sexta-feira, agosto 22, 2008

Hoje é nona-feira

Os dias das pessoas normais são separados em grupos de sete. Cinco desses são de feira. Sábado e domingo, que são dias da feira propriamente dita, não têm feira no nome. Não tem importância.

Os dias de produção são uma eterna sucessão de oitavas-feiras. Dia de produção só existe no mágico calendário que rege essa raça insana — e deliciosa.

A oitava-feira tem um cheiro diferente, uma cor atípica, uma sensação que nem é a do dia de trabalho norma, nem é a mesma sensação de acordar num sábado de manhã e saber que há pela frente dois longos dias de dolce far niente. É o misto de noite mal-dormida com ansiedade de primeiro dia de trabalho. É resultado de acordar de hora em hora para não perder o toque do despertador. É ver o dia nascer e nem ser na volta da balada. É sair quando todo mundo está chegando.

A oitava-feira deve ser cuidadosamente observada, porque como não temos muita noção(.) de final de semana, dia santo ou útil, corre o risco de uma produção mais afoita programar errado os horários de chegada e saída, sem levar em conta o trânsito — ou a falta dele.

Depois de muitas oitavas-feiras seguidas, enfim o job acaba, e chega ela, a nona-feira. Ah, a nona-feira, esse dia mágico, que cheira como feriado de uma profissão específica: a minha. Todo o mundo acorda para ir ao trabalho, e na nona-feira o profissional de cinema abre os olhos, espreguiça o corpo moído (e sempre está), dá um meio sorriso e dorme de novo. Na nona-feira a praia está mais vazia, o banco abre e dá pra ir resolver a vida até as 16 horas, os restaurantes são mais tranquilos, não existe fila para o cinema e os motéis têm promoção.

A nona-feira não é especial só porque quase sempre cai num dia de semana. A nona-feira é campeã justamente porque sucede aquele monte de oitavas-feiras loucas, de trabalho insano. É o descanso merecido de quem está anormalmente cansado. A nona-feira é divina. Cheira a Sundown, soa como Diesel and Dust, do Midnight Oil, e é mais gostosa que férias do colégio.

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Ontem fiz 16 anos sem ele. Acho que foi o primeiro dessa longa fileira de anos que não fiquei triste. Só tive saudade. Muita.

Minha vida seria completamente diferente se ele estivesse aqui ainda.

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E o ocaso do dia foi um dos mais lindos que vi nessa última metade da minha vida.

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E amanhã, o que fazer?

Um comentário:

Andrea Marques disse...

Dani,

Há mais ou menos um mês passei a ler seus textos. Dois, três, quatro por dia. Feliz porque tem um monte, desde 2002. Cheguei a deixar comentário no texto do dia 17/06/08, não sei se vc leu. Gosto demais do que vc escreve. A maneira como intercala as palavras, fazendo cada frase terminar como uma boa música. Eu escrevo todos os dias, desde 1992, mas com a velha caneta e papel, depois do banho, da TV, do livro de cabeceira e antes de Morfeu me levar pra mais uma noite de sonhos e pesadelos. Estou sumidíssima esses dias. Seus textos, porém, deixam vc bem pertinho de mim. Obrigada por nos brindar com a sua verdade, suas emoções, suas palavras.

Abraço bem apertadinho,
da sempre,
Dea.