sábado, junho 21, 2003

Um "swell" havaiano chega e transforma minha alma em ondas, crispadas vagas que batem contra os meus arrecifes internos. Festa de cores escondidas pelo monocromo azul, corais em tecnicolor que esperavam apenas uma réstia de sol para mostrar tudo o que são.

Eu. Eu, que queria tanto ser um dente de leão, para estender os braços para o sol, enquanto giro louca, destemida, feliz, carregada pelos braços do vento. Eu, que queria ser o próprio vento, para tocar o rosto de alguém muito amado, como um beijo que vem de surpresa. Eu, que queria ser o sol, e poder abraçar toda a superfície do corpo querido, esquentando, acarinhando, como um lençol de miríades douradinhas. Que queria ser fogo, que queria ser furacão, que queria ser anjo, que queria ser amada.

Eu, que queria ser não uma única estrela, mas toda a constelação. A constelação do signo do homem que amo, para ter no meu brilho as respostas para o destino dele. Para poder ser consultada todos os dias, misto de fantasia e temor, sobre o que há de melhor a ser feito. Constelação de uma casa zodiacal, para ter na minha pele-estrela a história da vida dele.

Eu, que queria ser uma lágrima, um pensamento; uma dor, um amor. Eu, raio que nunca fui, que chega sob a égide do medo, do respeito, do fascínio. Inaprisionável raio, indomável raio, etéreo raio. Eu, que sou apenas eu. Eu, que descubro, a cada passo dado, o quanto é difícil ser apenas uma. Antes fosse múltipla. Antes não fosse eu mesma.



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