quinta-feira, maio 20, 2004

Roubado daqui

"A gente sempre destrói aquilo que mais ama em campo aberto, ou numa emboscada; alguns com a leveza do carinho, outros com a dureza da palavra; os covardes destroem com um beijo, os valentes, destroem com a espada."

Oscar Wilde - Balada do cárcere

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Sabe quando você tem a certeza de que vai cometer o mesmo erro de novo? Eu acho que vou, e o pior: estou A-DO-RAN-DO!

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"What's new?
How's the weather?
Is it stormy where you are?
Cause I'm so close but it feels like you're so far
"

Kiss the rain, sem a pequena adaptação - Billie Myers

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Eu estou com saudades. Saudades de me sentir feliz, saudade da expectativa dos longos telefonemas madrugada adentro, saudade de ser obrigada a admitir em voz alta que sim, estou envolvida, sim. Saudade de uma noite qualquer no meio de um janeiro que ficou pra trás. "Porque a gente não pode negar que está acontecendo alguma coisa. A gente não pode negar que está-se apaixonando", e como fui feliz naquele minuto. Há anos ninguém dizia que estava apaixonado por mim. Acho que nunca mais, também...

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Sim, vamos com todas as letras: estou deprimida, sim. Se você está cansado da minha tristeza, ou acha que é tudo um samba de uma nota só, ou acha que eu dramatizo demais, ou está querendo um texto engraçadinho, volte outro dia. Ou até melhor: não volte nunca mais.

Não saio de casa pra muita coisa, meus amigos estão decepcionados comigo porque não sou mais a companhia exuberante que sempre fui. Estou tendo reações físicas de estresse, incluíndo as fisgadas musculares. Morro de vontade de jogar boliche, por exemplo, e não tenho coragem de sair de casa. Estou o tempo todo pendurada em duas lágrimas, prestes a cair num penhasco. Vivo os dias no passado, ora remoto, ora nem tanto. Sinto falta de quem eu era quando estava feliz. Sinto saudade de mim com ele. Da pessoa boa que eu era. De quão magnânima eu me descobri com ele. Fico elucubrando sobre um futuro do pretérito, passado que já nasceu morto.

Estou errada por todos os motivos, mas pra mim tem sido difícil ater os pensamentos no presente. É mais fácil viver um passado que sorria pra mim. Tempos mais auspiciosos, de pele mais clara e fresca, de sonhos que saltavam à tona. Tempo de acreditar, de ter fé. E eu tinha.

O encontro repentino com a própria mortalidade me fez puxar um freio imaginário e estacionar por uns tempos. Não tenho certeza de ter realmente tomado consciência dos meus dias contados, como contados estão os dias de todo mundo. Eu sei é que não desejo uma semana dessas pra ninguém. Da mesma forma, não desejava nada disso pra mim. Nada. Eu merecia ser mais bem tratada, eu merecia ser amada, eu merecia respostas, eplicações; eu merecia continuar sendo querida. Eu não mereci nada do que aconteceu, eu não mereci ser posta de escanteio de maneira tão displicente. Eu não merecia perder a fé nas pessoas, mesmo que eu saiba que isso é temporário. Eu não merecia ver a felicidade de ninguém esfregada na minha cara. Eu nunca fiz por merecer tanta indiferença com o que eu sinto. Sempre a mais preocupadinha em não ferir os brios e os sentimentos de ninguém, sempre empenhada em ser o ouvido amigo, o ombro largo, a confidente, a cúmplice, a que tudo entende, e não mereci um tratamento nem próximo ao que dei. Sempre cuidando, fosse do corpo doente, fosse do espírito macambúzio, e não recebi um nada em contrapartida.

E vai ser sempre assim. Não porque eu seja idiota, otária, ou qualquer outro adjetivo que eu mesma já empreguei pra me designar. Mas porque eu sou assim. Sou doação, sou carinho, sou entrega, sou inteira. Se tiver que entrar só 90%, não vou. Ou 100, ou nada. Eu sou exatamente isso: tenho o meu tempo, tenho o meu espaço, tenho as minhas reações e as minhas crenças.

Mas eu realmente não merecia ter apanhado o tanto que apanhei.

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