Tinha vento, tinha chuva, tinha chopp, tinha ele, tinha eu. Tinham as discussões que só a gente consegue ter, tinham os famigerados quizes de desenho animado. "Migra então", e a gente mudava para quadrinhos.
E teve uma interferência daquele cujo prefixo é 51. Grande, grande, grande Bruno Barretto, que saudade que vem do mais profundo andar do inferno! Meu amigo não congelou ainda; o ciclone passou ao largo dele, e planos para voltar? Nenhum. Merda de país enorme, que uma mudança de estado torna proibitivos os encontros entre os que morrem de saudade!
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Me deixa ver como a prata da lua escorrega pelas suas costas? Me deixa sentir o cheiro do céu em negativo que são os seus ombros, branco-universo salpicado de sardas-estrelas? Deixa eu encostar a cabeça no seu peito e fechar os olhos, só um pouquinho? Só pra eu poder matar de fome essa sensação de não-pertencer.
Deixa eu cuidar das suas gripes, das suas roupas, dos seus livros? Deixa eu ficar vendo como você dorme, como você faz a barba, como você dá o nó da gravata? Deixa eu ficar sentada no sofá da sala, vendo como o sol entra pela janela, encontra o espelho perto da porta, e se enrosca nos seus cachos? Posso cozinhar pra você? Nem precisa me dizer o seu prato preferido: eu abro o livro da sua alma e descubro.
Posso entrar no seu quarto? Destampar o frasco daquele perfume que eu nunca lembro o nome, mas que poderia vir com o seu (nome) no rótulo. O que você guarda embaixo da cama? Me mostra as fotos que estão no fundo do seu armário? Deixa eu ver o teu armário, escolher uma das suas camisas e ficar abraçada nela? Só pra saudade ir embora, e eu brincar de faz-de-conta.
Faz-de-conta que você vai voltar.
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Eu trouxe minha máquina fotográfica. Tira uma foto comigo, só pra eu lembrar que a gente foi feliz um dia?
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