terça-feira, dezembro 17, 2002

O sonho-pesadelo termina com dois globos coloridos de papel marché, um jantar melancólico, um abraço apertado. Essa é a pior parte de gostar das pessoas: elas vão embora.

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Para terminar minha temporada castelhana, um argentino. E que companhia maravilhosa a dele! Guillermo fez o melhor espetáculo de todo o evento, pungente, tenso, doce, acre, singelo.

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Nightmares and Dreamscapes

Voltando do teatro, caminhando por uma avenida arborizada. Meia noite e muito. Um catador de latinhas vem pra cima de mim com uma garrafa na mão. Atravesso a rua na direção contrária, paro em frente à guarita de um prédio. O porteiro destrava o portão, mas eu não entro. O catador não se aproxima muito, fica olhando, resmungando algo, e continua a andar na mesma direção que eu iria.

Precaução e água benta não fazem mal a ninguém. Abri a mochila, saquei o canivete. Prendo o cabo com o dedão, escondo a lâmina na palma da mão, camuflada no dedo médio. Pronto, agora continuo a caminhar, sem perder de vista o cara. Ele passa atrás de um caminhão. Não sai do outro lado. Oh-Oh... Reduzo o passo, quase paro. Vejo as pernas dele por baixo da carroceria. Quando ele me vê parada, corre atrás de mim. Corro para um apart hotel, dois seguranças à vista. O catador corre atrás, entra no apart. Os seguranças o convidam para sair, ele aceita o convite um tanto quanto relutante. Quando o segurança me acompanha até a rua, olha pra minha mão e vê o canivete.

"Onde raios você aprendeu a segurar um canivete desse jeito malandro?"

A pergunta não é feita, mas a frase seguinte é dita com insuspeita doçura:

— Menina, isso mata...
— É isso que eu quero...


Segui meu caminho. O catador tomou direção ignorada.

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Sim, tentaram me assaltar ontem. Não, não conseguiram.

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Noite de conversas esclarecedoras. Bom não beber, pq posso jogar à vontade. Falei mal sem abrir a boca, sem me comprometer. Arranquei confissões que nem eram necessárias. Eu SEMPRE soube o motivo da minha demissão. Abençoada demissão.

Não é desejar o mal: é contar com a lei da ação e reação. Todas as vezes que ela me sacaneou, em alguma coisa ela foi lesada. Ou quebrou equipamento, ou perdeu dinheiro, ou ... Não, nunca fiz absolutamente nada. Só vim me dar conta de que ela estava recebendo os trocos muito rápido no 3o. ou 4o. episódio. Eu não fiz nada. Mas eu tenho quem olhe por mim.

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