segunda-feira, abril 26, 2004

E dormi.

Depois de exaurir o espírito atormentado, caí nos braços cálidos — e desta vez , pouco confortáveis — de Morpheu, e deixei que a ervilha de três posts abaixo incomodasse as minhas costelas.

Diz aquele que eu ainda admiro que o tempo é Senhor da razão. O post de ontem é a prova de que o tempo é o Senhor da razão, mas não manda no coração.

Quase uma vida inteira nos separa, e eu não sabia que a negação e a afirmação do amor ainda poderiam me dobrar de tanta dor, enquanto as lágrimas caíam impiedosas. Poucas, oleosas, carregadas de confusão. Quero, não quero, não posso, não devo, não é certo, me deixa ai que saudade volta não fica não pode seu lugar não é aqui MAS EU SINTO TANTO A SUA FALTA.

Mas eu te amo tanto que é hora de ir. Não só de você escolher ir, mas hora de te deixar ir. Por aqui as coisas estão bem, amor pra toda a minha vida. De verdade. Segue, que eu estou dando conta da briga por esses lados de cá. Segue, que se for pra você voltar pra minha vida, estou te esperando de braços abertos. Se não for, o amor que eu sinto é tão grande, tão desmedido, que meu coração vai ficar na sua torcida. Pra sempre. Vá, você nunca vai me perder.

Ontem... ontem foi só a saudade. Foi só a constatação de que os dois fizemos burrada atrás de burrada, de que não me livrei da culpa ainda, de que a gente sempre sempre sobrevive. Mas foi a constatação também de que não se apagam certas coisas que estão tatuadas na pele. Eu sei que está lá, deixa cicatriz, e quem chegar a me conhecer, vai acabar vendo o monstro deformado e incapaz que se esconde por baixo da minha cabeleira fauve, dos meus adesivos de cartoon, do meu excesso de simpatia e cor-de-rosa.

É quase uma resignação.

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E hoje, depois de cumprir a tradição das segundas-feiras, reencontrei o meu primeiro câmera, o cara que estava comigo quando eu fiz a minha primeira — e tragocômica — direção de externa. Eliomar, que deve ter aprendido o que significa aquela janelinha "daqui pra trás" — era o áudio. A filhinha dele já não é mais tão filhinha, já tem vontade própria, já anda de moto com ele pra baixo e pra cima. Quase oito anos se passaram, e eu esperava que a Juliana ainda fosse aquele bebêzinho xodó do pai.

E no meio da balbúrdia do trânsito, ônibus, carros, pedestres e barulho, foi o meu cinegrafista querido que me deu a notícia casualmente:

Ele voltou, você sabia?

Não. Como assim? Ele voltou? Mas e...

— Não deu certo lá na África, voltou, passou uns tempos aqui e foi pra São Paulo. Está na rede de novo.

E eu, Deus, como fico nessa piada? Parece que estou vivendo onze anos em três dias! Por que estou olhando tanto pra trás? Será que porque pra frente não vejo nada, porque não sinto vontade de dar um passo adiante? Será porque estou sendo esbofeteada dia a dia com esse passado que carrego nas costas, tal e qual Atlas?

Ainda meio entorpecida — eu ando anestesiada esses dias —, segui meu caminho, Eliomar seguiu o dele. Cheguei em casa, deitei e dormi.

Sleep to forget.

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Alguma coisa tem que voltar pros trilhos.

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