sexta-feira, dezembro 27, 2002

Saí para a praia, acabei num enterro. Fui a uma festa, terminei a noite num hospital.

Coisas que só acontecem com Daniela.

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Eu estou aprendendo a lidar melhor com as mortes. Dói, mas eu consigo pensar com clareza. Morreu a mãe do meu ex-diretor. Baque, ninguém esperava. A Rê sentiu mais a porrada, é muito, muito próxima a ele.

Fui direto da praia para o velório, esse estranho. Passei na casa de um amigo querido, meu companheiro de vagabundagem nas areias, peguei um tênis e uma camisa Pólo branca emprestada. Quando me dei conta, estava toda combinandinha, vestidinha de tenista... Puts, e eu tentando parecer mais séria...

Fiquei completamente alheia à dor dos outros. Preocupada, sim, mas era como se fosse um filme, e eu sentadinha na poltrona assistindo a tudo. As pessoas chegavam, acompanhadas da suas dores, e eu ali, me sentindo meio intrusa — já que passado o impacto inicial, a minha vida continuou fluindo normalmente. Um caso absurdo de insensibilidade, de egoísmo, mas meu carinho pelos que sofriam era genuíno.

Não consigo sentir o que todo mundo sente em momentos de perda. "A vida é um nada", "Somos tão frágeis", "A gente se preocupa por tão pouco e não sabe o que é sofrer de verdade". Não, não concordo com nada disso! A gente sabe, sim, o que é sofrer de verdade, cada um com as suas dores; a gente não é tão frágil assim; e a vida é muito extensa, só que uma hora tem que acabar. Pra nós, que ficamos, nunca seria hora de ninguém ir embora.

Mas as pessoas vão. Seria muito injusto se só nós tivessemos a companhia dessas pessoas que nos são tão queridas. Em outro plano, outras pessoas vão ficar muito felizes em receber a mãe desse meu amigo.

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Muito simples, né, Daniela? Quero ver na hora em que a dor for mais pungente, a perda for de alguém muito, muito próximo...

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Fui pro amigo secreto do pessoal da Resenha mesmo sem ter participado da troca de presentes. Noite bacana, quase despedida de amigos que vão pra longe, uma renovação dos votos de amizade. Uma história complicada começou a se resolver, e para o bem, abraços foram trocados, desejos sinceros de um bom ano novo foram feitos... Noite de paz, enfim.

Paz? Paz completa se o Dani não tivesse terminado de arrebentar o joelho. Vamos nós pra emergência ortopédica as duas e meia da manhã, para o médico dizer que não é nada, que o limite quem vai impor é o próprio Dani. Caracóis!!! ele tem um cisto de 3,5 cm no joelho esquerdo e o médico diz que não é nada??? Por que raios o meu médico preferido não estava de plantão ontem?

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Peço desculpas àqueles a quem não desejei boas festas. Não tenho nada contra o Natal, pelo contrário, mas estou introspectiva. Não ando própria para o consumo humano. Do meu jeito torto, eu pensei em cada um dos meus amigos queridos — blogueiros ou de carne e osso — e do fundo do coração desejei que tivessem o melhor de todos mundos. E não só no próximo ano, mas ao longo de toda, toda a vida.


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