Pela última vez, de verdade.
30 anos.
30 anos são 360 meses. Ou 392 lunações completas. Ou 10950 dias.
Com 30 anos, a maioria já casou, ou já tem um relacionamento estável. Aos 30 anos, a vida já tomou um rumo profissional. Aos 30 anos, já acabaram os recalques da infância. Com 30 anos, já se quebraram todos os ossos que a puerilidade permitiu, já foram tomados todos os porres que os deliciosos anos de irresponsabilidade facultaram.
Hoje ele faria 30 anos. Aos 30 anos, ele já estaria casado comigo, ou pelo menos no mais estável relacionamento do mundo. As 30 anos, ele já seria o médico que estava destinado a ser. Aos 30 anos, já teríamos passado juntos por tudo o que acabou empurrando cada um pra um canto. Aos 30 anos, ele estaria sem alguns dos seus amigos mais antigos, mas teria alguns novos, mais próximos das suas ambições e aspirações.
Aos 30 anos, certamente teríamos um filho. Ou dois. Aos 30 anos dele, e meus quase 28, eu seria uma mulher completamente diferente. Talvez não tivesse blog, talvez não conhecesse você. Aos 30 anos dele, eu não estaria aqui, chorando, sentindo uma dor que eu jurei que nunca mais sentiria. Eu estaria embaixo deste sol com ele, rodando como dente de leão ao vento, feliz, feliz, feliz. Se você nos tivesse conhecido, certamente estaria nessa festa. Porque não se faz 30 anos todo dia. E nem todo mundo faz 30 anos.
Aos 30 anos dele, eu não estaria tão deformada, tão amarga, tão velha, tão vacinada. Nem tão vulnerável. Aos 30 anos dele, seríamos felizes, porque esse foi o único motivo de nos termos encontrado nessa vida. Se não foi assim, é porque... Não, eu nunca entendi porque não foi assim, porque não fomos felizes. Essa era a nossa única função.
Aos 30 anos, seus ossos já estariam todos soldados nos lugares certo, e não soltos, tíbia com rádio com escapular, femur inaturalmente encostado no occipital. Não estariam misturados, como estão agora.
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Ou não.
Talvez fossemos os maiores amigos do mundo, talvez não tivéssemos tolerado o relacionamento por mais um mês. Ou dois.
Mas aos 30 anos dele, e meus quase 28, eu realmente não seria tão deformada, tão amarga, tão velha, tão dolorida, tão velha, tão sem horizontes, tão sem sonhos, tão descrente, tão sozinha, tão sozinha, tão sozinha. Aos 30 anos dele, e meus quase 28, eu não seria tão sozinha. Nem tão infeliz.
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"Já passou
Agora já passou
Mas foi tão triste
Que eu não quero nem lembrar
Vem pra mim
E não vai mais
Me abraça, me abraça, me abraça
Por tudo o que for..."
Lobão
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