Chovendo cães e gatos, quase nove da noite, e lá vou eu, vestida com as roupa e as armas de Jorge, buscar meu copião no Shopping Barra. Maldição, eu sempre mandei fazer minhas provas de filme em apenas dois lugares, e sem que eu me dê conta, estou fazendo romarias ao laboratório do shopping. Damnit!
E vagando pelos corredores, na suave antecipação do resultado do filme batido, encontro e abraço. Ele, que me deixou pendurada nas extremidades do seu piercing. Ele, que abraça com os braços da alma. Ele, que me instiga a contar todas as mexicanadas em que me meti nos últimos onze meses. Sherazade de fashion mall, eu não queria que ele se fosse. Lindo que nem um pecado, barba por fazer, mochila atravessada no peito, por que é que tem esse delay enorme entre nós?
Sim, vamos sair no final de semana, sim, vamos nos encontrar. Ele se vai. Eu me vou. Fotos na mão, eu nunca vejo no laboratório. Ver o resultado do meu trabalho sempre pede um ritual. Praça de alimentação, muita luz para a minha miopia absurda, mesa limpinha. Um cigarro, e enfim. 100% de aproveitamento, uns 98% ampliáveis.
Isso merece uma comemoração — porque eu preciso aprender a comemorar tudo. Chopp do Kaddosh, e daí que é segunda-feira? Eu já saí de casa, já enfrentei água nos pés, molhei os sapatos, os cabelos; quem vai pagar meu chopp sou eu, por que não?
Telefone toca, "Você está no boliche?", "Não, estou tomando um chopp". Beijo, tchau.
Shopping fechando, e eu nem percebi o tempo passar. Conta paga, passos lentos em direção à saída. E calmamente sou engolida pelo negrume da noite aquosa.
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I'm fucking tired!
Burrice tem um limite claramente marcado. Não movo mais uma palha para essa porra funcionar. Pô, três identidades secretas não serviram para nada???
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