sexta-feira, maio 30, 2003

A felicidade é uma noite longa, um copo de leite e um punhado de rosquinhas.

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Um pai enfaixado, um cão que não me reconhece; irmão de amigo fazendo sucesso com a banda, uma nova postura, um tantão de cinismo. Vários episódios novos de Jackass, uma discussão sobre quitina ser polissacarídeo, uma forte menção ao FEBEAPA. Um amigo com diagnóstico de calvície, outro que vacila; uma recém descoberta paixão por Portishead — e sua livre associação com a lascívia. 3 paixões revezadas qual carrossel holandês, inúmeras manchas roxas, um cansaço desumano, cafés da manhã suntuosos, saudade que dói.

Um colar novo. Uma briga. Paz. Um rebatismo: Selma?!

Basta eu ficar 10 dias fora e o mundo muda todinho, né?

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A distância era enorme, e mesmo assim ele veio. Bateu de um lado, tabelou com o outro e, meu Deus, será que ele não vai falar comigo?

Em 10 segundos ele estava com as suas mãos espalmadas nas minhas costas. A voz custou a sair.

— Força! E TOCA BARRAVENTO! Me liga?
— Ligo.
— A gente precisa conversar. Você...
— e bate com o punho fechado no peito. Volta a me abraçar, e deixo que caiam por terra as minhas reservas. Fecho os olhos, braços passados por trás do seu pescoço, cheiro que é meu. Quero dizer, mas a voz não sai.

O abraço se desaz como papel na chuva, teimoso e resistente. As mãos ainda se acham, mas o tempo é curto.

— Aquilo que eu disse no primeiro dia ainda está de pé —, e por um momento de tortura ele não sabe o que exatamente ainda está em vigor. Que o quero? Que sei que me quer? Que ir até a praia antes de voltar pra casa ainda será o NOSSO segredo?

— Minha casa é sua casa.
— Óoooobvio, Selma! Selma? E pode ser que eu...
— e nossas idéias de trabalhar juntos um dia volta à tona. Não foi dessa vez.

Só os olhos confirmam agora o que eu achava que nunca tinha acontecido. Aconteceu, sim, e em momento algum esteve esquecido. Talvez por isso mágoa seja uma palavra mais adequada de que raiva.

Segui com o olhar o traçado que ele deixou nas pedrinhas seculares da calçada. Quando ele sumiu do meu campo de vista, endireitei a coluna dolorida e voltei pro campo de batalha, sem passar mais no assunto.

Minto: como segunda voz de dois cantores, a música latejou na minha cabeça pelo resto da tarde:

"Eu perco o sono e choro,
Sei que quase desespero
Mas não sei porque
A noite é muito longa
E eu sou capaz de certas coisas
Que eu não quis fazer
Será que alguma coisa nisso tudo faz sentido
A vida é sempre um risco
E eu tenho medo do perigo..."

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