Há 8 anos, tatuei o Piu Piu, lourinho, de olhos azuis, como uma maneira de ter uma companhia especial. Na época, o segundo ano sem o Jorge, eu ainda estava aprendendo a viver sem ele. O passarinho famoso tatuado no braço era uma maneira de trazer sempre comigo um outro passarinho, louro, com os olhos claros, e um meio-sorriso que nunca saia da cara. O mais doce vilão.
O mês de agosto tem sido glorioso pra mim, ao contrário de outros meses de agosto que já vi. Lembrei uma ou duas vezes que era o mês que completava 10 anos sem ele. Não me lembrei no dia, e isso até que foi bom. Lembrei no dia seguinte, que foi quando eu realmente descobri o mundo sem ele. E eu ainda estou exercício diário de aprender que ele não vai cruzar o meu caminho numa rua qualquer.
E na segunda passada, 19, refiz a tatuagem. O tempo esmaeceu as cores, suavizou as linhas. Engraçado é que um amigo do meu tatuador acompanhou todo o processo. Lourinho, magrinho, olhos claros, meio verdes, meio azuis, meio cinzentos. O mesmo sorriso. Lembrei vagamente que ele me lembrava o Jorge, e ficou por isso mesmo.
Acho que de certa forma eu estava me forçando a lembrar ao mesmo tempo em que me forçava a esquecer. A coincidência do garoto com o mesmo tipo físico foi uma casualidade. Mas a dorzinha chata que não passava não era criação minha. As linhas agora bem definidas, as cores fortes, a casca do machucado, estão de volta. Assim como a dor da perda. As cores da dor voltaram, os traços agressivos e definidos da tatuagem são as mesmas que contornam as lembranças, novamente nítidas.
Bem feito. Isso é pra vc aprender a não esquecer o passado. Aprender a conviver com ele, sim. Esquecer? Nunca mais.
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