sábado, setembro 21, 2002

E o amor nasceu assim: o corpo vagando num shopping center, os pensamentos soltos em qualquer outro lugar. Pensamentos presos num amor antigo, escondido nas dobras do tempo; cabeça pendurada na sala de outras ilusões, olhos semicerrados que vivem de enxergar outras histórias, como um lustre num quarto de dormir.
O amor veio como um tiro: entrou quente, rasgando a pele, doendo, inevitável. Fez do corpo e da alma suas vítimas, do pensamento, seu refém.
Não só o corpo, a alma e o pensamento eram doloridos. Também o era o amor, um quarto elemento que passou a compor aquela vida. E ela brigou consigo mesma: aquele novo amor não era bem vindo.
E amor proibido dói mais. Incomoda esse amor que não pode seguir adiante. Os olhares que se encontraram continuaram seguindo um ao outro. Hora ela, hora ele, mas sempre perseguindo uma ilusão. A ilusão de que dessa vez seria pra sempre.
Nunca seria. O pra sempre tinha data marcada pra acabar.
Ela, já tão flagelada por amores antigos, por outros amores-armadilhas, decidiu que não. Aquele amor não ia vingar. Ele nunca cogitou amar pra sempre. Ele só se propôs a amar.
E o amor começou assim: ela jurando que não ia amar, ele jurando que ia amar, mas que não por muito tempo. E o que se seguiu foi uma febre: bocas que se degustavam, mãos que viciaram no traçado do corpo do outro. Textos foram ditos com pressa; o amor, celebrado numa ânsia juscelínica: 50 anos em cinco anos-meses-semanas. O tempo era curto, e o tempo caminhava com a fria precisão de um relógio de sol.
Hoje é sábado. E ele ainda amarão por mais um domingo, por outra sexta-feira, uma quarta-feira, talvez. Se passar disso, a gente volta a conversar.
Acho, porém, que a nossa prosa termina aqui.

*Diálogo confuso de mim comigo mesma, narrado por mim. Me, myself and Daniela.


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