quinta-feira, maio 01, 2003

Aterrar, Daniela, fazer contato com o núcleo da Terra, abrir o chakra básico.

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Uma proposta indecente e ridícula de trabalho.

Indecente porque alguém tem que pagar as contas, e não tem sobrado muita coisa para sair do vermelho, que dirá chegar ao zero.

Ridícula porque eu não acredito que depois de tudo, e olha que a história não acabou, ele ainda pense em mim para produzi-lo. Mas é aquela porra: infelizmente não posso fazer luxo até zerar minhas dívidas. Prefiro trabalhar e ter certeza de que a medida extrema — entrar na justiça — será utilizada caso ele se resolva por atrasar os meus pagamentos.

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— A noite vai ser boa.. De tudo vai rolar...

Não! Mil vezes não! Pelas barbas do camarão, essa música não!

Inevitável. Aeroclube, quase 8 da noite, praça de alimentação. Despojos de uma guerra invisível, eu, minha amiga sem noção, a filha e a neta dela. Exaustas as três primeiras, com a corda toda a quarta e mais nova.

Só os olhos se mexiam. Um músculo a mais, tampouco um músculo a menos. Inerte. Sonolenta.

— Será que o meu signo tem a ver com o seu?

Uma música ao vivo tenebrosa, e quem me conhece sabe que música ao vivo, "um MPBzinho", e eu são duas coisas incompatíves. Eu ODEIO musiquinha ao vivo de bar. Todo mundo tem que ficar olhando, senão ofende os brios do artista, tem que ouvir mais uma vez a seleção Oceano, Se, Dia Branco, Andanças, Lilás e todo aquele vasto repertório de músicas de botequim. Ficamos nós, todos idiotas, tendo que rasgar um sorriso no meio da cara, aplaudir com a mão mole, e rezando (pelo menos eu, quando não dá pra escapar) para ele anunciar que "vamos (ele e o teclado, suponho) fazer um rápido intervalo. Eu volto já! Tchauuuuuu", com o reverbe no último.

— Vem ficar comigo nesta festa genial.

Se no inferno tem rádio, quem abre a programação é "Noite do Prazer"! Essa música é o fim da picada! — e a cara mau-humorada, a voz mais alta me denunciaram: eu estava realmente irritada com aquilo.

Mãe sem noção e filha equilibrada se olham, sem entender o rompante de fúria. Eu continuo ladainhando num tom baixo, só eu me entendo.

— Na madrugada a vitrola rolando um blues — e maldosamente eu me calo. Quero ver ele lançar o "trocando de biquini" que vem a seguir.

— tocando B.B. King — o espírito de porco acertou de propósito, só pra me irritar!

— sem falar... COMO É, RAPAZ? Tocando B.B. King SEM FALAR? Eu nunca tinha me deparado com tamanho "virundum", e olha que essa música é campeã do mundo!

Da rabugice às gargalhadas em 3 lições! Eu sou geminiana, eu posso variar desse jeito. Minha amiga sem noção também é, e embarca nas risadas, enquanto eu tentava, balbuciante, explicar o motivo. Riso de quebrar feitiço, como diz a minha Walkiria Ruiva.

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Arremate

— E não se engane, não: se for pro inferno, vai tocando Jorge "Vacilo" no elevador daqui até lá!

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O que sobrou de mim?

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