Ele faz de propósito.
— Estou com o seu perfume...
E vem, me abraça, encosta o meu nariz no seu pescoço, deixa tatuado na minha pele o cheiro do perfume que eu escolhi para ele. Chega com o vento, molhado de chuva, me tira do sono, me tira o sono.
Riso malandro, corpo quente, olhos atarrachados nos meus. Dia cinza, malha de lã mostarda, guarda-chuvas preto.
— Vi o seu irmão ontem... Como ele está lindo!
E que tortura ver aquela barba por fazer, combinada com os cabelos espetados em todas as direções, rebeldia que tarda mas nunca falha. Que tortura ver aquelas mãos minuciosas, os dedos longos cuidando de pequenas peças, empurrando o cabelo liso para longe dos olhos, olhos que me perseguem.
Prometido de outras vidas, não adiantou negar que ele já estava por aqui, nesta encarnação: fomos jogados um de encontro ao outro como onda e quebra-mar. Sou capaz de me lembrar da primeira vez que os meus olhos acharam os dele. Dez anos, e se eu soubesse que não me seria possível escolher, teria nos aliviado dessa busca cruel num dia morno de primavera, num saguão de prédio verde, quando os nossos cabelos eram maiores, nossas idades menores, e a fé, infinita.
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Guria volúvel, que começa escrevendo sobre um, envolve o irmão dele no meio, e dá uma guinada no fim, morrendo de saudades de um terceiro. Passageiro da chuva, que vem no trem do inverno, mão que ainda queima o meu braço; olhos pálidos que flutuam no escuro, sorrindo pra mim.
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Mamãe de volta das férias...
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