sábado, novembro 16, 2002

Bibia tem três anos e meio. 20 minutos no telefone com ela. Como adoro aquele linguajar próprio das crianças de 3 anos... Imaginem este ser humano que vos fala imitando uma girafa, uma vaca, um leão... POR TELEFONE!

E o pior: a Bibia sempre prefere falar com os meus personagens do que comigo. Quando eu canso de mugir, retomo a voz normal e ela pede pra falar com a vaca de novo. Ou com a girafa. "O leão foi embora, Bibia!"

E eu lá, toda boba, reduzida a três anos e meio de idade.

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Beatriz é a filha da Verena, e é meio afilhada, meio filha, meio sobrinha. Opa: três metades? Ah, você entendeu...

É uma garotinha que está aprendendo a gostar do cor-de-rosa, que gosta mais da bruxa que da princesa nas historinhas, que vibra quando vê a Cuca. Eu a ensinei a gostar de Mighty Mighty Bosstones, e eu rezo pra ela não perder o fio do rock/punk/ska. A mãe, que não teve uma tia Dani que carregasse o case de CDs pra baixo e pra cima, acabou contaminada pelo axé/pagode. *sigh*

Tem cachinhos louros, que a mãe insiste em manter presos em marias-chiquinhas, em presilhinhas, em rabos de cavalos. Os olhos merecem uma investigação mais detalhada. Verdes? Castanhos? Acinzentados?

Na escola, ela deixa de lanchar para cuidar dos amiguinhos. E isso inclui até os amiguinhos da primeira série. Cuida, quer colocar no colo, quer dar comidinha... Pequena mulher, com a alma já tão encaminhada, tão definida, tão nobre.

Conta a mãe que, na festa de Yemanja, dançou ritmadamente ao som dos atabaques na beira da praia. Pequena Rainha das Águas, mãe, protetora, mítica, mística. Volta e meia fala umas verdades que não poderiam nunca vir da boca de uma criança.

Saí do trabalho irada certa noite. Fui direto pra casa da Verena. Cheguei lá, sentei no chão e Bibia se aninhou no meu colo. Com as mãozinhas minúsculas e gorduchas, começou a fazer carinho no meu cabelo, no meu rosto. Comecei a perder a rabugice.

O golpe de misericórdia foi quando ela tirou a chupeta da boca perguntou se eu estava triste. "Só um pouquinho, meu amor"

Ela não teve dúvidas: enfiou a chupeta na minha boca sem cerimônia alguma! A primeira imagem que você fez foi de uma situação patética, né? Uma marmanja com uma chupeta cor-de-rosa na boca...

Ledo engano, caro leitor. Foi uma das situações mais lindas da minha vida. Quando ela estava triste, chupeta na Bibia. Ela achou que se funcionava com ela, ia funcionar comigo. Abriu mão de um dos bens mais queridos da pequena fortuna infantil pq achou que eu precisava mais. Para eu ficar feliz.

Ela é o meu "passe": dois beijinhos e um abraço forte da guria já fazem ver a vida com uma cor diferente...

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Bibia, a menina-índia

— Dani, vou passear hoje!
— E vai aonde, Bibia?
— Vou com a mamãe no parque (Aeroclube)!
— E o que você vai fazer lá?
— Tomar sorvete, comer batata-doce...


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