se reúnem em volta da churrasqueira pra falar de futebol e da capa da Playboy.

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Sim, estou trabalhando, sim, e estou rabugenta, por quê? Vai encarar?

quarta-feira, abril 14, 2004

Locações



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Zeba,

Certa feita, um pouco depois de você passar a usar aquele "nosso" remédio, você escreveu isso.



"[ Sáb Ago 03, 02:29:04 AM | Zeba ]

Não sei como começar esse post, então ele vai começar pelo meio

...encontrei Dani e ficamos de nos ligar mais tarde, depois que eu retrançasse os cabelos, pra irmos a uma festa na UFBA. Como fiquei livre mais cedo do que pensava, saí com ela pro Iguatemi, pra ele receber uma grana que já tava fazendo falta. Lá, fechei meu cíclo de encontros randômicos coms as "vcs" do meu blog. O encontro foi com a "vc" do post raivoso do dia 30. Foi como era de se esperar. Ah sim!! é verdade!!! Pausa aqui, vamos voltar um pouco no tempo....

Depois que acabei de trançar os cabelos, não queria ficar na casa de minha mãe esperando Dani se arrumar. Estava no meu habitual baixo astral, junto com uma crise de mau humor. Fui dirigindo devagar, meio sem pensar e acabei parando na saída do Crsito (o daqui de Salvador), ali pela rua do Suan Loun. Peguei a direção de ondina, e aquele marzão, iluminado pelo sol de 4 da tarde, atraiu o meu olhar, sei lá.. Senti uma sensação estranha. Na altura do Clube Espanhol, Dani, misteriosamente pronta no horário, me liga. Faço o retorno, e volto na direção em que vim. Depois da curva do Cristo, tive uma visão. O Farol da Barra ao fundo, enquadrado pela Ilha de Itaparica e pelo Sol maravilhoso que fazia. A sensação veio de novo, com mais força. E entendi o que era. Felicidade, Alegria, Jubilo. E o melhor. Gratuito. Por nada. Simplesmente pela paisagem. Pelo sol, que há muito não via, ou não enxergava. comecei a rir, rir sozinho, numa sensação genuína de felicidade, só por ser. Foi bom. Dani Se surpreendeu ao ver minha cara sorridente (estava rabugento minutos atrás no telefone) perguntou o que tinha acontecido. "Nada. Só vi o Sol". "Tá, Zeba, conta outra". "Não, Dani. Foi só isso". e aquela sensação de alegria não me deixava. Foi bom. Alguém estava sorrindo pra mim, finalmente. E esse alguém, pasmem, era eu."


Clique no Farol da Barra, a foto é sua. Fiz num dia de locação — no mesmo dia em que fiz essa foto do banner do meu blog, que você perguntou —, e lembrei desse seu post, e lembrei do dia, e lembrei da grana, e lembrei da festa. E lembrei de você feliz, feliz, feliz. Pra que nunca falte sol nos seus dias, pra que nunca falte a foto certa para você ficar feliz.

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Porque você seria o único homem com quem eu casaria hoje. O resto não vale a pena tanta dor de amor.
Exausta. Remédio, fico grogue, apago. Durmo, durmo por etapas, que se deixam ver pelo calor. Começo coberta até as orelhas, e no último estágio, estou descoberta, com os pés frios.

Desculpa à única pessoa que sabe dos meus planos. Eu dei um furo hoje, mas você já tinha visto o quanto eu estava fora do ar. Apaguei. Acordei tarde, só pra trabalhar, e veja a hora: estou parando agora.

Desculpa mesmo, mas brigar contra mim eu não faço mais. Nem contra o que o meu corpo pede — me cobra a história do "ano e meio", você vai rir —, seja dormir, seja comer, seja dormir de novo, e mais, e mais. E nem brigo mais contra o que eu sinto. Só não sei o que vou fazer com essas novas informações. Acho que vou pro meu exílio voluntário esses dias. Fui limada do set daquele filme, e acho que tenho o resto da semana livre. Bastando abrir um sol, eu compro uma dúzia de livros, dou um telefonema e desapareço.

Ou isso, ou vou chutar o pau da barraca, dizer coisas que não quero, comprar brigas que não compensam, romper amizades, infringindo a minha lei número 1: gostar das pessoas do jeito que elas são. Sabe, o fato de ter metas não as transforma em sonhos. Eu nunca estive tão sem sonhos. E mesmo as minhas metas não são metas. São frutos da restrição: isso eu não quero, nem aquilo, nem este. Sobrou o que eu estou me esforçando para cumprir.

Estou cansada das pessoas me usarem para todos os fins, TODOS MESMO, estou cansada das pessoas acharem que a minha vida não depende de mim.

Mas deixa. Eu comecei só pra te pedir a enésima desculpa. Não faço nada deliberadamente para sacanear ninguém. Não tenho o menor orgulho em ser má. As coisas acontecem. Shit happens.

terça-feira, abril 13, 2004

Frio na barriga. Dados lançados, tomara que eles me aceitem. Frio na barriga.

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Sono, muito sono, e a vontade de explodir tudo e dar uma guinada fica sublimada pela narcose. Jogo sujo, onde todo mundo sabe quais são os seus papéis, e não os desempenham com o mínimo de aplicação. Teatro de farsa, e eu, marionete, a ser empurrada de um lado para o outro por fios que nem vejo, só sinto.

Sono, sono para esquecer que algumas pessoas me amam, mas tem um jeito muito canhestro de demonstrar. Sono para ter a eterna cara de alheada, para engolir em seco a poeira da sujeira que eventualmente fazem comigo.

Uma, duas pessoas em quem confiar, e as outras ficam trocando histórias entre si, usando esta idiota como pombo correio. Sono para tentar entender as pessoas que acham que vão definir como vai ser o meu dia seguinte, quem vou beijar, a quem vou dedicar meu amor.

E eu, estúpida, sempre fiel, sempre partidária da lealdade, livro a cara de um, entendo o outro, não encrenco, não arrombo. Estúpida, estúpida que não aprendeu que o mundo não me é leal, as pessoas não me são fiéis. Cretina, que espera fidelidade, sinceridade, lealdade do namorado, do amigo, do parente, e só recebe de uma amiga.


É fora de moda ser mulher de um homem só, dedicada, cúmplice. É fora de moda ser uma amiga que ouve, que opina, que age, que serve como bálsamo para as machucaduras daqueles a quem eu tanto amo.

Mas eu sou isso. Não vou sair bordoando, não vou despejar minha mágoa no alvo específico, não vou cair na promiscuidade e beijar cada boca disponível. Não vou me desfazer dos meus amigos, do homem que eu quero, da minha profissão. De nada. Talvez dos meus ideiais. Só dos meus ideais. Mas isso é um problema meu.

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E vou sozinha secar essas malditas lágrimas que insistem em marcar presença nesses olhos míopes.
Emails para a Embaixada da Inglaterra enviados, material entregue, falta decidir onde vou hoje à noite!

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Pior, muito pior do que sentir medo de algo ou de alguém, e sentir medo de si mesmo, das próprias reações.

E eu ODEIO os fracos.
Coragem, garota, ainda faltam o email pro Consulado da Inglaterra, pedir as provas de teste do filme do final de semana, ir até a produtora...

Por que eu deixo tudo pra fazer num dia só?

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Se o Léo tivesse mandado as fotos do final de semana feitas na câmera dele, vocês já teriam uma amostra do quão insólito foi o feriado. Mas ele se nega a atender aos meus chamados, às minhas imprecações, aos meus rogos.

A Nanda também estava com câmera analógica, e eu... Eu ainda não tive saco para ir até o meu laboritorista preferido para ficar enchendo o saco dele enquanto ele faz o copião pra mim. Acho que vou ao Shopping Barra, mesmo.

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Ainda estou colorida.

Todas as noites eu faço um checking list para o dia seguinte. O de amanhã vai ser fácil:

.Fazer tudo o que tinha pra ser feito no dia 12.

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Vem comigo, eu te explico no caminho...
Via Messenger, em MP3, depois de quase uma hora me torturando...

O pai da "Fada" me deu isso de presente agora, agora. Cantando pelo Bono Vox, tem o contrabaixo mais indecente da história da música.



Thats Life!

That's life (that's life), that's what all the people say
You're ridin' high in April, shot down in May
But I know I'm gonna change that tune
When I'm back on top, back on top in June

I said that's life (that's life), and as funny as it may seem
Some people get their kicks stompin' on a dream
But I don't let it, let it get me down
'cause this fine old world, it keeps spinnin' around

I've been a puppet, a pauper, a pirate, a poet, a pawn and aking
I've been up and down and over and out and I know one thing
Each time I find myself flat on my face
I pick myself up and get back in the race

That's life (that's life), I tell you I can't deny it
I thought of quitting, baby, but my heart just ain't gonna buyit
And if I didn't think it was worth one single try
I'd jump right on a big bird and then I'd fly

I've been a puppet, a pauper, a pirate, a poet, a pawn and aking
I've been up and down and over and out and I know one thing
Each time I find myself layin' flat on my face
I just pick myself up and get back in the race

That's life (that's life), that's life and I can't deny it
Many times I thought of cuttin' out but my heart won't buy it
But if there's nothin' shakin' come this here July
I'm gonna roll myself up in a big ball a-and die

My, my

segunda-feira, abril 12, 2004

Uma garrafa d'água, insônia e celebrity death match na MTV. Minha Nana com ferimentos de guerra (ela brigou com a Mabel, saiu com um machucadinho na orelha e outro embaixo do olho) volta e meia sente carência, deita no meu colo, suspira e dorme.

E só assim eu acredito numa coisa chamada amor.

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Preciso da minha São Paulo na veia. Preciso entrar e sair de metrôs, vadiar pelo Anhagabaú, entrar em todos os sebos perto da República. Preciso daquele café da Consolação, do chopp no Copan, da Adidas Store.

Preciso parar na frente do MASP, preciso ver a exposição da Oca, preciso de noitadas na Madá, da Lapa, da maria mole na porta da garagem da Leopoldina. Preciso de um salão de sinuca que tem numa paralela da 9 de Julho, preciso do Shopping Paulista, do Playcenter. Quero passar na frente do Parque Antárctica, quero descer pra Santos pra ver a galera do Caldeirão, pra dar um puta abraço no Paulo Osso, no Marcelo, pra participar enfim de uma Integrarex.

Preciso saber a que lugar pertenço, preciso estar numa terra em que as pessoas falem como eu. Onde o camelô não tente me roubar por achar que meu sotaque é de fora (e é). Preciso do Aeroporto de Guarulhos, horas esperando pelo meu vôo, olhando o mundo se dispersar através dos vidros blindados. Quero as ameixas frescas na saída da Estação Santa Cecília, da voz metalizada dentro dos trens urbanos, das caras de sono do povo que vai pra Cidade Universitária.

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Paulistana com banzo é foda.

Óbvio

Na semana que eu reservo para finalmente ir para longe demais de tudo, o céu fica cinza chumbo, estou de casaco, os meus times perdem de virada, ambos por 3x1, e o Flamengo... Bem, o Felipe sumiu, Isaac também, que graça tem sacanear um vascaíno?

Vou botar as rodas no asfalto uma hora dessas, revelar os copiões do final de semana from hell.

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Se o seu feriado foi maravilhoso, com muita diversão, gente inteligente, o nascimento de um novo amor pra sempre, boa música e boa comida, fim de lua cheia, faz um favor pra mim?

MORRA!

e não me conte seus problemas. Tampouco as soluções.
Serendipities

Eu abri o blog dele, e reencontrei todo o nosso passado exposto na mesma página. Parte dos nossos anos em comum estava ali, e eu já não me encontrava nele há muito tempo.

Abri o meu blog do mesmo período, e fui passando os meses e os fatos na velocidade que às vezes as coisas deveriam Ter. A vida devia vir com barra de rolagem, e a gente empurra pra frente e pra trás ao bel prazer. Ou deixa lá paradinho, saboreando a mesma coisa, lendo o mesmo texto, vivendo as mesmas coisas até encher o saco e procurar mais o que fazer.

E me achei nas palavras dele. Achei isso aqui, achei mais um monte de Danielinhas que eu nem me lembrava. Algumas das Danielinhas foram encontradas por ele, assim como algumas das verdades dele quem descobriu fui eu, quem viu primeiro fui.

Anos de encontros e tapas e encontros de novo e similaridades e coincidências e irmandade e geminianismos e risos e beijos e tatuagens e dias perfeitos e outros nem tanto e história partilhadas e horóscopos postados e nós e eles e ele e ele e ele.

Achei toda a minha dor nas palavras dele. Encontrei pedaços desconexos de mim mesma em cada letra grafada, em cada corte dele que sangrou. Achei meu sangue em algumas das linhas que ele escreveu, e passar por cima de uma ou outra dor dele foi quase como passar por cima das minhas próprias.

Somos iguais, ele adivinha as minhas reações, temos um vasto repertório de piadinhas internas, de respostas inocentes que redundam em estrepitosas gargalhadas. Só consigo ler alguma coisa nos olhos dele. Só ele consegue ler os meus. Ele me conhece como eu mesma não consigo me conhecer. Ele enxerga através de mim, ele conhece cada suspiro.

E ele nem ia com a minha cara. E eu passei a noite inteira conversando animadamente com a namorada que ele tinha, que é uma menina fofa. E ele me jogou na mesma vala que jogou uma amiga minha: duas porcarias. E eu nem sabia que ele existia, tão interessada estava num Presidente de Clube de Gamão Online (verdades ditas muitos anos depois, meu amigo lindo, dos lindos olhos...)

E quem ia adivinhar que nos transformaríamos em iniódimos, monstros que dividem a mesma nuca, quiçá o mesmo cérebro? Minha retranca, meu igual. Meu oposto complementar. Complementar.


Teaser

Eu não sei o que você vai fazer com essa informação, mas...

... mas também não estou minimamente interessada no que você vai pensar.

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Obrigada, Clari.
Veículo: Revista Época, ed. de 12 de abril de 2004.
Editoria: Turismo
Retranca: Golfe na Bahia
Pág:50.

Foto na parte inferior central

Produção:

DANIELA HENNING

Veiculação:

NACIONAL

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Na verdade, a peça foi produzida para veiculação internacional, mas como ainda não vi...

domingo, abril 11, 2004

"AAAAAARGH, ESTOU VERMELHA!

E a temporada na ilha quadrada só tinha começado...

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Se não fosse ele, mal humorado que amo tanto, eu não teria ido. Zeba. Mas se não fossem eles, eu tinha voltado à pé da Praia do Forte. Léo, Nanda, Clari, Dani, Liz, Vini.

— Vamos para a praia?
— Vamos!


Num dos desenhos do Pernalonga, ele resolve ir à praia e se perde por baixo do caminho. Sobe num areal e desanda a correr para a água, gritando: "Miami Beach, Miami Beach!". Hooooooras depois, ele está um lixo, quase derretido, mas ainda correndo trôpego pela areia, e gritando: "Miami Beach, Miami Beach". Era o Saara.

Hoje tenho certeza de que ele também podia estar a caminho das Papa Gente, na PF. Anda, anda, anda, anda, e depois de muitos "anda", chegamos até a praia. "Ah, correr pra água e espadanar como criança!". Tolinha... Chegar à faixa de areia não significava chegar À PRAIA! Ainda tinham uns dez quilômetros pela frente, toneladas de areias escaldantes para os meus pés encostarem... E as tiras dos chinelos arrebentaram!

Por que, Deus, por que isso acontece COMIGO? Puta e meia da vida , consertei as porcarias — quando eu era pequena, o Chico Anisyo era o garoto-propaganda das Havaianas, e dizia que "não tem cheiro, não desbota e nem solta as tiras". Estou pensando seriamente em processá-lo... — e continuei as 15 estações da tortura de Cristo.

Vim acompanhando o comboio, quando de repente esbarro no Léo.

— Pô, não tem luz de freio, não?
— Uh... É que eu acho que a gente vai ficar aqui...


O "aqui" era o lugar mais inóspito da face da terra. Praia da moda. Acéfalos. Milhares de seres quase-humanos desfilando jóias, biceps, triceps, jogando frescobol!

— Deus, peço perdão pelos meus pecados todos. Isso aqui é demais pra mim.

ABSOLUTAMENTE nenhuma estrutura: nenhuma barraca, nenhum banheiro, e não sei de onde surgiram aqueles guarda-sóis. Ali não dava. Liz ficou na areia, depois de espadanar na água qual criança, e os sobreviventes resolveram andar até depois daquele amontoado de gente que se banhava nas piscinas naturais. Qualquer ser humano minimamente razoável sabe o que significa aquela poça d'água com uma cambada dentro: xixi, gordura da pele, restos de protetor solar, derramamento de óleo de bronzear.. Uma catásfrofe ambiental!

Fizemos o percurso Salvador-Namíbia por cima de pedras, corais. Chegamos numa poça interessante, e de onde estávamos, era só esticar o pescoço um pouquinho e ver as girafas de Botswana. Ah, Mãe África, tão perto...

***

Pense num cara puto. Daniel. Sentou a uma certa distância de mim, da Nanda e do Léo, e emburrou.

— Vamos embora? A gente compra cerveja, lá em casa tem um churras, ficamos de molho na piscina e esquece esse episódio nefasto.

Léo, acho que esse é um dos motivos que explicam porque amo você...

Vamos voltando por cima das pedras, ânimo renovado pela possibilidade da fuga (Putz, lembrei dos planos de fuga do "Primal Scream", qua aquela mocinha linda e brava comigo arquitetou..) Se não me apressasse, não daria tempo de participar da primeira bateria de corrida do saco, já que a corrida da colher na boca com ovo já estava nas semifinais....

No caminho de volta das pedras, e nem era O Mágico de Oz, o caminho não era de tijolinhos vermelhos, fiz o favor de rasgar a sola do pé. Divertido. Desclassificada da Gincana da Ilha Quadrada.

Volta, volta, volta, volta, volta e pára para tomar banho nos tubos que vêm do Projeto Tamar. Numa plaquinha: "Água Limpa". Claro, eles consideram a tartaruga um bicho limpinho... Porque aquilo era água que vinha dos tanques de tartaruga! Santa providência! Molhei o pé só pra ver se o machucado estava muito aberto. Depois é que fiquei ruminando se tartaruga transmite alguma doença que se pega pelo pé ferido.

***

— Um peixinho?

Nãaaaaaaaaaaaaaaao! Eu não posso, não gosto e não quero peixe! Peixe, pra mim, só no aquário, e o último que tive quebrou há anos.

Mas o meu grito entrou nos ouvidos moucos dos meninos, e lá vamos nós, sentar naquelas odientas barracas entupidas de estrangeiros que vêm em busca de "Pelê, mulhatas, Escrava Isaura. Pobrecita de la escravita Isaura"...

Guaraná quente, pé doendo estupidamente, e cadê o paraíso azul de água doce que haviam-me prometido? Resignação, teu nome é Daniela.

Pede peixe, demora peixe, vem peixe, "só isso?", esfria, chegam Clari e Vini. Vini, cujo olhos nunca encontram uma nuvem: o céu — e a vida — são sempre azuis como seus olhos. Vini, de sorriso perene, inquieto, impulsivo, curioso, dono de todos os olhares dos arredores. Esfria mais, "vamos embora"?

— Você esqueceu do Souza?

***

O Souza é um capítulo. Uma novela inteira. Um filme concorrente ao Golden Strawberry. Forte concorrente.

Toda aquela multidão que estava dourando os corpos naquelas areias escaldantes, todos aqueles que passaram o dia de molho naquela água mais imprópria pra banho que a Lagoa Rodrigo de Freitas, toda aquela gente estava lá. No Souza. Como chegamos cedo, tivemos a honra de sentar nossos traseiros por lá mesmo. O resto da turba, que levou hooooooooras fazendo chapinha no cabelo, vendo se os músculos estavam bem definidios, esses ficaram do lado de fora. Antiga rua do Vai e Vem, na Barra, com menos cérebros ativos.

Três contas depois, reabrindo a quarta, levantei para rodar. Vamos ver se tem alguém conhecido. Não precisei sair do Souza: JOÃO! João, que estudou comigo há exatos dez anos, está morando em Jacuípe sozinho, advogando com o pai, e não mudou uma vírgula. Três ou quatro anos que não nos víamos, mas carinho é carinho. A idéia veio num raio, coupe de foldre literal.

— John, posso passar uns dias na sua casa?
— Companheira Daniela, vou te dar uma porrada se você me PERGUNTAR se pode ficar na minha casa. Você participou da inauguração, você é minha amiga, a casa é quase sua, também.


Na profusão de abraços, de notícias, de histórias, ainda aparece Piaba com uma namorada que não conheço, o Thiago, que se juntou a nós, e por um tempinho eu esqueci da multidão que nos apertava de encontro uns aos outros.

***

Dentro do Souza de novo, 206 dias lá dentro. O inferno é a repetição. É viver todos os dias a mesma coisa, sabendo que a desgraça é iminente, que o acidente não poderá ser evitado, que o pagode vai continuar a tocar e que o dia seguinte será igual. Inferno é o dejá-vu.

O alívio para as dores veio numa conversa longa com a Clari, menina que eu adoro, que entendo, que admiro. O conselho mais sábio, mais lúcido, veio dela, bem como as palavras de ordem que impuseram uma certa organização naquele mundinho liderado interinamente pelo Deus Chaos. Eu. O mundinho era eu.

— Só desista quando tiver certeza. Você tem?
— Está esperando o quê pra telefonar?
— Você precisava ouvir as coisas absurdas que disse quando eu chutei o pau da barraca. Não, você não precisa, não. Você já ouviu...


Ela foi a Daniela que eu sempre quis achar e nunca achei. Ela deu o freio de arrumação na minha casa, entrou sem permissão, abriu as janelas, trouxe flores, me expulsou da cama para trocar os lençóis suados, me empurrou pro chuveiro, fez bolo, deu bronca, fez carinho. Ela foi pra mim o que sempre sou pros meus amigos e nunca tenho de volta. Soube o momento certo de pressionar, de parar, de flexionar, de voltar à carga.

***

Acabou. Deixamos Clari em Itacimirim, viemos em dois carros comboiados, rindo de bobagens lembradas e compartilhadas via celular. Minhas 400 músicas em MP3 foram controladas por mim no player do carro. Léo achou "Waiting in Vain" na sua bagunça musical. Nanda compartilhou seu CD de reggae maori. Paramos para comer no Bob's do Aeroporto. Liz em casa. Daniela desovada em casa. Obrigada.

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E no final eu não estava em lugar algum. O corpo estava na Praia do Forte, I was under the same stars, but in another place, sem um único ruído que fosse não bem vindo. Estava em casa, sob as flores azuis do edredon, em meio ao efeito da paz tarja preta. Parte de mim já estava em Jacuípe, de frente para o sol que nascia, parte minha estava na Inglaterra — e depois falo sobre isso. Parte minha não estava em lugar algum: errava por aí, sem saber exatamente onde parar.

Perdi a capacidade de me divertir por longos períodos. Estou deformada para outros prazeres e algumas pessoas.