Tem dias em que eu queria ser sonho, e não feijão. Queria não ser prática, não ter os pés aterrados, não ser a que sempre tem a solução para tudo. Queria que as pessoas pensassem um pouquinho por mim, ao invés de sempre me jogarem a responsabilidade da decisão nas costas.
Queria poder contar para todo mundo as minhas idéias mirabolantes, sem o menor risco de ser censurada. Queria eu abrir os braços e flanar, despir essa fantasia pesada de produtora e ser a menina novamente. Queria que pelo menos por um dia desse um curto circuito no meu HD cinzento, e que eu não tivesse as saídas, os planos B e C, as idéias salvadoras de última hora.
Queria ter a liberdade de criar novelinhas leves, ao invés de densas crônicas de amor e adeus. Queria que o mocinho icasse com a mocinha no final das minhas histórias, queria não ter odiado o palhaço, e queria que ele não morresse. Queria que os olhos do elefante não fossem tão tristes, que o camelo não sentisse saudade de casa, que a lhama não ficasse com aquele olhar perdido, como quem busca o início do Atacama. Queria que a girafa tivesse o pescoço ainda mais comprido para poder esticar e ver um pedacinho da sua casa, lá do outro lado do mar.
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