quinta-feira, julho 10, 2003

Samuel

Um erro, e o polianismo fez com que virasse acerto. Um abraço, as velhas brincadeiras de quem me conhece de outras micaretas. Meu amigo querido, baterista da melhor qualidade, amigo. Amigo, o único que me defendeu quando me acusaram injustamente de double face (sou gêmeos mas sou gente boa!). Amigo, sem pudores de ficar abraçado comigo, sem-vergonha, sem vergonha de pedir uma massagem nos ombros doridos de baterista.

Amigo, daqueles que a gente não vê todo dia, daqueles que não têm vergonha de manchar a roupa alheia de lágrimas, mas também não poupa um desavisado da sua risada de dentes madreperolados. Riso de alma; alma meio torta, sim, e mais saborosa ainda por causa dos defeitinhos. Bonito, bonito que nem um pecado, doce, irreverente, ligeiramente inseguro — e tenho certeza de que ele nega isso! Amigo que meu coração não deixava os olhos esquecerem.

Companheiro de folguedos, alma que corre com a minha por campos que os corpos não alcançam. Amiguinho que sopra dentes de leão comigo, e corre atrás de cada pétala ao vento, arrastando a garotinha ruiva atrás de si. Filho dir(L)eto de Vênus, tourinho com ascendente em gêmeos, pequeno Mercúrio, Mercúrio-deus, mercúrio-metal.

Pessoa querida, que encontrei num erro de cálculo e informação. "O primeiro estúdio termina às 7, o segundo começa logo a seguir". Ele era da turma do primeiro estúdio. O segundo, que era o que deveria me interessar, começou, na verdade, às 10 da noite. Sabendo desse delay de 3 horas entre um ensaio e outro, teria eu ido? E se eu não fosse, ia conseguir viver mais um dia sem aquele abraço, sem ouvir aquela voz debochada: "Desliga esse telefone porque eu sou mais importante"?

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Eu não sei pra quê me cubro de expectativas. Deus tem um senso de humor irrepreensível...

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Olhos cansados que volta e meia se procuravam. Achavam, sorriam numa piada tácita, desviavam, para novamente se acharem. Olhos de águas calmas, a paz enfim achada, olhos que jogam as amarras para serem atracados nos outros olhos. Sossego de alma, que sonha em dormir ancorada naqueles braços, porto abandonado para um barco só. Braços-quebra-mar, impedindo a ressaca de chegar; braços que protegem aquele espírito intranquilo dos sonhos maus. Mãos que afagam, sem pedras para completar o vaticínio do Augusto dos Anjos.

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