Eu não quero que as pessoas pensem que eu as mantenho afastadas.
Eu só queria que as pessoas entendessem quando eu peço socorro. Que não pensassem que é birra adolescente quando minha rabugice vem à tona. Eu queria que as pessoas compreendessem o quanto é custoso me afastar de velhos padrões de comportamento. O quanto é difícil aprender a contar com os outros.
Queria muito que as pessoas soubesse que as minhas asas NÃO são como duas couraças de aço. Que eu choro mais do que as duas lágrimas que deixei ver dia desses. Que eu preciso de carinho, e acho até de mais carinho que a maioria das pessoas. Que eu não sei dizer o que eu sinto: trabalho com dados, com histórias, não com os meus sentimentos. Que eu sou mais insegura do que aparento. Que sou ciumenta, sim, e que vivo numa briga de mim comigo mesma para sublimar o monstro em que a raiva do ciúme me proporciona.
Queria que as pessoas soubessem que eu sei arrasar com um ser somente falando, mas que não uso isso nunca porque não tenho a menor intenção de destruir nada. Queria que as pessoas entendessem que sou a alma velha tentando resgatar uma parcela da vida que perdi. Queria que as pessoas se esforçassem para ouvir o que eu digo nas entrelinhas, assim como eu faço com elas.
Queria que as pessoas me ajudassem a contar com elas. Queria que as pessoas se dispusessem a me ouvir com interesse. Que as pessoas respeitassem o que eu sinto, para o bem ou para o mal. Queria que as pessoas me respeitassem mais. Queria que as pessoas não tentassem me encaixar num molde que não me cabe: eu sou isso aqui que você está vendo, salpicada de um tanto de orgulho, uma fé capenga, 1/3 de maldade em estado bruto, amor batendo surdo contra as paredes da alma, uma boa dose de prevenção, certa frieza e um racionalismo que me abandona na hora em que mais preciso.
Queria que as pessoas soubesse que na hora em que mais preciso, como hoje, por exemplo, estou sozinha. Não sobra ninguém. Não sobra racionalismo. Não sobra nem a fé. Sobro somente eu.
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Vou voltar a dormir.
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