A vida é uma arte. Abstrata.
Ontem eu lembrei de você, mais um dos meus pronomes pessoais, meu caso obliquo, pretérito dos mais imperfeitos. Passei na frente daquele restaurante na Boca do Rio onde nos encontramos formalmente pela última vez. Foi uma lembrança fugaz, aerada pela enxaqueca-mor desta que vos fala.
Hoje de manhã, olha só, que coincidência!, assistindo ao programa que minha amiga querida dirige, vi seu nome e seu telefone de contato para shows de uma certa banda. Corri para a minha agenda telefônica, será que é ele? Claro que era, como se eu realmente precisasse consultar algum rabisco para lembrar do seu telefone.
E agora, agorinha, depois de pesquisar o Google inteiro atrás de você — e achar uma notinha de 15 de junho de 1999 —, eis que um vizinho saudoso relança um CD antigo com uma música que você cantava. Parei por um minuto, porque a voz lembra muito a sua. Não era, claro. Era mais uma peça que eu mesma me pregava, peça em dias desleais, dias de saudade do que não foi.
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Eu não sei o que odeio mais: vizinhos ou som potente. Pra quê, minha Nossa Senhora da Paciência curta, pra quê comprar um som com 50 mil watts de potência PMPO, PPOA, PQP? Pra poder mostrar pro vizinho de cinco quadras à frente o novo CD do Milionário e Zé Rico? Pra ver se a sua amiga, que mora em Itaparica, consegue ouvir a balada da Pepê e Neném? Ou para provar que tem colhão de ouro e comprou o som mais potente que trio elétrico?
Por isso Deus não me faz rica. Porque num dia de mau humor, assim, que nem hoje, eu dou dois telefonemas e paro a Maderada da Ivete aqui na frente de casa, tocando três dias e três noites sem parar. Sem a Ivete, claro, que eu não vou dar felicidade a pobre.
Três dias de ópera.
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Por que é que eu tenho um blog em alemão nos meus favoritos? E por que eu insisto em decifrá-lo?
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