sábado, fevereiro 01, 2003

Eu sabia que a dor deste meu amante uma hora vinha...

Salvador está embaixo d'água. Lágrimas de saudade desta que vai e não sabe quando e se volta. Água que tenta me segurar em casa, lágrimas que saltam dos olhos que olharam os meus e viram que era adeus. Água que tenta me ferir a pele, entranhar nos meus cabelos. "Se você vai, sai daqui marcada!"

Sua calma e placidez foram traídas pelas cores fortes. Salvador, meu amante, não faz silêncio da sua dor. Chora e esbraveja, e bate os pés e manda raios. Meio presente, meio castigo: ele sabe que as águas me recarregam, ao mesmo tempo que me freiam.

O pranto continua, passional, ruidoso, caudaloso. Agora ele manda os ventos cantarem sob a minha janela, serenata sem sereno, sem estrela, sem lua, sem sol. Serenata no cinza chumbo, canção de amor triste, canção triste de amor, soando como lamento sem resignação.

E ao contrário do poema que um dia me encantou, do lado de dentro da tempestade, um coração calmo, manso, quieto. Tranquilo. O meu. Minha alma está banhada do sol que o meu raivoso amante tão caprichosamente me nega.

Como amada sem alma, vou dormir. 6:33, e preciso ficar bela logo mais para ser recebida pelo meu amor primeiro. Bato o portão sem fazer alarde, levo a carteira de identidade, uma saideira, muita saudade. E a leve impressão de que...

Nenhum comentário: