Um aceno de longe, muito longe. Adeus.
Dia untado, pitalgado de um sono intermitente, sonhos ruins, uma ponta de saudade inesperada. Uma comparação mais injusta ainda: família sempre nos tira o melhor e o pior. Uma dorzinha insuspeita martela. O jejum foi quase ritual, respeitoso.
Eu, que ia vadiar o dia inteiro, oscilei entre uma ligeira tristeza e o refúgio do sono, entre o livro já lido e o lento e persistente caminhar pela casa. Noite, chega logo, por favor! Eu não vou aguentar ser assombrada por fantasmas de dia. É antinatural. Chega, noite, e traga as estrelas que vão me puxar pela mão em direção à rua.
Rua, ri, volta, espera, lê, repete de noite a peregrinação do dia. Sai? Não, fica. Boa noite, beijo, beijo, beijo, cigarro, pijaminha lindo para ter bons sonhos, posso assistir ao meu filme? Não, vou dormir, veja amanhã. Cama de novo, cadê o sono?
— Está no Tangolomango enchendo a cara com o barman.
Azar o dele. Comprimido de sonífero para dentro, ele agora vem na marra. Dois anos sem tomar um remédio para dormir, e tudo o que eu queria era que o dia finalmente acabasse. As letras do livro começaram a embaralhar, o sono voltou da balada. Meio puto, mas fez seu papel. Dá tempo de fazer uma prece? Também por quem foi, mas principalmente por quem ficou. Se der tempo, por mim também.
"Deus, faz forte a minha prima, o meu tio, eles precisam muito, agora...".
Dormi aí. Mais uma vez não deu tempo de rezar por mim mesma.
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Sono narcotizado é bom, mas eu deveria ter tomado dois daqueles comprimidinhos. Dura pouco.
O sol e eu chegamos juntos.
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