segunda-feira, junho 09, 2003

Uma das mais lindas maneiras de se distribuir amor é cozinhando. Você pega um punhado cru, feio, seco, e transforma num bom motivo para estar juntos, num pretexto para celebrar.

Ele, além de especial, além de doce, de sensivel, além disso tudo, ainda cozinha. Mas nao é um cozinhar qualquer. E um cozinhar com amor. Nao um amor qualquer: muito amor.

Cada garfada na pasta ao pesto deixava evidente o carinho com que foi feito. Festa para o paladar, festa para os olhos, que foram presenteados com as cores fortes e os tons pastéis de uma salada, explodindo nos seus vermelhos, verdes e amarelos.

Domingo que nasceu cinzento, dia cujo azul do céu se rendeu e veio comemorar conosco. Tarde que pôs a ressaca a nocaute, que elevou a alma, que fez rir, que agregou. Domingo que terminou com açucar e mais afeto: torta que prometia um conforto para as papilas, e que nos presenteou com um sabor levemente acre. Boa surpresa para a lingua, que esperava a suavidade do chocolate, sem nunca imaginar que o azedinho do limao pudesse estar por perto.

Sabores dispares que formavam combinaçoes surpreendentes, e acredite: nao estou so falando da torta de limao com chocolate. Estou falando de gente, de pessoas de fés, cidades e profissoes diferentes entre si, mas que funcionam como uma boa receita: junte todos os ingredientes, misture delicadamente, va para o canto da sala e aguarde. O resultado é o que se viu ontem: uma massa de gente feliz, crescendo. Como uma boa massa de pao.

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Tarot na casa da minha Valkiria Ruiva. Escolhas, decisoes, e as cartas voaram ao vento, levando junto meu calor, meu endereço. Noite de mulheres fortes, de mulheres sensiveis, de volta pra casa em 80 minutos. Jogo anotado, porque algo no sistema elétrico-emocional da minha "biomachine" entrou em curto: nao me lembro de uma virgula do que foi dito de especifico.

Voltei pra casa flanando, livre do peso que me ia nas costas. Carregada pelo vento frio, braços dados com a delicia, ombros desnudos, e nao é que essa temperatura amena esta uma delicia? Cinco minutos de caminhada, e o dia foi passado em revista, ja com uma ponta de saudades. A conversa no corredor do prédio, com as risadas multiplicadas por dez pelo eco das paredes; o vinho tomado na mesma taça, partilha de amor; o clip da receita na televisao; "you can dance, you can jive, having the time of your life". Having our time.

Onibus, casa, welcome to the jungle, baby. Se nem tudo pode ser perfeito, deixei que voltar para a "casa dos outros" fosse o anticlimax do dia. E mesmo assim resolvi na me deixar abater: inspirada pela cozinha amorosa dele, me presenteei com o melhor creme de feijao que posso ter feito um dia. Feijoes, que ativam o nosso centro das vontades. Feijoes, que me devolveram os sonhos bons de um dia real.

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Hora de colocar a vida em ordem. Hora de passar o defrag no HD pessoal, recolocar as pessoas em seus devidos clusters. Cada macaco no seu galho, para acabar com o lirismo hi-tech. Chega de energias conflitantes, de pessoas que nos vampirizam, de pessoas que querem que Daniela se exploda pra poder comer churrasco de palhaça.

Chega! Pessoas queridas, vamos fazendo fila para a distribuiçao pelos grupos. Para o grupo de amigos, fila da direita. Para o grupo de familia, nao peguem fila: façam um bolinho de pessoas ai no canto que a gente ja conversa. Contatos profissionais, caminhem em linha reta até a beira do precipicio. Nao, so parem de caminhar quando eu mandar.

— Ainda estao me ouviiiiiindo?
— Hein??????
— Parem agooooora!
— Heeiiiiiiiiiiiiiin...


Ploft.

Bom, eu avisei que podia parar...

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Para o dono desse blog saborosissimo : ja deu tempo para passar a vida a limpo umas três vezes.

Volta, Herbert, volta! Seu texto é delicioso!

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