Beirando os trinta, eu encontrei um pedaço de Daniela que antes eu não deixava falar. A Dani que chora.
Entenda: desde que eu comecei a ter consciência do mundo como ele é, criei uma fortaleza ao meu redor, que — bem ou mal — impedia que as flechas lançadas pelos bárbaros chegassem até mim. Minhas asas eram como duas couraças de aço.
E eu não chorava. Doer até doía, mas chorar com fim de namoro, com fim de livro, com criança que diz que me ama? Nunca!
E quando menos espero, estou eu enrodilhada em torno de mim mesma, rosto inchado de lágrimas caídas, sentindo dores que me eram desconhecidas. Do chão onde me encontro, olho para todos os lados, ensaio um pedido de ajuda, mas a voz não sai, e os olhos não foram treinados para se deixarem ler. Ninguém olha pra baixo, ninguém vê o tanto de dor que sai pelos machucados, ninguém abaixa para colocar a minha cabeça no colo e secar as minhas lágrimas.
Fico eu encolhida, como cão atropelado, esperando que um passante se apiede e dê logo o tiro de misericórdia. O derradeiro chute. Estou sempre, sempre esperando o derradeiro chute.
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Cancelar ou não a marcação?
Agora estou na crise mais uma vez. Óbvio que a desculpa de assistir as águas de março não vai colar, mas... eu realmente quero ir ao Rio agora? Por que não o esperado final de semana em AJU, com a minha Valentina? Por que não um exílio em Arembepe, com a barraca montada no camping mais estranho do mundo?
Ir ao Rio agora — e quando eu digo agora, é nesta semana ainda — significa fugir, e fugir por quê?
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Porque eu não estou sabendo lidar com todas as minhas variações. Porque eu não sou mais a mulher prática que sempre habitou este corpo. Porque estou subjetiva, sensível, sendo levada por um trenzinho de montanha russa até o topo.
Eu não quero que pare. Eu quero chegar lá em cima, abrir bem os olhos e me deixar descer, descer, descer, para depois subir de novo. Eu lutei para não entrar no carrinho. Agora não quero sair.
E estou com medo. Estou com muito medo de mim mesma.
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