quinta-feira, maio 08, 2003

Meus olhos continuam reféns dos dele. Capturados que foram num já familiar shopping center, meus olhos agora se vêem perseguidos pelo azul espectral dos dele. A vida era tão simples antes...

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"I don´t wanna wait in vain for your love..."

Marley, o Bob

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E a promessa de beijinhos na barriga e atrás das orelhas fez com que ela ficasse quietinha.

— Não vai doer, minha lindinha — e se alguém mais te disser isso, não acredite. Dói, dói sim! Mesmo quando tudo dá certo, dói. Dói o ciúme idiota, dói a saudade, dói a presença. Dói.

Mas em mim ela acredita. Continua deitada, olhinhos arregalados, misto de delícia e medo. Cumpro a promessa, e encho sua barriga de beijos. Ela descontrai o corpo, e deixa que a Algas cutuque seus ouvidos doloridos com um cotonete embebido em éter. Dopada eu, dopada a Nana, e acho que a própria Helga já está pra lá de Marrakesh.

— Cachorrinho bom... cachorrinho querido e bonzinho... — e ela parece não se importar de ser chamada pelo gênero masculino. Minha Nana, daschund sem humor, agressiva, fiel, encrenqueira, divertida, voluntariosa. Meu alter ego, espelho no mundo animal.

Estamos quase termiando a limpeza e colocação de remédio nos seus ouvidos. Falta o azeite, e algo me diz que ela vai transformar a cama do papai numa saladeira. Óleo de oliva pingado no ouvido, ela sai espalhando gordura monoinsaturada pela casa toda. Sossega logo depois, aparentemente sem dor, pronta para o sono que a otite lhe roubou durante o dia.

Um olhar agradecido, um abanar de ponta de rabo, até amanhã. E ficamos nós, papai, Algas e eu, olhando como idiotas apaixonados para aquele pretzel de cachorro, enroscadinha em torno do próprio eixo; dormindo tranquila, em cima dos nossos corações.

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