— OK, Miriam Lane, e eu vou com qual?
— Saltos altos!
— Pra um show de rock? Você me odeia por quê? Vou de tênis!
Até iria... se tivesse achado o outro pé. Fui de salto alto. Pra um show de rock.
***
A Shaggadelic Pictures orgulhosamente apresenta
A NOITE DOS PESADELOS
Estrelando
Daniela Henning
Monka Faria
Rodrego Lona
Foca Jones
O tiozinho com ares de sedutor
e grande elenco.
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Sim, eu fui de saltos altos.
Clube dos Engenheiros, e eu tenho certeza de que os associados são somente os engenheiros agrônomos. Nenhum engenheiro civil deixaria aquela monstruosidade sair do papel. Uma caixa de concreto, com a acústica PÉSSIMA, sem ventilação. Certo, aquilo não foi feito para ser um espaço para show de rock, mas nem um noite inteira lá dentro me fez descobrir PARA QUE aquele porão foi construído. Sabe-se só que a parte de trás do prédio é coberta por um luxuriante matagal.
Show da Enquanto Isso..., e se o mérito de ter me arrancado de casa é da Monka e do Luna, saibam que eu só fiquei até o fim por causa deles. Uma sensação esquisita, um calor, nariz entupido. No primeiro whisky, estranhamente comecei a sentir frio. Muito frio. E parecia que alguém tinha enfiado os dedos no meu nariz. Gripe. Ai, Deus, de novo, não!
***
— Mon, aquele caminhando na direção da gente não é...?
Era. Um dos mais lindos diretores de fotografia que a Bahia tem, com quem tive a sorte de trabalhar em dezembro. Armamos o melhor sorriso, fizemos aquela cara de "absorvidas numa conversa interessantíssima", e ficamos esperando o bonitinho de sobrenome russo — que poderia ser Vladivostovsky — passar por nós. Passou... RETO!
— Dani, ele ignorou a gente!
Dei duas boas olhadas no dito cujo.
— Mon, ele agora poderia olhar pro espelho que não ia saber quem era aquele cara chapado.
— Se a gente chamar por Vladivostovsky, ele ainda responde "Saúde"!
Ignore list pra ele.
***
A segunda banda acabou de subir para começar a montar o palco. Luna passa por mim e diz:
— Se esse cara gritar "Viva, Zapata!", eu vou embora!
— Luna, ele gritaria isso por quê?
— Ah, sei lá...
Uma hora depois... Sim, o vocalista da banda gritou "Viva, Zapata".
— Eu avisei. Eu sabia que ele ia fazer isso.
— Mas ele não tem nada que simbolize qualquer opção, nenhum signo na camiseta, nada!
Luna, enigmático:
— Eu simplesmente sabia.
Nessa hora eu comecei a fazer a medição da temperatura. Febre, sim, mas... alucinações?
***
Sentada no meu canto, olhava as estrelas e tentava calcular, pela posição da lua, quanto tempo ainda faltava para ir para casa, tomar um banho fervente e cair embaixo do meu jardim edredonado. Eis que surge...
O TIO CRUSH!
Na época dele ainda não havia Sukita. Nada contra o direito — em muitos casos, até o dever — que os grisalhos têm de me cantar. O que não dá é, independente da faixa etária, o cara não se tocar que ali não está um alvo em potencial.
Monka volta no meio da fascinante conversa com o porre, e enquanto ele levanta para buscar uma cerveja, ela comenta:
— Ele tem um cheiro tão... estranho, Dani.
Ficou por isso mesmo. Nas vezes em que o meu nariz desentupia, eu realmente sentia um cheiro enjoativo. Na segunda romaria que o cidadão fez ao bar, Mon fez uma cara de quem descobriu a pólvara e moldou a roda:
— Off!
— Hein?
— Ele cheira a Off!
Pronto, ela enlouqueceu de vez! Off é uma boate gay!
— Repelente de mosquito! Off, Dani!
Bingo! Eu passei um mês e muito substituindo a lavanda noturna pré-soninho por Off, e não reconheci o cheiro! O indivíduo voltou... E CHEIRAVA A REPELENTE MESMO! Engoli a risada, e continuei tentando dar atenção ao mala.
Conversa vai, "sou produtor", "ah, que coincidência". Conversa vem: "Daniela, você tem cartão?"
Oh, idiota febril, você um dia aprende a fazer a distinção entre uma cantada de quinta e um contato profissional razoável.
Próximo passo do cristão:
— Vamos jantar esta semana?
NÃAAAAAAAAAAAAAO! Seu bolha, eu ordeno que você volte à sua forma anterior de repolho!
— Olha, meu trabalho é muito instável... Não posso marcar uma data...
— Então não ligo.
Ah, boca maldita!
— Quem perde é você!
O cara disse que vai ligar. Stupida!
***
Como é que acabou a noite? Andando a 3 km/h dentro do carro para acompanhar uma turma de celebridades que trabalha numa famosa locadora de filmes em Salvador. O segurança do Clube de Engenharia parou o nosso carro, pedindo pra gente acompanhar a turma a pé, já que os malandros da Carlos Gomes estava saqueando os grupos de pedestres.
***
Era muito para uma noite só.
— Luna, me deixa em casa primeiro, por Jaga!
E lá fui eu, mergulhando nas profundezas do Dia das Mães.
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O show foi maravilhoso. Esses caras melhoram a cada vez que os vejo. Muito bom cantar junto as músicas que eles fizeram. Música própria de banda de amigos é sempre uma delícia, misto de orgulho e...
Não, misto de nada: é só orgulho, mesmo.