Por que raios esses tipinhos descolados enchem meu campo visual, se a massa cinzenta deles não me apetece?
Na fila do cinema, uma biodiversidade: pavões de todos os credos e cores, exibicionistas de uma estética que só funciona conosco, os outros descoladinhos. Cabelos de todos os formatos, cortes e penteados. Piercings nas pessoas mais insuspeitas. Não, não é inveja. Pessoas se maltratando na fila, desfile de estilos, narizes empinados, cargos e títulos.
Meu Deus, em qual planeta eu vivi até hoje para achar isso tudo estranho? "Olha, aquele bonitinho do Festival ali! Xi, mas ele é pouco mais que um anão, né? E aquele menino agora é produtor, é? Gente, ele não sabia fazer um release para asilo de velhinhos na época da faculdade. Hein? Fulano, repórter? Ele já lava o cabelo???"
E como fofoca esse povinho do show biz... Tá, faço parte dessa fauna, mas tudo na vida tem um limite, como bem diz o ser humano que me roubou a malha de lã nos 146 minutos de Carandiru.
Excelente filme. Em se tratando de Walter Carvalho na direção de fotografia, podia ser um documentário sobre as lagartinhas gripadas nas ilhas Maurício que eu ia achar fantástico. Mas sejamos bem imparciais: nunca vi interpretaçoões tão dignas quanto a do Wagner Moura e a do Rodrigo Santoro. O primeiro reproduz com apuro as variações de humor de um viciado em drogas sangue bom. Desde a vida na cela, passando pelo carinho com o quase-irmão, até chegar na paranóia e seus tiques, que tão bem caracterizam o junkie.
O Santoro transformou um travesti ralé num ser humano, de cujos dissabores é impossível rir. Bom, ou sou fisicamente programada para algum juízo estético, ou sou retardada e só vou conseguir rir de tudo o que o povo ria na próxima vez que vir o filme. Delay de piadas, pode ser isso...
O saldo final é positivo. Desentoquei, encontrei a quase jornalista Gata Roxa, que estava linda mesmo; o apresentador do programa de cinema da TV SSA, meu amigo desde o primeiro dia de aula da faculdade; a diretora dele, com quem dividi o pão que o diabo amassou com os cascos na época do primeiro estágio na TV; cinegrafistas de duas ou três TVs, com quem já trabalhei ou já dividi o set de filmagem. Uma radialista com quem tomei um porre hercúleo nos idos de 98; produtores diversos, repórteres... Ah, gosto mesmo dessa tribo que tanto renego, mas à qual pertenço...
Rendeu uma boa crítica do filme para um novo projeto literário, e acho que publico amanhã. Em publicando, divulgo o endereço. Não é porque sou eu que estou escrevendo, não, mas está um show...
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E calha que desde cedo estou dando à luz o texto sobre Carandiru. Roupinha bonitinha, pq detesto trabalhar esfarrapada, e cascos no teclado. Pesquisa, pesquisa, pesquisa, onde raios acho a ficha técnica do filme, onde acho fotos de divulgação do filme, qual das quatro empresas produtoras está encarregada da imprensa, será que a Marcelinha me passa o release que recebeu? Ufa! Vou mesmo mudar o curso para Webdesign, ou Análise de Sistemas. Amo essa correria, mas nem sempre os seres humanos são digeriveis...
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Amigo sem-noção
Ligo pro meu editor no meio da tarde.
— Sua redatora é prolixa! Parei na segunda lauda e ainda falta coisa!
— Eu confio em você, você é que não confia em você mesma...
— Mas ainda falta tanto! Tem um tempinho pra discutir comigo a coluna?
— Estou saindo em cinco minutos para a Praia do Forte, mas te ligo de lá a noite, OK?
— ... (Silêncio para não dar um piti de inveja...)
— Beijo!
Há meia hora:
— Oi, meu amor, como anda a coluna/
— Parada na terceira lauda e ainda faltam uns arremates...
(Rápida discussão sobre a coluna e seus aspectos)
— Vai ficar ótimo! Te dou mais meia página e não se fala mais nisso...
— Meia página? O que eu vou fazer com meia página só?
— Ah, você consegue. Volto amanhã de manhã daqui e a tarde a gente se reúne. Você já viu a lua?
— Não, vi ontem só, subindo, amarelona, enoooorme, saindo do mar...
— Pois é... Ela está mais linda hoje, e está um friozinho... Friozinho úmido, sabe?
— Filho da puta, e eu aqui, na clausura, ouvindo Avril Lavigne, cozinhando em vida e SEM LUA!
— Ninguém merece Avril Lavigne, Daniela! Um beijo, até amanhã!
Ah, seu rato, eu mereço mesmo é ficar trancada em casa enquanto a lua sobe sem rédeas na praia do Forte, com um friozinho úmido?
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Mas a Avril Lavigne eu só tolero com Complicated, viu?
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No CD Player
At first: Adágio for Strings, do Samuel Barber. Depressiiiiiiiiiiiva...
Right now: By Myself, com Yin Yang Twins
Comming soon:Soviet National, com Leningrad Cowboys and Russian Red Army Choir. Juro, juro que não faço de propósito.
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E "Segredos", e seu refrão grudento, continua ecoando pela minha oca caixa craniana.
"Procuro um amor
Que seja bom pra mim
Vou procurar
Eu vou até o fim..."
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