sexta-feira, junho 07, 2002



Um caso de repostagem.
04 de junho, modelo 07 de junho. Estado de novo, pequenos retoques.

Não sei falar, e quando falo sou agressiva. O mais perto q chego de mim mesma é quando escrevo. E eu nem estou bem certa do quão próxima fico do que eu penso e sinto. De toda sorte, achei q vcs precisavam ler isso.
Ninguém tem culpa das minhas neuroses. Vcs me fizeram feliz a vida inteira. Quem cavou a tristeza fui eu.

Eu amo vocês.

Um beijo,

Dani





Terça-feira, Junho 04, 2002

Eu queria q essa dor fosse embora pra sempre. Que eu nunca mais fosse surpreendida por lágrimas de madrugada, quando estou preparando para fechar o expediente. Queria q essa sensação de morte iminente, não sei se minha, não sei se de alguém muito amado, se diluísse com a primeira cor-de-rosa que o céu pintasse nessa próxima manhã, e que nunca mais voltasse pra me aborrecer. Queria não precisar matar o amor pra poder sobreviver.

Queria que o inevitável fosse evitável, que como no episódio 1 do Super Homem, a Terra pudesse rodar ao contrário e fazer o tempo voltar pra trás. Voltar pros domingos na praça da República, pras caixinhas de chicletes escondidas nos bolsos do terno, praquele dia no Taquaral, cujo único registro anda perdido pelos cantos da casa. Queria que o tempo parasse numa lição de como andar numa bicicleta sem cair, ou no momento exato em que o cupuaçu encostou na minha língua pela primeira vez. Queria que os dias fossem a repetição de um só. Podia ser aquele em que a tarde passou enquanto eu esperava que um cavalinho de cabo de vassoura e meia ficasse pronto, ou aquele onde um olhar curioso me acompanhava das janelas do 8º andar, quando ainda ensaiava como andar nos patins, 4 números maior que o meu pé, na quadra do prédio.

Queria poder rever quantas vezes me desse vontade uma instintiva mordida na mão do guri q mordeu o meu joelho, ou vestir vezes sem conta uma fantasia bordada à mão. Queria poder lançar o mesmo olhar míope — bailarinas não usam óculos — pra platéia, durante todo o número de dança, tentando descobrir onde eles estavam sentados. Queria passear no patinho do parque de diversões de novo. Queria os dias com sabor de balinha da caixinha, cheiro de pinheirinho plantado junto no "jardim" do prédio, cor-de-rosa da cor de um Chevette (ou um Corcel?), ou marrom-cocô como o Tartaruga Touché. E com barulho de risadas em côro.

Queria conversas, dálmatas, "Você já fez a lição?", tapetes da sala constrangedoramente cheirando a xixi de cachorro, sanduíches de pasta de ovo na Rio-Santos, depois de uma semana na colônia de férias. Queria de volta uma tonelada de roupas amarelo-gema, passeios sem rumo por cidadezinhas próximas, árvores de Natal de novembro a janeiro, almoçar de novo num restaurante italiano sombrio depois de engessar o braço, luxado numa tentativa de brincar de fazer "estrelinha". Queria ouvir de novo o assovio tão particular, que teve um dia o poder de nos agrupar. E ficar assoviando enquanto durasse o fôlego, pra que estívessemos sempre juntos. E que o fôlego nunca acabasse. E ficar assoviando, assoviando, assoviando, sem nunca precisar parar pra respirar.


E se nada disso fosse possível, eu queria pelo menos poder aprender a dizer "Eu amo você".

De Salvador, Daniela Henning at 3:26:21 AM


Nenhum comentário: