quinta-feira, janeiro 29, 2004

"Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa,
Ele pode esperar em silêncio,
Num fundo de armário,
Na posta restante,
Milênios no ar
E quem sabe então o Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos"

Futuros Amantes, do Buarque

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Quem conseguir definir amor ganha um beijo.

Pra mim, uma das caras do amor é quando um dos seus amigos mais queridos se manda pra longe, resolve não voltar, e mesmo assim a gente continua fazendo planos para o próximo encontro. Que podia ser no próximo aniversário do tal amigo querido. Que podia ser amanhã.

E a gente continua fazendo planos de um abraço, e a saudade é tanta que o cheiro do Semiac que sempre fica no pescoço dele ainda está entranhado no meu nariz. Os dedos de quem sente falta apreendem a textura do cabelo num carinho imaginário.

Os discos voadores têm passeado desolados por cima desta cidade. Nos nossos planos, era essa a época em que eles chegariam para chorar as mágoas de galáxias outras. Os loucos patológicos andam amuados nos postos de gasolina, sentindo falta daqueles que os ouviam, daqueles com quem eles dançavam forró.

Daqueles, no plural, mesmo. Eu não frequento mais os postos com o mesmo sorriso. Aliás, é tão difícil de me encontrar nos antigos lugares onde andamos. Numa hiperealidade, o Semiac está grudado nas bombas de combustível, nos bolsos do uniforme do frentista, nos bancos dos carros que passam por mim.

Ele, aquele que tanto faz falta, passa por mim em cada daschund, em cada sotaque carioca, em cada sorriso, em cada olho marejado. Ele está comigo como uma materialização daquilo que eu mais quero.

Mais quero, mais sonho. Sonhos que sempre têm um abraço, que sempre terminam com o gosto doce, o cheiro de homem, os planos para o próximo abraço.

Que podia ser no aniversário dele. que podia ser amanhã. Amanhã, que é aniversário dele.

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Feliz aniversário, meu amor!

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