segunda-feira, outubro 13, 2003

Eu sempre disse que não me lembro do melhor beijo. Mentira. O melhor beijo, o que mais combinava, o que mais me balançava, era o dele. Os melhores beijos, e ainda hoje, quando me lembro como era andar de mãos dadas com ele, penso que não existiu melhor.

Anos se passaram, foi o romance mais estapafúrdio do mundo. Foi o menos esperado, o menos provável, o primeiro em que consegui sincronizar os beijos com o amor.

Mas foi o homem que me fez chorar com o rosto entre as grades do pier, foi o homem que que me fazia ficar feliz só porque me ligava. O cara que era estranhamente fiel, que tinha ciúmes, que "terminou" comigo por causa de um telefone anotado no meu pulso. E que no final não era nada: era um contato profissional encontrado na noitada.

— Daniela, seja honesta!

Certo, ele "terminou" comigo por causa de um selinho inocente (sic) que um amigo me deu na frente dele. Esse amigo hoje é um respeitável chefe de família e nem ligou por ter destruído a minha vida amorosa.

Foi estranho ter-me apaixonado por ele. Nosso patamar de relacionamento mudou completamente, saímos da doce camaradagem de boteco para a intensidade dos que cometem erros e se arrependem. Os culpados sempre são mais incisivos, e ambos carregávamos a culpa por não ter dado certo. Tirá-lo da minha vida foi um exercício de fé, foi um auto-flagelo consciente. Quem nunca enfiou na cabeça que precisa esquecer alguém , e sofreu, sofreu, sofreu até achar que não aguentaria mais... e aguentou?

Eu aguentei. Eu sobrevivi. Não doeu nem mais nem menos que amores passados. Doeu muito, esqueci e se não valeu de mais nada ter sofrido tanto, serviu pelo menos para transformar aquela camaradagem superficial em amizade consistente. Canto com ele da mesma maneira confiante com a qual ele conta comigo. É um homem em quem acreditar.

Mas eu confesso que ainda tenho uma certa expectativa a cada vez que abro minha caixa de email e vejo um email pessoal dele pra mim, ou quando ligo pra ele e ouço:

— Colé, Dani, posso falar sim!

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