A vida estava muito tranquila sem ele. O ano que está acabando somente agora deu seu golpe de misericórdia.
Um envelopinho no canto direito inferior da tela indicava a chegada de uma mensagem.
— Humpf... JB online, AS.org, ou um outro spam qualquer...
Rá! Eu poderia viver mil e quinhentos anos, e jamais, jamais imaginaria que o nome desse que me arrancou tantas lágrimas estaria na linha de "remetente"!
O corpo da mensagem o deixava mais próximo de mim do que esteve nos últimos anos. Ele não muda, e olha que o julguei morto no meu íntimo. Como matar um grande amor, porém? Como calar aquela voz meio rouca? Como apagar a lembrança dos olhos cor de avelã derretida? Como esquecer...?
Tantas texturas e sabores e cheiros, e novamente me encontrei impregnada dele, do seu cheiro de madeira com tabaco, dos seus cabelos em ouro velho. 14, 15 linhas de mensagem, email banal, e estive novamente sentada no meio da rua com ele, noite escura, conversa que preencheria uma vida e meia.
Amor que me tirou do prumo, que me levou a cometer os atos mais insanos da minha biografia. Amor que derrubou no primeiro round, e ainda assim segui espectral por todos os outros assaltos. Amor cataléptico, que acordou por alguns minutos, para adormecer novamente. Sono mais tranquilo, agora. Ele dormindo, eu em vigília, mas ambos em paz.
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A verdade vem da boca dos pais (e dói)
— Eu vou fazer cirurgia espiritual no joelho.
— Ei, eu queria operar os olhos espiritualmente!
— Boa idéia, Dani! Vou ver isso pra você!
— Eles podiam aproveitar e operar os meus joelhos, a coluna, o estômago...
— Dani, o espiritismo não é a favor de milagres...
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