quarta-feira, fevereiro 26, 2003

Fugi de um livro pro outro por causa da descrição de um personagem. Fantasmagórica.

Caí em "Bag of Bones", do King máximo, o Stephen. Quem já leu aí? Alguém se lembra do nome de DOIS dos personagens principais?

Vou ler só revista em quadrinhos, agora, e Julia, Bianca e Sabrina.

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Highlander (ou "Cenas do Linha Direta")

Ele já foi cuspido, espancado, molhado, espremido, rechaçado, humilhado, posto de lado, melado, roubado duas vezes, devolvido incólume, ameaçado, derrubado. Saiu de todas os incidentes quase sem marcas; conservou somente aquelas que o tornariam mais charmoso.

É considerado velho, obsoleto. Ia ser aposentado há 50 dias. Forças ocultas impediram que isso acontecesse. Deus sabe o que faz. Meu celular. Ele suportou todas as ofensas calado. Quer dizer, só falava quando eu mandava (ou apertava o botão send).

Domingo, 23 de fevereiro de 2003.

A menina está na janela, fofocando com um amigo pelo celular. Noite estrelada, gosto de dia bom na boca. Ela não sabe, mas em dez minutos o telefone terá voado para o primeiro andar.

E assim se deu. Num desequilibrio, o celular dançou recortado contra as estrelas e mergulhou no desconhecido. A conversa gostosa afundou junto, levando as esperanças de que ainda desse para esperar mais uns dois meses para trocar o celular. Morto.

Segunda-feira, 24 de fevereiro de 2003.

Dia cinza, como convém. Posso até discorrer sobre outro dia 24 de fevereiro, sábado de Carnaval de dois anos atrás. Sonolenta, escorro da cama como mercúrio líquido. Cambaleio até a sala, sento no computador, emails a checar.

Algas, sorridente:

— Dani, seu celular voltou!
— Como?!? (Bateu na porta e entrou, Pedro Bó...)
— A vizinha veio trazer aqui depois que o papai ligou.
— E como está o paciente?!
— Falando, bem, consciente! Eu só desliguei porque você estava dormindo.
— Meu filho, meu filhinho, seremos inseparáveis, agora! Não me importo que você não mande mensagens de texto, que você não seja WAP, nada! Me importa o nosso amor!


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Oitavo.
Quarto.
Segundo.

Acho que a progressão geométrica acabou. Cada um com seu dano correspondente. Acho que a maldição se foi de vez.

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Uh... 24 de fevereiro de dois anos atrás? Dia de quase luto; dia em que os fogos de artifício coloriram as minhas lágrimas de dor. Fale agora ou cale-se para sempre. E eu calei. Calei até novembro do ano passado. Quieta, muda, na espreita, curando o coração. Procurando uma explicação somewhere in my broken heart.

Eu nunca achei. Amor só não justificaria os últimos cinco anos. E tive que engolir flores, babados, convites bregas, festas, bolos, vestidos de noiva. Tudo branco e incômodo, era como estar comendo giz em quantidades obscenas. Branco e incômodo como giz. E os fogos de artíficio do Camarote da Daniela Mercury, que eu vejo confortavelmente instalada na minha cama, só faziam tingir de um vermelho macabro a fazenda de um absurdo pensamento em branco.

Vermelho no céu, vermelho na alma, vermelho nos olhos, olhos que cansaram de deixar cair as lágrimas do amor perdido. Tem dois anos, e naquele dia eu achei que todo pranto tinha cessado.

Como um pensamento que não cala, passei o dia voltando àquele compatirmento do pensamento, tão habilmente escondido por sorrisos, laços e alegria. Até as oito e meia da noite. Fogos, fogos no céu, cinza no coração. Cinzas de rosas trocadas, cinzas dos olhos verdes que um dia foram meus, e que naquela hora fitavam amorosamente um duvidoso arranjo de branco, flores de laranjeira, maquiagem cafona e pouco cérebro.

Mais do que nele, que escolheu o cardápio da própria vida, doeu em mim. Eu, sempre ciosa da minha alimentação, cuidadosa, caprichosa, ao ponto de passar fome em algumas épocas para não baixar o padrão, tendo que digerir quilômetros de tule vagabundo, fitas de cetim, arranjos de papel nacarado. Tudo branco e incômodo, como engolir giz.

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