sexta-feira, abril 16, 2004

Ouvindo: Needles and Pins - Ramones

********

Sala de arte, cinema com o pai da Fada. Embrassez Qui Vous Voudrez — Beije quem você quiser.

— O título é bem adequado à você, né, Dani?

Cala a boca, Miriam Lane. Leia o meu blog que você vai ver que estou hermeticamente fechada para quaisquer tipos de relacionamentos. Vou levar a sério a idéia de reclusão religiosa.

103 minutos que não mudaram a minha vida. Só me deixaram ligeiramente angustiada com o tempo que não passava. Filme com vários plots, todos abordados superficialmente. Uma necessidade de mostrar que a burguesia fede, que os valores todos estão deturpados, que estamos numa terra de ninguém. Ou seja: um clichê pior que True Lies. Não entendo porque os filmes de arte não podem ter final feliz. É sempre todo mundo muito drogado, muito promíscuo.

Valeu porque eu matei as saudades do pai da Fada, que não via desde... desde 8 de novembro! E num porre tão beneditino que muita coisa eu nem me lembro. Só ele pra ter o saco suficiente para me aturar durante um porre de James Bond.

Meus pés me conduzem até o Mac Donald's, enquanto vou ligando pra todo mundo que me ligou durante o filme.

— Desculpa o furo, Clari!
— Não, não vou.


Toca o telefone de novo.

— Fala, Canalha!
— Vem pro Tapioca, estou produzindo o meu primeiro show.
— Pô, Canalha, agora?
— É. Vem.


E desliga na minha cara. Não, não fui. Quero a minha paz. Telefono pra um.

— Tá afim de tomar um chopp?
— Não, estou vendo Matanza
— e a gente engata num papo sobre o quanto o Matanza é sem presença de palco. O restinho de ânimo que eu tinha pra sair foi derrubado.

Finalmente entro no Mac Donald's, ainda no telefone, e sinto um par de olhos me seguindo. Procuro, não acho, mas a sensação é incômoda. Desligo, faço o pedido e ganho um beijo no pescoço.

— Ricardinho!
— Mas que menina cheirosa! Já pediu? Então vem sentar comigo.


Não estava no esquema sentar e socializar, mas parece que os fantasmas resolveram sair todos para dar uma volta hoje. Ricardinho, que parece que tomou jeito na vida. Como chamar por um diminutivo um homem daquele tamanho, mais velho que eu, todo engalanado, voltando do trabalho?

— O que vai fazer amanhã?

Ah, Ric... Vou ser feliz. De algum jeito eu vou ser feliz, não tem plano ainda não.

— Tem o show de uns amigos meus no Tangolomango. Quer ir?
— Não. Queria tomar uma a tarde.


Então me liga, menino lindo. Me liga, vamos ver se eu estou no espírito de começar a festa lá pelas três da tarde. Moleque fofo, se eu soubesse que tinha salvação, tinha agido de outra maneira naquele tempo... Mas agora? Árida? Anecúmena? Não, moço, você não merece nada assim.

Terminei meus nuggets, a conversa, cumprimos o ritual das promessas de ligar amanhã. Peguei meu sorvete — porque eu afinal não preciso de ninguém para me convidar para tomar sorvete! — e tomei o rumo.

Ainda teve o telefonema pro Gui:

— Tá aonde? Vai sair?
— Tô em casa, se for sair te ligo lá pela meia-noite.
— Guilherme, seu porqueira, você está aprontando!


E aquela risada cristalina que ecoa nos meus ouvidos há mais de 15 anos se repete, como se nem um dia tivesse passado desde aquele primeiro, há tanto, tanto tempo.

— É... mais ou menos... Deixe o celular ligado, viu?

Chguei em casa. Mar escuro, quase lua negra, nenhum navio para apitar e fazer meu coração falhar uma batida. Nenhum jogo de luzes de proa para eu tentar exercitar o Morse que nunca entendi bem. Afundei nas escadas em direção ao apartamento sem fim. That's over for me, now.

********

I wanna runaway! I wanna escape!

********

Quero saco para abrir o Dreamweaver agora e mexer no template do blog do Lu. Mas está difícil. Quero um remédio que me faça ter vontade de hastear a minha bandeira de corsária e tomar outros navios. Quero voltar a ter ânimo. Quero voltar a olhar pro cardápio com um ar de doce agonia da antecipação do prazer. Quero voltar a me divertir. Quero reaprender a ser feliz por mais de quinze minutos. E que não seja por causa de uma revista em quadrinhos.

Nenhum comentário: