terça-feira, janeiro 22, 2008

Imperfeito pretérito

O pior não foi a música ao acaso. Pior foi calar tudo, e assim ouvir o ritmo acelerado do coração. Pior foi voltar de duas doses do bourbon, e ainda assim ter a lucidez necessária para misturar inúmeras imagens mentais, para confundir o que já não andava muito bom.

Ou faço qualquer coisa amanhã, ou vou continuar achando que não fui até onde devia ter ido. Em assunto nenhum. Merda.

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Uma conversa com o moço a quem tanto cito, vide fotolog de hoje, e dei numa busca frenética de um texto do Falabella, que eu tranquilamente poderia ter usado ao final daquele mês no paraíso. Um trecho que ilustraria perfeitamente o momento em que eu deixei que ele fizesse a minha vida sair do azul para o negro. E que eu sempre posso aplicar aos dias de hoje.

— O que é pior nessa história toda?

— O pior é deixar de me ver no espelho dos olhos dele — Sarita nem pensou na resposta. Estava pronta, à espreita. — Deixar de enxergar as coisas boas que ele via em mim — ela passou para trás da cadeira, fugiu de meu ângulo de visão e tentei adivinhar o que lhe ia pelo coração, através das modulações da voz.

— O pior é acreditar que a gente não é capaz — ela quase sussurrou. — Fiz tudo o que se pode fazer, quis morrer de fome, enlouqueci, arrastei a cama pra porta do quarto, pra evitar que ele escapulisse na calada da noite, cantei meus boleros, tomei remédio pra dormir — tomo remédio pra dormir — engordei, emagreci, pensei em morte, pensei que tudo podia voltar a ser como antes, depois, percebi que já não conseguia ver nada no espelho dos olhos dele, a não ser o meu próprio avesso.


Miguel Falabella

Finalmente vou conseguir expurgar — e administrar a dor?

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Será que essa ferida nunca seca, nunca fecha, nunca morre? Será que é isso?

Um comentário:

Anônimo disse...

Passa um antiseptico que sara rapidinho...hahahahahaha
te amo
k.