sexta-feira, dezembro 07, 2007

22:30 GMT - Hora Zero

Quando Pampino entrou no circulo formado pelo canhão de luz e cumprimentou o público, eu estava na house mix (onde fica a mesa de som para o público), bem de frente para tudo.

Eu olhei para o alto, vi o parque de luz montado. Baixei os olhos para o palco, vi os banners que me deram tanto trabalho para retirar da DHL (aparte: os banners rodaram a Europa inteira em 8 dias, quando tinha um vôo direto da cidade de onde vieram para Salvador), vi Bebeto fazendo uma das câmeras soltas, vi David com a unidade de contraplano. Fiquei olhando as luzes, as cadeiras, o apresentador conversando com a platéia, o técnico de som dialogando com alguém, a segurança espalhada.

Vi tudo o que havia sido montado para aquelas duas horas que se seguiriam. Cada detalhe entrou pelos meus poros, e essa percepção do dever cumprido me inundou de uma sensação de enorme contentamento. Dei uns passos bêbados para lugar nenhum, parei, e continuei a minha experiência de fruição. Ali, parada, ganhei um abraço longo de uma das melhores pessoas que poderiam ter me acontecido nesse evento.

Foi aí que eu finalmente cheguei à conclusão para qual todos os meus sentidos estavam me empurrando: EU CONSEGUI! Eu fiz um evento internacional em dez dias, com estrutura de ao vivo, seis câmeras, todos os horários de satélite respeitados, todas as exigências cumpridas, tudo, tudo feito SÓ POR MIM!

Fiquei abraçada mais um tempão com o aquele cara tão foda, minha unidade terrestre de cuidados celestias. Ele me fez um puta elogio, agradeci de olhos marejados, e sai para respirar um pouco do vento de sal que me beijava o rosto logo adiante.

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Os shows foram lindos. Assisti a quase tudo sentada numa mesa baixa colada na house, ora conversando com o belo técnico de som, ora dividindo meu exíguo espaço com aqueles de quem eu gostava.

Lá pelas tantas sai para passar a ronda, ver quem estava por onde, ver o material das câmeras já cortado sendo gerado por satélite, papear. Quando estava no carro de uplink, vem esbaforido o maquiador da equipe, amigo de outros carnavais, elogiadíssimo pela equipe gringa.

— Eu fui ver o set de Uxia e Chico César juntos, e queria ouvir essa próxima música com você!

Fomos quase correndo para o posto fixo, eu sentei e ele ficou abaixado atrás de mim.

É só pensar em você
Que muda o dia
Minha alegria dá pra ver
Não dá pra esconder
Nem quero pensar se é certo querer
O que vou lhe dizer
Um beijo seu
E eu vou só pensar em você
Se a chuva cai e o sol não sai
Penso em você
vontade de viver mais
Em paz com o mundo e comigo
Se a chuva cai e o sol não sai
Penso em você
Vontade de viver mais
Em paz com o mundo e consigo


Eu não conhecia a música. Fiquei extasiada, olhando com cara de parva para ele, para o palco, para o belo espécime masculino da equipe, e todos sorriam quando viam meu ar de felicidade com a letra da canção.

Terminou, e eu ainda fiquei um longo minuto meio fora do ar, com aquela aura de besta que só os muito felizes carregam.

O.o

E é disso que estou falando

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Foi difícil, e por ter sido uma missão grau 3 de dificuldade, foi dos trabalhos que mais me deixou feliz. Fui combativa na hora certa, e para resolver as coisas que se avolumavam, ganhei uma ferocidade muito selvagem, muito primitiva. Aquela sim era Daniela em estado bruto, integrada ao próprio elemento, no habitat natural, correndo entre os pares, os lobos.

Pela primeira vez na minha carreira, deixei de dormir e comer por causa da tensão quase explosiva que eu carregava. Fui gentilmente acusada de competir demais com os homens, mas veio de uma pessoa a quem quero tão bem, e que me cuida tanto, que nem tomei como ofensa.

Tive surpresas ruins com pessoas, com atitudes e egos, mas nada disso empana a minha alegria. Nada. Eu consegui.

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Post começado sexta, 7:30. Terminado no sábado, 21:00.

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