segunda-feira, setembro 29, 2003

Hard to explain.

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Tudo pode ter começado com uma conversa sobre a final do Brasieirão de 96. Botafogo e Santos, deu Botafogo. A conversa começou aí, e estou quase me justificando por ter anotado o meu telefone num guardanapo do bar.

Dei meu número, sim. Era quinta, quiçá quarta, eu estava feliz, tinha acabado de voltar daquele inferno. Lala, Moca, eu, e Cesco se apresentou, anotou meu pedido de gin tônica e engatou um papo sobre futebol.

Duas vezes nos vimos, e juro: na segunda vez, pouca ou nenhuma bola dei. Inclusive, havemos de concordar no ponto que fala sobre target. Meu target é o criador, não a criatura. E nessa noite, então, estava mais avulsa que esmalte de camelô. Fui beijada por M. Legrand, queria ter beijado o amigo dos amigos.

Hoje. Cansada, cochilante, deitei para descansar e enfrentar a noite de duelo com M. Petit e Legrand. Toca o telefone, "Dani, é um espanhol". Não era. Era um carioca.

— Você já se olhou no espelho?
— Uh... Sim?
— E já vu o brilho dos seus olhos? Eu já. Eu só queria um dia com você, dentro de um mês inteiro.


E daó para "só queria te abraçar, te dar um beijo, te olhar nos olhos" foi um pulo. "Quero te ver agora", "você foi a única mulher por quem me apaixonei nos últimos três anos", e eu, sem jeito, a analisar todos os caminhos para ver qual deles havia me conduzido até ali.

Resumo da ópera: depois de mais de uma hora ao telefone, a bomba.

— Meus pais morreram anteontem, e eu só soube ontem, dia do meu aniversário.

O que dizer? Nada, nada brotava da minha célebre boca grande, nada saía do meu cérebro congelado. Nadie.

— Me ajuda, pelo amor de Deus. Eu preciso de você.

E eu não ajudei. Me escondi atrás do medo, covarde, vil. E apavorada que estava, desesperei com a possibilidade dele tentar algo contra a própria vidaa. Daniela, filha da puta, egoísta. Eu, Daniela.

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Seus pais morreram num acidente de carro. Eu fui instruída a não mais atender aos seus telefonemas. Deixei-o lá, entregue à própria dor, como jamais desejo para mim ou à outrem. Suja, maculada. Eu, que fiz ouvidos moucos a um "Pelo amor de Deus, me ajuda".

Eu, que pela primeira vez me furtei. Eu, Daniela Henning, 27 anos, filha da puta de marca maior.

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