Mensagem de texto da minha mãe torta!!!
Minha filha desnaturada, estou morrendo de saudade!
Beijo, Denise
Ah, mãe torta, mãe ruiva, mãe louca, como o Rio é longe! Como você faz falta, como tenho saudade do meu quarto na sua casa, do ventinho fresco de manhã, dos jogos de carta nonsense... Isso não se faz, estou boba pra chorar...
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Ele tem medo de jogar boliche comigo, lá-lá-lá-lá-lá!
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Minha família (como nos tempos do primário)
A minha família é pequena. Além de nós cinco — papai, mamãe, Algas, Miriam Lane e eu —, ainda tem a Nana e a Mabel. Elas são as cachorras. Só. Fui criada longe de tios, de primos, avó só conheci uma. Passamos a minha infância e a da Algas inteira pulando de bairro para bairro, de cidade para cidade. Tá pensando que foi ruim? Foi nada! Foi diferente!
A gente tinha que começar tudo de novo em cada lugar que a gente ia morar. Colégio, vizinhos, normas, convivência, tudo de novo. Não tenho amigos de infância. O único amigo que eu consideraria de infância não lembra de mim. Mas eu lembro dele, e morro de saudade. Acho que ele deve ter ficado um homem lindo.
Crescer sem a intromissão da família não-nuclear acaba criando uma aura de proteção em torno daqueles que estão mais perto. A gente pode até se matar aqui, mas somos cinco contra o mundo. Sete, porque a Nana e a Mabel mordem também. E a proteção inclui rosnar para os parentes que volta e meia baixam nesse terreiro.
Eu não me sinto na obrigação de gostar de ninguém pelo fato de termos laços de sangue.
O irmão da minha mãe esclerosou mas ninguém sabe ainda. Ele cozinha uma vez por semana. Cozinha batata para sete dias, carne para sete dias e só come isso. Eu nem me atrevi a olhar na panela. Fora umas manias estranhas de imitar o Forrest Gump, só que em cima da bicicleta. "Run, Forrest, run"!
A irmã da mamãe nunca saiu de Neverland. Tem 61 anos, mas ela acha que 61 é a cintura dela. A idade? 18, claro! Atende o telefone gemendo, com a melhor voz de "venha a mim, meu doce estranho", não consegue dar bom dia sem arrematar com uma observação ferina: "Ai, só de olhar você dormindo com o travesseiro em cima dos olhos me dá agonia". Não olha, cacete! Aliás, tava fazendo o quê no meu quarto? Eu durmo com o travesseiro nos olhos, deixo o nariz de fora, faço colar cervical com o edredon... E daí? Ela tem o nariz vermelho que nem o do Rudolph — A Rena — e eu não abro a boca...
A irmã da minha avó é louquinha, trata os meus tios como se eles ainda fossem da casa dela para a Confeitaria Colombro tomar frapê. No último aniversário do meu tio, seu desafeto, ela deu 10 reais. Só faltou bater na cabeça dele e dizer : "Bom menino".
O irmão mais novo da minha avó sempre foi divertido, mas como não o vejo há anos... Ele tinha um cachorro chamado... Cachorro! A mulher dele tentava nos educar finamente à mesa, enquanto ele terminava de comer, batia na barriga e dizia "Tô com o satisfeito cheio"... Não sei como isso não deu em divórcio.
A neta deles foi minha amiguinha na infância. Era linda, voluntariosa e divertida. Agora está casada, tem dois filhos, é advogada e parece a Mortícia Adams.
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