segunda-feira, janeiro 07, 2008

Sobre a vida

Irmamente
Martha Medeiros

Desde pequenos, escutamos nossas mães dizendo: reparte com teu amiguinho. Raios. Você queria o bolo só pra você. Sobrou tão pouco e você ainda tem que dar um pedaço pra esse mané que foi bater na sua casa justo na hora do lanche. Mil vezes raios.

(...) Tudo o que se reparte fica menor.

Fica. Não há controvérsias. O bife fica menor, a herança também. Em compensação, nossa angústia também diminui de tamanho ao ser repartida. Nossa dúvida cai pela metade quando a dividimos com alguém. Nossa solidão pode ser reduzida em 50% se abrirmos a porta para um amigo. A dor pode ser minimizada se aceitarmos que alguém nos segure a mão. (...)

Dividir um estado emocional é bem mais difícil que rachar ao meio uma barra de chocolate. Às vezes trazemos dentro do peito uma tensão que nos anaboliza, e relutamos em acreditar que ela retrocederia se fosse repartida com um familiar, com um terapeuta ou até mesmo com um padre, desde que ele não saísse do confessionário direto para o programa do Gugu. Eu sou totalmente partidária da discrição, da economia de detalhes sobre a vida privada de cada um, mas, em certos casos, confidenciar pode ser um belo exercício para eliminar toxinas e perder peso. Duas confidências por ano e a alma já fica sarada.

Na verdade, estou tentando convencer a mim mesma, pois sou a maior moita. Falo, falo e não conto nada. Escrevo para desopilar um pouco, mas aquilo que existe de mais denso e secreto dentro de mim não revelo sob tortura e nem sob pagamento de direitos autorais. Dificilmente procuro amigos para abrir o coração. Raramente choro na frente dos outros. Não lembro a última vez que entrei numa igreja sem ser para um evento social. Divã, passei por um de forma meteórica treze anos atrás. Decididamente, não sou generosa comigo mesma. Neste ano que se inicia, vou tentar repartir mais. Chega de ser ímpar, de querer resolver tudo sozinha, de privar os outros da minha parte que dói. Em 2000, vou dividir as chagas. Em troca, quero o bife só pra mim.

Janeiro 2000
Non-stop – crônicas do cotidiano

O.o

Roubado da Ana Paula, cujo blog saboreio há tantos anos, e roubado do jeitinho que encontrei. Só alguns grifos alterei, mas acho que inclusive alguns se mantiveram.

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Tour gastronômico


Pizza ontem — mas era para ser comida austro-húngara —, japa hoje. E senti tanto a falta dele...

O.o

Mas com eles, até o caminho da desova da galera é sensacional. Com elas o caminho é suave, o esporro não dói, e as letrinhas roxas cheias de carinho, vindas pelo MSN, são um bálsamo da alma.

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Ando doida fotografando céus, céus de todos os matizes, de todos os azuis. Talvez seja saudade daquele azul ímpar do Rio.

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