Encontrei nos fragmentos um homem do passado.
Senti o cheiro dele num pescoço amigo, perfume amadeirado, misturado com cheiro de cigarro. Pode parecer ruim, mas a mistura é — e sempre foi — explosiva! Um cheiro querido, que precisava de um estímulo externo para novamente voltar a impregnar o meu olfato. Um cheiro que sempre esteve em mim.
Vi o rosto dele num rosto do além-mar. Mesmo sorriso, tanto nos olhos — não verdes, mas azuis — quanto nos lábios. Mesma cor de cabelo, fios de ouro velho, caindo insistentemente nos olhos.
O quadro se completa com o cheiro da palha de milho queimada entre goles de cerveja. Uma confluência de elementos que me conduziram a dias felizes, a olhares, confidências trocadas na cozinha, tarde da noite. Tempo do maior aprendizado, tempo de definição do meu papel, tempo que serviu para sedimentar todo o porvir.
Noite de presente, de celebração, de vida que vem, de vida que está. Lua em gêmeos, quase cheia, noite clara, véspera de definições. Tive de volta um amor do passado, coloquei-o na mesa, degustei um pouco, e fiz o que era justo: lancei-o de volta aos tempos idos, sacudi a cabeça e olhei pra frente. A noite estava clara como os dias que ainda virão.
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